Uma crônica
“Fernanda, essa boneca é da Julia"?
Não era. Julia, amiguinha da minha filha, perdeu a boneca. A mãe me perguntou se havia ficado em casa. Vasculhei a caixa de brinquedos e a única “neta” que não era minha era uma boneca de corpo de pano bem surrado, com a cabeça de borracha, tranças loiras já se desfazendo e caolha.
“Mariana", chamei a pequena, “de quem é essa boneca"?
Ela não sabia. Nunca a tinha visto antes. Na falta de um dono, sugeri que a adotássemos.
“Mas e quando a mãe dela aparecer?", indagou-me preocupada a menina.
“Quando aparecer, nós a devolvemos. Enquanto isso, cuidamos dela".
“Ah mamãe, não quero devolver. Se eu vou cuidar, ela é minha".
Calei-me, sem argumentos, enquanto a via se distanciar de mim aos pulos com a boneca nas mãos.
Pensei em todos os cuidados que tenho com ela e com o irmão desde que estavam na barriga. Segui a dieta mais rica em nutrientes, mesmo não gostando de legumes. Dei a luz respeitando seus momentos de virem ao mundo. Amamentei com dor, com febre, com sono, em livre demanda. Troquei fraldas e mais fraldas. Aliás, perdi o nojo de cocô de bebês por eles. Aliás (mais uma vez), vasculhei cocô atrás de um dente de leite engolido. Passei noites e mais noites em claro, embalando-os e ninando-os. Ainda passo, quando me solicitam ou fogem para o meu quarto após um pesadelo ou desconforto.
Pesquisei escolas e aprendi sobre metodologias pedagógicas. Beijei os machucados. Sentei-me com eles para brincar. Contei as mesmas histórias milhares de vezes. Ouvi a mesma música outros milhares. Ouvi suas histórias fantasiosas e elogiei as incompreensíveis garatujas. Acolhi. Acolho. Acolherei.
Continuarei fazendo de tudo para cuidar dos dois, até chegar o momento de devolvê-los ao mundo, ao lugar onde eles pertencem, às suas próprias vidas sem minha constante interferência.
Entendo você, Mariana. É duro cuidar e devolver. Mas a verdade é que a gente só finge que devolve e continua cuidando em todos os nossos pensamentos e orações.
Uma campanha
Hoje vamos falar sobre a campanha global que a agência Dark Kitchen Creative fez para BabyDove nesse período de dia das mães, com o nome “Under Pressure".
Ela fala sobre as pressões do puerpério, um assunto que ainda é pouco comentado e que precisa de atenção e cuidado.
A campanha (mais detalhes sobre ela AQUI) ficou linda, isso é indiscutível, mas quero aproveitar o seu ganho para falar de construção de marca baseada em valores.
Você já reparou na consistência da mensagem que a Dove tem passado ao longo dos anos? Sou antiga, então me lembro bem do início da marca, que começou nem me lembro quando com uma campanha que dizia algo como “seu corpo merece esse carinho” e abordava características físicas do sabonete, como sua forma curva, que desliza com facilidade e suavidade de sua textura cremosa com 1/4 de creme hidratante (viu como marcou?).
Os anos se passaram e o carinho passou da sensação do próprio produto na pele (uma coisa física) para o amor próprio, bem no estilo hierarquia de necessidades a la Pirâmide de Maslow.
A marca estimula a aceitação da beleza de cada um já há alguns anos. A abordagem intitulada “Beleza Real” tem trazido relevância para a marca, que abraçou essa causa e, assim, se destacou no disputado setor da beleza.
Na campanha do dia das mães, a Dove usa a mesma estratégia: marketing de causa.
De acordo com um estudo feito pela própria marca revela que a pressão do pós parto afeta 7 entre 10 mulheres. Essa pressão que a nova mãe se impõe pode levar a graves problemas de saúde mental, como ansiedade pós-parte e depressão pós-parto.
Mesmo assim, a maternidade nas redes sociais ainda é romantizada. Prova disso está em pesquisas que mostram que 85% das mães concordam que o primeiro ano de maternidade não é nada parecido com o que elas veem nas mídias sociais.
Diga-me então, caro leitor, se a Dove tem ou não tem sido bem constante na sua comunicação e construção de imagem de marca ao longo dos anos. Qualquer corpo é lindo e merece carinho, respeito e acolhimento. Inclusive o corpo de uma mãe no pós-parto.
Um movimento
Voltar a trabalhar depois dos filhos é uma barra. Tem empresa que não acolhe bem a mãe recente e tem mãe que não aceita mais a carreira por culpa ou acreditar que, pra ser boa profissional, não dá pra ser boa mãe e vice e versa.
Por isso que a Filhos no Currículo é mais que uma consultoria para promover o acolhimento nas empresas. A Filhos no Currículo é um verdadeiro movimento, que estimula as pessoas a incluirem seus filhos em seus “resumés" (dá uma olhada na página da empresa no LinkedIn).
“Ai, nada a ver".
Nada a ver? E as diversas habilidades desenvolvidas na maternidade? A paciência de Jó, a tolerância, a escuta ativa, a flexibilidade… Ah, a flexibilidade… Eu, toda virginiana, toda planejada aprendi a recalcular a rota tantas vezes que não sei nem contar…
Mãe é uma potência, põe isso na sua cabeça, seja você homem ou mulher.
E coloque já seus filhos no currículo.
Um perfil
Como sou muito xóvem (an-han), vou indicar aqui hoje um perfil do TikTok que tem várias piadas com o comportamento tão similar das mães brasileiras e que me faz rir alto: o do ator e humorista Glauber Cunha.
Eu adoroooooo! Fora que entrar no TikTok parece que faz a gente rejuvenescer, né?
Como não consegui incluir nenhum vídeo aqui, você vai ter que ir lá mesmo.
Pra terminar, quero dedicar essa newsletter à minha mãe, que acabou de me falar que comprou mais um presente para as crianças, mesmo eu pedindo pra ela não fazer mais isso, que os bichinhos estão ficando mal acostumados. Te amo, mãe!
A você: obrigada por ler até aqui, um excelente final de semana e até a próxima!
Um abraço,
- Andrea
(PS: para falar comigo, apenas responda esse e-mail ou escreva para andrea@ideaonline.com.br)
👩🏻💻 curadoria de conteúdo e textos por Andrea Nunes, empreendedora, marketeira, curiosa e aspirante a escritora.
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para variar, amei ❤️
Amei! Hj compartilhei um monte! Feliz Dia das Maes, Dea! 😘