Sou uma admiradora de gente focada na alimentação e nos exercícios. Meu marido é um deles. Faça chuva, sol, neve, tornado, El Niño e o escambau, ele está lá, firme e forte, fazendo seu treino.
Tenho uma amiga que é a força de vontade em pessoa. Vai todos os dias na academia e gasta mil calorias em jejum. Em jejum, pega essa! Ela é demais.
Estes são meus exemplos mais próximos, mas é só você rolar seus stories do Instagram por alguns minutos pra encontrar mais gente postando foto da academia e do relógio digital marcando as calorias gastas.
Tem dias que isso me inspira e eu fico um diabinho da Tasmânia. Ou vou que nem louca correr no parque, esquecendo-me que eu não corro, o que me deixa com dor nas panturrilhas por 3 dias, ou faço mil resoluções: vou correr, cortar o doce, o carbo, o álcool e a alegria. Mas na manhã seguinte, ao invés de ir pro parque, vou pra yoga.
Mas tem também os outros dias. São aqueles que eu, com 43 anos recém completados, comendo suspiro enquanto rolo a tela do celular, não consigo deixar de me comparar. Nestes dias bate uma tristezinha, uma sensação de “não consigo” e uma vontade louca de comer o saco inteiro de suspiro. De raiva.
Dia desses, deitada no meu tapetinho, esperando a yoga começar, fechei os olhos e a primeira coisa que me veio na cabeça foi: “essa aula deve queimar só umas 150 calorias, deveria ter ido correr". Imediatamente me dei conta do que estava se passava pela minha mente e dei um jeito de falar pra mim mesma: “foda-se". Recado absorvido, prática deliciosa, banhão depois e energia pro dia inteiro.
Mas convenhamos, eu não precisava ter pensado nas calorias. Que saco que é estar presa a isso! Faço terapia há uns 6 ou 7 anos e ainda me flagro tendo alguns padrões de comportamento não condizentes com a pessoa bem resolvida que tento ser. Por que é que as bolinhas do meu Apple Watch têm que me importunar tanto?
“Se te incomoda, vai correr", diz a voz da minha cabeça, que é estridente como uma bruxa de desenho animado.
Não quero correr. Não quero fazer funcional, spinning motivacional, cross fit, boxe e muito menos body attack (que fiz uma vez achando que era uma luta e me senti pulando atrás do trio elétrico).
Eu. quero. fazer. yoga.
“Então, Andrea querida, você que lute”,
Por que será que não consigo ficar 100% feliz só com o que eu gosto, mesmo que não seja a atividade mais queimadora de calorias do universo?
Aqui cabem diversas discussões, que vão desde a relação entre redes sociais e distorção de imagem, os padrões criados pela indústria da moda, o patriarcado (hi, Barbie!), até saúde mental, mas não vou entrar em nenhuma delas. Vou falar sobre comparação.
Eu sei que as redes sociais são apenas uma micro fatia da vida das pessoas. Sei também que a comparação faz mal. Mas, dependendo do momento que estou passando (ou da época do mês), acaba sendo inevitável.
Então, entre cortar o pão e Nutella, decidi cortar as redes sociais. Não deixei de entrar, consumir conteúdo ou postar, mas diminuí o tempo online e tenho preferido o feed aos stories, no caso do Instagram. Vejo muita coisa de arte digital, vídeos de ballet e sapateado, Reels de cachrríneos fofíneos e memes.
Também diversifiquei as redes. A minha preferência hoje vai para o Substack, como falei na edição 68 desta newsletter. Tem dado certo. O iPhone disse que eu diminuí meu tempo de uso em 9% de uma semana pra outra. Acho que isso é um marco na minha vida desde o Orkut.
Mas a verdade é que acho esse negócio de comparação nos dias de hoje uma coisa muito cruel.
Eu, que vivi minha adolescência nos anos 1990, só tinha como base de comparação as meninas da escola. Já era difícil. Hoje, com mais de 40, metabolismo mais lento e dor no joelho, tenho até a Débora Secco aparecendo todos os dias pra me atazanar.
Não sigo mais a Debora Secco.
É por isso que quando eu consigo desligar essa chavinha e me entregar ao exercício que me dá mais prazer independente da quantidade das calorias que ele consome, me sinto muito feliz. A mestra suprema da arte de não contar calorias. Praticamente a deusa indiana da aceitação. Você entendeu.
E o marketing, Andrea Cristina?
Enquanto a gente se compara com a Debora Secco e chora por 20 dias seguidos (não faço mais isso), no marketing existe a publicidade comparativa.
De acordo com o Meio & Mensagem, publicidade comparativa “é uma estratégia de marketing que reforça como determinado produto pode ser diferente ou superior a outro”.
Os melhores exemplos disso são as eternas brigas entre Coca-Cola e Pepsi e McDonalds e Burguer King.
Pra mim, que não tenho nada a ver com isso, a batalha publicitária entre os gigantes é puro entretenimento, mas para as empresas, pode ser bem ruim. É por isso que existe regulamentação na publicidade.
Para fazer publicidade comparativa, as empresas precisam sempre estar atentas para vários alguns pontos. Vou destacar apenas dois deles aqui:
A empresa precisa ser verdadeira na sua promessa de valor e não mostrar nada que não possa ser comprovado.
A mensagem não pode ser abusiva.
Dito isso, vou te dar um exemplo que acabou bem mal. Lembra daquele comercial do Guaraná Antártica, que o garoto-propaganda mostrava uma plantação da fruta guaraná e dizia: “agora pergunta pra Coca, qual é a árvore da coca”? Foi tirado do ar pelo Conar.
Esse era um anúncio dos anos 90. Se você não se lembra ou não era nem nascido, resolverei isso agora:
Aí não, né Guaraná? Conarzão foi lá e acabou com a graça, mas a mensagem ficou, tanto que eu me lembrei dela 20 anos depois e às vezes até me pego me perguntando “qual é a árvore da Coca?". Sim, eu penso demais. Mas é um tipo de marketing agressivo e de impacto. Não sei se eu arriscaria.
Um grande tiro no pé foi a campanha da Microsoft de 2012, quando eles lançaram a página Scroogled, que difamava o Google, dizendo que o buscador utiliza os nossos dados para nos espionar.
A campanha foi um tiro no pé porque não conseguiram desbancar o Google, o Google, por sua vez, ficou na sua e não deu nenhuma resposta e a Microsoft não teve alternativa senão tirar a página do ar.
Para não cair nesse tipo de cilada, a propaganda comparativa tenta ser bastante sutil, utilizando-se do humor para mostrar a superioridade de seus produtos frente aos concorrentes. Só que às vezes os concorrentes podem muito bem responder à altura.
Por último, quero te perguntar se você sabia que às vezes as empresas podem utilizar a publicidade comparativa para branding?
Um dos exemplos mais legais que eu conheço é o da Audi, que precisava ser reconhecida como uma empresa do segmento de luxo, mas que não tinha uma característica específica que a definisse, como seus concorrentes.
Como resolver isso?
Veja aqui abaixo.
Vários outros exemplos aqui no blog da Rock Content.
A boa comparação também existe
Chama-se “benchmarking”.
Minha amiga das mil calorias, por exemplo, é meu benchmarking. Outro dia gastei mais de 800 e mandei uma foto do meu relógio pra ela. A gente faz benchmarking com quem é nossa referência. Minha amiga é minha referência. A Debora Secco é utopia.
Quando a gente faz benchmarking, a gente compara não só resultados, mas estratégias. Querer ter o corpão da minha amiga requer algumas delas. Deixa eu ver o que ela faz e quais ações consigo adaptar para a minha vida. Hum… ela não come doce. E se eu me permitir o doce só uns dois dias na semana? Acho que dá pra adaptar minha estratégia pra chegar mais perto da minha referência, mesmo fazendo yoga ao invés de body pump.
Ok, meu exemplo foi esdrúxulo, mas o Neil Patel explica bem direitinho o que é benchmarking aqui no blog da agência. E lembre-se de uma coisa: para adaptar estratégias que envolvam sua saúde, consulte sempre seu médico, nutricionista e profissional de educação física, hein?
Pra complementar, vi esta semana um post sobre se comparar com outras pessoas no perfil da consultora de imagem e coolhunter Fabi Hussni. Não te disse que leio o feed?
Não aprendi dizer adeus, mas deixo você ir.
Estou em evento!
Aproveito que está tudo andando bem e está acontecendo uma palestra extremamente técnica sobre bioestimulantes de cana-de-açúcar e termino essa newsletter.
Tá pago! Hehehe.
Eu me entrego aqui. Difícil me abrir sobre esse tema de comparação. Difícil confessar, sabe? Mas senti vontade de falar sobre isso e me joguei.
Mais uma vez, obrigada por ler.
Até semana que vem!
- Andrea
Amo ler você
Andrea, passei mais de dois anos sem usar o instagram (mesmo, sem entrar!) e foi maravilhoso. Estava em um momento bem desafiador na minha vida profissional, e por mais que eu racionalmente soubesse que todo mundo só compartilha o próprio palco era inevitável fazer comparações. Sentia como se a vida de todo mundo estivesse indo pra frente e a minha ficando para trás. Ficava absurdamente ansiosa e isso me fazia muito mal.
Mas o interessante é que todas as vezes que eu contava para alguém sobre a minha eterna abstinência de redes sociais ouvia a mesmíssima resposta: "te entendo, também precisava fazer isso". Acho que no fundo todo mundo sofre os males da comparação (arrisco dizer que até Debora Secco haha).
Voltei essa semana para as redes, ouvindo os conselhos da nossa querida Ana Holanda. Percebi que estava deixando passar uma oportunidade de ganhar visibilidade como escritora. Ainda assim estou restringindo meu tempo, me policiando para não cair no buraco sem fundo do explorar e dos stories.. Vamos ver como será essa nova fase. Mas sei que certamente vou precisar fazer saudação ao sol em dobro, viu hahaha