#86 - Escrever sobre qualquer coisa
Essa não é uma newsletter de carnaval. Nem de SuperBowl.
Desde quando comecei a escrever com mais freqüência, percebi que qualquer coisa pode virar texto. Qualquer coisa mesmo. Quer ver?
Estou vendo um estojo aqui na minha frente. A partir dele posso falar dos meus anos escolares, de como eu amava escrever com canetas coloridas nos meus cadernos.
Era tanto capricho, tanto esmero, que um professor às vezes pedia para xerocar. E eu sempre gostei disso. De ser a certinha. A CDF. A que se destacava e que dava orgulho aos pais. Ria muito quando eles eram chamados na escola porque minha irmã tinha aprontado. Sentia-me superior, com minhas notas e bom comportamento. Anos depois vejo com mais clareza: ela se divertia enquanto eu ganhava nota 10 e uma gastrite.
Mais um exemplo?
Pedi pro meu filho me falar alguma coisa. Ele disse: “socos consecutivos". Difícil, não é? Vou me esforçar.
Os anos de solteira eram difíceis. Tive alguns primeiros encontros, que eram excelentes pretextos para conhecer novos restaurantes, mas meu ascendente em câncer me complicava a vida. Eu me apaixonava muito fácil. A partir daí, o celular ficava gasto, de tanto que eu abria e fechava o flip, em busca de uma mensagem ou para certificar-me que havia sinal de rede. Nada. O estômago embrulha mais que tarde de sábado depois da feijoada e o coração dá socos consecutivos dentro do meu peito. Quem ele pensa que é?
Esse é um exercício muito legal, seja para exercitar sua escrita, a criatividade ou para começar uma newsletter sem inspiração, como a de hoje.
Que tal tentar fazer isso aí? Pegue o primeiro objeto que estiver na sua frente e escreva qualquer coisa. Você vai ver que as ideias fluem!
A Ana Holanda, mentora da Comunidade de Escrita Afetuosa que faço parte, fala muito sobre isso. Sobre começar de um lugar qualquer. Uma vez, em uma aula, ela pediu para pegarmos a última foto do nosso celular e escrever sobre aquilo. A minha era uma boneca velha, que alguma amiga da minha filha havia esquecido aqui em casa e que e eu fotografei para enviar para a mãe da criança.
👉🏼 Saiu esse texto aqui:
É um processo muito doido. A gente começa a escrever e acaba vendo crônicas em todos os lugares. Óbvio que não dá pra escrever tudo. Muitas vezes, entre arrumar a lancheira das crianças e mandá-los escovar os dentes 17 vezes, vem uma ideia na cabeça. Mas ela se esvai antes mesmo do tchau bom dia boa aula.
E nessa loucura de dizer que quero escrever, acabei topando entrar para um projeto muito legal, junto com 21 outras mulheres do meu curso de escrita. Estamos publicando uma coletânea!
Vai ser a minha primeira publicação. \o/
Eu nunca soube como funcionava esse negócio de publicar livro, então tem sido uma experiência muito enriquecedora. O mais difícil até agora tem sido encontrar consenso entre as 22 autoras. O título que umas gostam e outras não, a revisão que substituiu todos os “pra” por “para” e a editora não concordou com todas as alterações, a quantidade de livros que vamos encomendar para o lançamento e por aí vai. Isso que nem chegamos na capa.
Nessas, aprendi duas coisas: que a função “enquete” do WhatsApp vem a calhar e que a editora tem que ter pulso firme.
Estamos trabalhando com a Cris Rodrigues, da Editora Vasta e autora do livro Vastidão, finalista do Prêmio Jabuti de 2023. Ela nos dá alguma flexibilidade, mas foi enfática desde o começo: “tem coisas que eu vou decidir e vocês não vão ter nem opção de voto”. Se não é assim, acaba virando uma zona.
Quer dizer… Pensando bem, as 22 mulheres são mais civilizadas que muito grupo de família, em que o que não faltam são muitos socos consecutivos. Rá! Usei de novo!
E o marketing, Andrea Cristina?
Falei de livro, falei de escrita, só poderia falar aqui nesta seção de uma pessoa que ganha muito dinheiro com livro. Não estou falando de J.K.Rowling (poderia), mas de Reese Whiterspoon.
A legalmente loira aproveitou bem seus anos em Harvard (ah vá que você não pegou a referência) e lançou toda uma empresa a partir do seu clube do livro.
A Hello Sunshine é hoje a empresa queridinha de Hollywood. Muitos dos filmes ou séries produzidas vêm do Reese's Bookclub, que tem mais de 2 milhões de inscritos.
Eu acho isso muito incrível, sabe? Você tem lá seu clube do livro. Lança o desafio de um livro por mês. Todo mundo lê e debate. Aí você, como produtora, fica sabendo se o livro fez sucesso ou não. É quase como um grande focus group e um excelente termômetro para as próximas produções.
Para participar é só se inscrever na newsletter ou acompanhar as redes sociais. Todo mês sua escolha de livro e a prerrogativa é sem pre a mesma: escrito por mulheres com temas bem femininos.
De lá saíram Daisy Jones And The Six (amo e não acredito que eles não sejam uma banda na vida real), Big Little Lies e Little Fires Everywhere, outras duas excelentes séries. Gosto mais da Daisy. Se você também, me chama pra gente falar da série. E das músicas. E do Billy.
Foco, Andrea! Desculpa.
Qual a estratégia do clube do livro fenômeno de audiência e indicações ao Emmy? Vou arriscar alguns:
Influência, afinal, estamos falando de Reese Whiterspoon, que protagonizou a tantas comédias românticas que a gente ama.
Comunidade engajada, que lê junto, troca ideias e que, depois, vai ser audiência para o filme ou a série derivada dos livros. Não esquece de me chamar pra falar de Daisy Jones, hein?
Sem custo. De graça até injeção na testa. Queremos a comunidade!
Multimídia, como o mundo todo é. Quem aqui consegue assistir TV aberta sem acompanhar o “Xuitter”? Eu não consigo.
Parcerias, parcerias e parcerias. Estamos na era das collabs e Reese faz collab com todo mundo. Editoras, vinhos, carro (que vem com o app da Hello Sunshine para audiobooks) e até o Google.
Dar voz às mulheres na literatura. Tão tendência. Tão FUVEST. Tão necessário.
Não aprendi dizer adeus
🏈 Pra não dizer que não falei do SuperBowl (que é domingo), coloco aqui as edições passadas sobre o big game. Relendo-os, percebi que minha escrita mudou MUITO ao longo do tempo. E essa newsletter também.
A de 2023:
A de 2022:
E a primeira, de 2021. Caraca! Faz tempo que estou aqui…
🏈 Pra não falar que não falei do SuperBowl 2: adorei o teaser do comercial da Uber Eats. Ele brinca com a parte do documentário do Beckham em que sua esposa, Victória, diz que eles eram da classe trabalhadora inglesa. Beckham ri e pede pra esposa dizer com qual carro o pai a levava para a escola. Se você assistiu, vai entender:
🏈 Pra não dizer que não falei do SuperBowl 3: os anunciantes do SuperBowl adoram um teaser. Se você não faz o seu teaser, você está mesmo anunciando no SuperBowl? Veja sobre os teasers para agradar a audiência neste texto do Marketing Brew (EN)
Mas deixo você ir
É hora de rasgar a fantasia. Por o bloco na rua.
E, seja na pipoca, camarote, bloco, baile ou sofá, muito axé pra vocês!
Até a próxima semana.
- Andrea
PS: acabei falando de SuperBowl…
VAMOS FALAR DE DAISY JONES hahahaha! Eu devorei o livro e a Taylor Jenkins Reid tá sendo uma das minhas autoras preferidas da atualidade.
Também queria demais que fosse uma banda de verdade (The River foi a minha música mais ouvida no Spotify em 2023 😂)
Você sabia que a atriz que interpretou a Daisy é neta do Elvis Presley?
Amei muito essa edição!
tem uma cumbuca na minha frente. acho que começaria meu texto por essas palavras maravilhosas que a língua portuguesa nos dá.