Ela sempre esteve lá. Olhava-me toda vez que eu passava por ali. Eu a ignorava. Sentia seus olhares, julgando-me. Que gorda, ela devia pensar. Parecia que sabia do meu problema com minhas coxas grossas. Nunca o confessei, mas ela sabia, tenho certeza.
Um dia ela me chamou. Cheguei hesitante, tímida, devagar. Insegura. Chorando de má vontade por estar ali. “Não estou lhe obrigando”, ela disse. Eu sei. Estou aqui porque quero. “Então por que chora”? Porque odeio você.
Com ódio, subi em sua esteira rolante e, aos poucos, aumentei a velocidade do nosso encontro. A cada passada, as lágrimas se faziam mais fortes. Mesmo assim, não recuei. Queria acabar logo com isso. Eu tinha quarenta minutos e precisava ser produtiva. Fazer mais em menor tempo. Mas o cronômetro digital ali na minha frente mostrava os segundos movendo-se em câmera lenta, enquanto eu suava e ofegava.
Por que me submeto a isso?
Meus pensamentos vagavam entre a revolta e a resignação. Mas sou resiliente. Não desistiria fácil. Encarei o monstro e só sairia de lá com o dever cumprido.
E assim foram passando os quilômetros. Terminei o primeiro chorando lágrimas de sangue, mas no segundo, tinha apenas seus traços escorridos na bochecha marcados, quase secos. O terceiro quilômetro me tirou um meio sorriso. O quarto foi marcado pelo compasso de “Olhar 43” que saía dos fones de ouvido em alto volume e me fazia cantar alegremente. Mas o quinto foi o quinto dos infernos. A ansiedade em terminar a sessão hamster de laboratório consumia mais da minha energia que o exercício em si. Não acabava nunca.
Tentei não me perder na respiração ou concentrar-me na música, mas nem o tempo, nem a quilometragem no painel pareciam se alterar. A vitalidade que havia ganhado no quilômetro anterior havia se esvaído. Restava apenas o desespero e minha teimosia em não desistir.
Por que me submeto a isso?
Finalmente o fim. A sensação boa de dever cumprido se misturava ao ódio que eu sentia por aquele aparelho de tortura. Tortura moderna que chama.
Olhei para as minhas pernas. Elas continuavam grossas. Quantas vezes eu teria que me submeter àquilo para afiná-las? Não sei. Três vezes na semana? Provavelmente. Valeria a pena?
Essa é a questão de um milhão de dólares: vale a pena?
Já havia passado por esse ritual vezes suficientes para aceitar que não nasci para isso. Não tem como gostar de algo que a gente faz chorando. É para ser prazeroso, mas não é. Estou sempre me perguntando onde foram parar as endorfinas que deveriam me deixar doidona. Cadê as endorfinas?
Fui-me embora. Passei a ignorá-la novamente. Ela continua a me julgar, mas já não ligo mais. Que julgue. De vez em quando, ao chegar na academia, percebo que ela me encara. Mas estou mais forte. Ao invés de desviar o olhar, encaro-a de volta, beijo meu ombro e digo: “detesto correr”.
E deixo as coxas serem grossas.
E o marketing, Andrea Cristina?
Essa campanha da Nike é genial ou não?
Eu acho genial. É o tipo de ação (chamada de marketing de guerrilla), que passa a mensagem que precisa passar. Se você estiver correndo por ali então, será que você se senta no banco ao lado ou é motivado a continuar?
Masssssss… será que se você estiver cansado, o banco ao lado ocupado, você vai amar ou odiar esse banco?
Deixo você com essa sutileza entre motivação e irritação que essa peça nos traz.
Não aprendi dizer adeus
Hoje eu quero falar de corrida.
Você percebeu o quanto o esporte está na moda? Já foi in, depois ficou meio out, mas agora é in de novo. O Google registrou um aumento expressivo por “corrida” em suas buscas em junho de 2023 e, desde então, o termo continua subindo.
Deve ser mesmo verdade. No meu Instagram, as pessoas não jogam mais beach tennis, elas treinam para correr uma maratona. É desafio pessoal pra cá e superação pra lá, parte da chamada Running Era. Cadê as pessoas que jogam beach tennis?
Aproveito para indicar aqui algumas coisinhas:
🎤 O podcast dessa semana da Marcela Ceribeli, o Bom Dia Obvious, que fala sobre corrida e é patrocinado pela Nike Run. Rá!
📚 Dica de livro do meu marido maratonista: Correria, do jornalista Sérgio Xavier Filho, que uniu a paixão pela corrida ao seu talento para contar histórias. “São relatos emocionantes de provas mundo afora e insights sobre variados aspectos do universo da corrida de rua”.
🏃🏼 Forrest Gum da vida real: um maratonista britânico conquista desafio épico: Correr toda a extensão do continente africano. Tem doido pra tudo, veja aqui.
E, por fim, minha playlist de corrida, para quem quer correr ouvindo músicas completamente aleatórias. Tem musical, rock, pop… Até Olhar 43 está lá!
Mas deixo você ir
Mas sem antes te dizer que eu AMO festa junina e junho é praticamente o meu mês favorito, só pelas bandeirinhas, o quentão e a quadrilha.
Festa Junina foi até tema de uma edição da newsletter! Olha só:
A menina da foto, toda sorridente na quadrilha, sou eu, mas, nesse fim de semana vou ver meus filhos dançarem e posso te dizer que fico igualmente alegre.
Até a próxima!
Um beijo,
Andrea
E eu que tomo CHOQUE! É inexplicável! Já mudei calçando, roupa, não adianta. Depois de uns cinco minutos é só tocar no painel, no corrimão ou em alguma pessoa (quase matei um professor da academia de susto), é choque na certa. Ja não basta detestar aeróbico, tem que tomar choque hahaha.
Minha dica de ouro: aposta no elíptico e coloca uma série pra assistir no celular. Depois me conta 😂
Nunca vale a pena! Kkkkkk tô a procura da endorfina tb e não achei viu! Se encontrar mande lembranças!