Você, que já está por aqui há algum tempo, já tem uma opinião formada do que se trata esse negócio de newsletter. É bem provável que você também já tenha uma dessas publicações pra chamar de sua. Não à toa.
Cada vez mais as pessoas comentam por aí sobre algo que leram em uma newsletter, dicas que pegaram em outra… Até na série And Just Like That, aquela que é uma continuação (podemos chamar assim?) de Sex and the City, a newsletter aparece quando Carrie diz a Enid, sua ex-chefe na Vogue, que acompanha e adora sua newsletter. Ela então aproveita o encontro e pergunta para Enid se ela poderia fazer uma resenha de seu livro recém-lançado em sua tão conceituada publicação.
Enid se recusa, mas se você for escritor(a), pode me mandar seu livro que farei uma resenha aqui. Hehehe.
(Pensando aqui com meus botões, Carrie está bobeando. Ela deveria criar uma newsletter como um spin off de sua coluna Sex and the City. Demorou).
Falando em escritores, tenho lido tanta gente bacana em newsletters… Mais que isso, tenho trocado minhas horas nas redes sociais por horas no aplicativo do Substack ou mesmo no meu e-mail, lendo sobre assuntos que me interessam, crônicas bem escritas, coletando dicas das mais variadas, sem que meu “scroll” seja interrompido por um anúncio ou pela vida perfeita de algum influenciador.
Falando nisso, preciso desabafar. Estou cansada das redes sociais e tenho certeza de que não sou a única.
Ontem mesmo, uma amiga que tem mais de 60 mil seguidores e chegou a fazer alguns trabalhos como micro influenciadora para marcas bacanas, me disse que fechou o perfil.
Outra amiga me mandou, já há algum tempo, uma mensagem falando que havia deletado o aplicativo do Instagram por conta da ansiedade.
Eu me sinto numa sinuca de bico. O Instagram ainda traz vários leitores pra minha newsletter e memes para mandar para os amigos, mas me cansa. Tem muito conteúdo igual, muita coisa que não merece a minha atenção, mas quando me dou conta, estou há uma hora só rolando a tela pra cima. É por isso que me questiono o porque de estar lá. Se a maior parte de seus conteúdos não merece a minha atenção, por que, mesmo assim, perco um tempo enorme da vida ali, com olhos vidrados, como se estivesse em standby?
O grande paradoxo dessa semana foi ver - no próprio Instagram - o post do perfil Summer Hunter que fala de um estudo do Dazed Studio sobre o futuro das redes sociais e como as novas gerações estão reduzindo seu tempo de uso.
Se a tendência é um cansaço geral das redes, se o que mais se questiona no marketing digital é como vencer o algoritmo, como chegar até seus leitores e, no caso de empresas, até seu público alvo, pra onde vai nossa atenção como consumidores de conteúdo?
Que tal pensar na caixa de entrada? Não com e-mails marketing tradicionais, mas com conteúdos que as pessoas queiram ler e que se inscreveram para receber por livre e espontânea vontade.
Não é à toa que até a Dua Lipa tem sua newsletter, a Service95.
Eu aqui tenho, inclusive, criado alguns rituais de leitura. Assim como eu entrava no Twitter pra acompanhar, junto de outros tuiteiros, alguma novela ou o Big Brother, durante a última temporada de Succession, me acostumei a assistir o episódio lançado no domingo às 22h e, em seguida, ler o “ranking do poder” daquela noite na newsletter Hung Up de Hunter Harris Ia dormir quase 1h da manhã, mas valia cada minuto.
Agora que estou acompanhando And Just Like That, leio sempre após o episódio da semana, a resenha na Back Row.
Então, voltando à questão inicial, o que é uma newsletter?
Vou arriscar algumas definições.
É um boletim informativo, na tradução literal.
Um guia de cultura, viagens e entretenimento feito por alguém que você confia.
Uma leitura gostosa antes de dormir.
Um antídoto à vida de novela pintada no Instagram.
Uma curadoria bem feita de algum assunto do seu interesse.
Um blog que você curte acompanhar.
Uma aula.
Uma conversa.
Uma viagem.
Um capítulo de um livro.
E pra quem escreve?
Vou usar como definições o que escrever esta newsletter significa pra mim.
É liberdade criativa.
É se expressar sem pensar em SEO e algoritmos.
É reconexão com a escrita.
É conexão com o outro.
Acho que, em um mundo cada vez mais robotizado, com ChatGPT pra todo lado, atendimentos por bot, criações massificadas por IA, influenciadores papagaios de pirata que vendem um produto atrás do outro em forma de conteúdo, as palavras verdadeiras de seres humanos reais são ouro. É partir da escrita sincera que se cria uma relação de confiança, seja com o escritor, seja com uma marca.
Você deve estar pensando: e como uma marca usaria uma estratégia de newsletter?
Por mais estranho que pareça, newsletters também servem para aproximar marcas e seus clientes.
Por exemplo:
Tem uma marca de calças que eu adoro, chama-se Ateliê de Calças. Não é publi, quero deixar bem claro, mas se eles me oferecerem uma calça eu aceito. Tô pidona hoje, né? Deixa pra lá, vamos em frente. Mesmo adorando a marca, eu não abro nenhum - ou quase nenhum - e-mail marketing deles, mas, em compensação, leio todos os e-mails da fundadora da marca, Liana Pandim, uma newsletter mensal que ela chama de Carta Aberta.
Nestes e-mails, ela fala sobre processos de criação de novos modelos, dores do do empreendedorismo, sonhos pessoais, mudanças no rumo da marca, indica leituras, tudo de uma maneira gostosa, como uma conversa.
É mais que acompanhar os lançamentos, as promoções, as mudanças de coleção, entende? Eu me sinto próxima da fundadora e, consequentemente, acabo não só valorizando mais a marca, como fico sabendo das novidades mesmo sem abrir os e-mails marketing. Veja aqui abaixo um trecho de sua newsletter de agosto:
Percebe que colocar alguém por trás da marca também a humaniza?
Quer mais um exemplo?
Ana Holanda é escritora, jornalista e professora de diversos cursos de escrita criativa. Sou sua aluna e leitora assídua de suas newsletters sobre o processo de escrever.
Ana, que também tem um curso sobre escrita de newsletters, tem uma taxa de abertura superior a 40% e, segundo a autora, é por meio dela, que ocorre conversas, trocas de ideias e a venda de seus cursos e livros.
Olha só, Ana Holanda trabalha sua marca pessoal através das suas newsletters, mas isso com tanto cuidado e carinho, que as pessoas confiam na sua escrita, na sua essência, no seu conhecimento e isso é a base da venda de seus serviços.
Último exemplo, vai.
Na minha empresa nós usamos a newsletter como forma de aproximação com nosso público há mais de 15 anos. Nossa newsletter é diária e é um compilado de notícias e artigos do setor sucroenergético.
Ela chega bem cedo na caixa de entrada dos mais de 20 mil assinantes e deixa todo mundo já bem informado logo cedo.
Com mais de 35% de taxa de abertura (beeeeem superior a grande parte das newsletters corporativas do mercado), é nossa principal forma de comunicação com o mercado. É através dela que vendemos nossos eventos e trabalhamos nossa relevância no setor.
Mas é importante ressaltar que, embora não seja uma newsletter de escrita criativa e autoral como essa aqui, ela é feita com cuidado, atenção e carinho para entregar valor a quem assina. Sabemos da importância desse veículo, nos dedicamos a ele e é isso que garante essa grande aceitação.
Pra finalizar essa parte “business”
Não quero que me entendam mal. Eu sou uma usuária da ferramenta de e-mail marketing para campanhas publicitárias, mesmo sabendo que elas têm uma taxa de abertura infinitamente menor que as newsletters.
Mas já reparou que e-mail marketing puro e simples se parecem com folhetos de apartamento que a gente recebe na saída da padaria? A própria Ana Holanda falou disso na sua última news e ela tem razão, eles vão direto pra lixeira.
Talvez seja pelas fórmulas prontas, pelos textos e cadências pré-fabricados ou pelos métodos de venda tão difundidos como milagrosos ativadores de “gatilhos de compra” (argh), que as taxas de abertura estão caindo em todas as indústrias.
Talvez por isso que tanta gente propague por aí que o e-mail está morto.
Não sei.
Só sei que as newsletters estão crescendo porque geram valor, diferente do e-mail marketing que visa apenas a venda venda. Tá vendo que tudo sempre acaba caindo no mesmo argumento?
Sei também que o mercado de newsletters está crescendo tanto que a ponto de muita gente chamar isso de “economia de newsletter (newsletter economy)".
Sei ainda que, se amanhã não existir mais redes sociais, o influenciador perder influência e o algoritmo não entregar, quem tem sua newsletter ainda vai ter sua voz, sua escrita e sua audiência.
Não aprendi dizer adeus
💌 Como comecei falando sobre And Just Like That, nada mais justo que iniciar a sessão de links com o Guia And Just Like That de Nova Iorque, da Condé Nast Traveller (EN).
💌 Uma newsletter sobre newsletters. Ainda estou consumindo os conteúdos dela, mas acho legal dar uma fuçada pra ficar por dentro. (PT)
💌 Comecei a pensar em ter uma newsletter quando passei a assinar a Bits to Brands, da Bia Guarezi. Gostei muito dessa entrevista que ela deu para Rock Content (PT), falando de sua trajetória em criar uma publicação com mais de 15 mil inscritos.
💌 Pra se ter uma ideia de como o mercado editorial tem apostado em newsletters para sobreviver, recomendo o texto Mercado editorial vive segunda onda de assinaturas - Mundo do Marketing (PT)
💌 Uma newsletter que merece a minha atenção: Amo News, da Ale Garattoni. Além de excelentes conteúdos sobre marcas e comportamentos, ela é, assim como eu, defensora assídua desse formato de comunicação.
Prometo indicar mais algumas nas próximas semanas.
Mas deixo você ir
Espero que tenha gostado dessa pequena reflexão sobre as newsletters. Tenho pensado muito nelas ultimamente e, como disse lá em cima, passado mais tempo no Substack que em qualquer rede social. Cada vez me empolgo mais, me envolvo mais e fico mais feliz em consumir seus conteúdos, então, é bem capaz que você me veja falando sobre isso por aqui outras vezes.
Agora me conta: tem alguma newsletter que você ama e recomenda?
Um beijo,
- Andrea
Dea, amo sua news e gosto muito da newzdanaza (que eu sei que vc ja conhece, rs...) especialmente quando ela dá dicas de agenda de SP ou mais específicas de viagem, sabe? Amei essa sua news e concordo com tudo! Eu penso demais sobre esse assunto de telas (não só pras crianças, mas especialmente do meu uso), apps, redes sociais, etc. Reflexão necessária! Obrigada!
Oi Andrea, a sua newsletter eu leio de cabo a rabo! Adoro. E esta última me inspirou a me arriscar a criar a minha. Eu adoro escrever também! Não conhecia o Substack. Obrigada por compartilhar dessa forma tão fluida! Já disse e reforço de novo: Adoro sua escrita!