Sempre saio das aulas de yoga com alguns pensamentos interessantes na mente. Hoje dividido com vocês os mais persistentes.
1.
Você já viu homem na yoga?
Não estou falando daqueles deuses yoguinis que mexem o corpo sarado como que uma lagarta dançante e nos deixam boquiabertas, com um pouco de baba escorrendo no canto da boca, a cada transição de postura. Estou falando do homem regular, o cis-hétero-branco, que normalmente só puxa ferro e tem zero flexibilidade, equilíbrio ou consciência corporal.
Alguns - normalmente mais velhos - chegam na aula de mansinho, se esforçam, buscam aprender e conseguem ver a evolução. Mas vira e mexe aparece um cis-hétero-branco-FariaLimer AND maratoner, com pose de “eu sou atleta, me respeita”. Eu secretamente me delicio quando essa espécie aparece porque ele sofre.
Quanto mais ele sofre, mais eu fico feliz.
Não que eu queira sua dor, ou que ele desista da aula. Longe disso. Até porque, quanto mais gente praticar, melhor vai ser o mundo. E, convenhamos, quanto menos flexibilidade, equilíbrio e consciência você tem, mais a yoga é pra você.
Mas, normalmente, o cis-hétero-branco-FariaLimer-maratoner é o tipo de homem que desdenha da yoga. Que olha de cima para baixo quando pergunta “você também corre?” e eu digo que não, que pratico yoga. Consigo sentir o peso da sua superioridade no seu sorriso falso de canto de boca ao desmerecer com seu “ah tá".
Eu quero mais é que ele sofra.
2.
Se tem uma coisa que eu não suporto é casalzinho na aula yoga.
Eles chegam juntos, colocam seus tapetinhos lado a lado e ficam cochichando. Se a professora pergunta pra um se já fez yoga é o outro que responde. Sabe aquele negócio de casal?
Aí a aula começa e eles ali, atrás de mim, só na risadinha hihihi. Só no faz-assim-amor-hihihi. Só naquela cumplicidade insuportável de casais felizes.
Não que eu seja invejosa. Tenho um casca de bala pra chamar de meu, mas meu marido não faz yoga (ok, talvez tenha aí uma invejinha por isso). Ele nunca fez (homem-cis-hétero-etc). Não sei como seria se ele fizesse. Talvez eu também ficasse de hihihi, mas, por enquanto, só quero reclamar dos outros. Uma coisa assim, bem conectada a um dos princípios da yoga que prega a não-violência de pensamentos, palavras e ações.
3.
Hot yoga. Aquela sala aquecida que faz a gente suar mais que tampa de marmita enquanto flui nas posturas. E aquela sensação deliciosa de quando a gente sai da aula e entra no chuveiro. Sauna com namastê, sabe?
Pois é, tá na moda.
Sim, eu também tô lá. Desde 2019, para minha defesa. Fazer o que, se sou de vanguarda?
Mas desde 2019 aquilo bombou. Agora eu chego lá e a aula está cheia de garotas de vinte e poucos anos, com corpos de modelo, que acabaram de sair da aula de spinning e não transpiraram o suficiente.
Eu as observo de longe. Lindas. Jovens. E me comparo, lógico. Meus quase 45 anos são denunciados pela pele com mais flacidez, os quadris mais largos e os pés de galinha. Agradeço a sala ser mais escura e não ter espelhos (desconfiem das salas de yoga com espelho).
Que bom também que eu já pratico há algum tempo também, porque eu arraso na hot yoga.
Deixo as modelos de 20 e poucos anos no chinelo, mesmo com meu corpo mais avolumado e mais envelhecido.
Saio vitoriosa.
Adoro a hot yoga.
4.
O princípio da yoga é praticar para você, no seu ritmo, respeitando o seu corpo e NÃO SE COMPARAR. Mas não consigo. É mais forte do que eu.
5.
Toda vez que vou para a yoga tenho sentimentos conflitantes. Saio da aula querendo ir para um ashram na Índia, querendo uma vida mais simples, sem desperdício e consumismo. Afinal, um dos princípios da yoga é cultivar o desapego aos bens materiais, aprendendo a viver com o essencial. Aí eu passo pela lojinha do estúdio e compro uma blusinha nova que nem na promoção estava.
6.
Toda aula de yoga termina com um shavasana. É uma postura que se traduz como “cadáver consciente" e que consiste em ficar deitada em silêncio, sentindo os efeitos da prática no corpo. Adoro o shavasana. Muitas vezes entro em um estado meditativo de verdade.
Mas teve um dia que eu peguei no sono. Não foi um simples sono. Foi um sono profundo, no meio da aula mais cheia do estúdio, a de sábado. Até aí, tudo bem. Teoricamente ninguém perceberia meu sono até todo mundo sair da prática e eu ficar lá. A professora teria que me acordar, porque a sala seria usada para outra aula. Até aí, também tudo bem.
Mas eu ronquei. Sabe aquele ronco alto e forte, que faz a gente quase engasgar e acordar com o próprio barulho produzido no fundo da garganta? Então, esse mesmo. As outras pessoas ainda estavam no estado meditativo quando meu ronco ressoou na sala. Desde então não voltei à aula de sábado e ando pensando em trocar de estúdio.
7.
“Yoga não é pra mim porque é muito parado". Algum praticante aqui já ouviu isso? Eu ouço o tempo todo. Vem fazer uma aula comigo então, flor. Vou adorar te ver sofrer, assim como o homem-cis-hétero-branco-farialimer-maratoner. Mas espero, do fundo do meu coração, que você goste e volte outras vezes. Porque a yoga faz de você uma pessoa melhor.
Namastê.
Alo?
Sabe a Alo Yoga, aquela marca de fitness que chegou recentemente ao Brasil e já conquistou as fashionistas com seu conceito “do estúdio para a rua"? Então, eu ju-ro que da última vez que visitei uma loja achei que a maior parte das blusinhas e vestidinhos não vale nem R$50,00.
Logos craquelados, tecidinho meia boca, um horror para uma marca que se vende como luxo e aspiracional. Não eram todas as peças assim, claro. Os tricôs mesmo, são incríveis e eu chorei querendo um, mas também não eram uma ou duas com cara de vagabunda. Eram várias.
Mas então, de onde vem todo esse hype?
Bom, em primeiro lugar, a marca usa muito marketing de influência e escolhe os influenciadores certos para tal, com um foco em celebridades que inspiram estilo de vida, Hailey Bieber, Kendall Jenner e Bella Hadid.
Ou seja, quando você paga quase mil reais por uma legging, você não está somente comprando poliéster e elastano, você está entrando para uma comunidade.
Mas sabe o que é engraçado? Essas celebridades não aparecem no perfil da marca no Instagram. Ao contrário, o que você vê lá são imagens ligadas ao bem estar, à yoga e a um estilo de vida muito aspiracional. Seria um marketing reverso? Não sei.
Em 2019, em NY eu mesma fui praticar yoga em um estúdio da Alo no Soho. A sensação era a de estar em um filme de Hollywood, ao entrar na sala do predinho de tijolinhos com grandes janelões, bem típico dessa região de Manhattan. Foi tããããooooo legal, além da aula de 1h30min ser ótima. Quer algo mais aspiracional que isso? Eu queria fazer parte daquele ambiente e estar lá todos os dias.






Mas você não sabe COMO que eu cheguei até lá.
Eu já usava o aplicativo ALO Moves para praticar em casa. Uso até hoje e recomendo fortemente. Eu não sabia que era uma marca de roupa. Eu achei que fosse um app. Ju-ro!
Enfim…
Fazia muito tempo que eu não escrevia nada sobre marketing ou branding, mas achei que essa edição merecia uma pitada da estratégia da Alo. O que você achou?
Notícias do Engravidei
Estamos a caminho de Ribeirão Preto! Vou participar de um lançamento coletivo da programação oficial da FIL, a Feira Internacional do Livro de Ribeirão Preto, cidade onde passava todas as minhas férias, na casa da minha avó e onde hoje está meu trabalho, minha irmã, primos, tia e meu coração.
Estou muito animada! Se você estiver pela cidade, estarei na Biblioteca Sinhá Junqueira, das 15h às 17h.
Ah, lembrando que o Engravidei também está no Kindle por apenas R$9,90 até o dia do meu aniversário (12/09). Então aproveita e adquire o seu!
Não aprendi dizer adeus
Você não precisa ser perfeita para praticar yoga.
A história de uma professora de yoga que não é flexível
Um carro chinês que a solução para a raiva no trânsito.
Networking ajuda no caminho criativo?
Aqui em casa a gente assiste e ouve Guerreiras do K-Pop no repeat. Descobri há poucos dias que o filme virou febre mundial.
Já foi ao parque para simplesmente observar pessoas e escrever?
Encontros são preciosos e a Gabi encontrou uma linda história pra contar.
E esse fluxo de consciência? Poderia ter sido o meu ou o seu.
Mas deixo você ir
Eu sempre tenho mais coisas pra falar, mas estou sempre correndo. Nem terminei minha mala e parto pra Ribeirão em uma hora. Então, não tenho outra alternativa senão deixar você por aqui.
Antes disso, digo sem a ironia do texto inicial: se puder, pratique yoga. É, de verdade, uma atividade transformadora, respeitosa e que nos permite envelhecer sem perder mobilidade, flexibilidade e força. Sou fã.
Um beijo,
Andrea
🤓 Leia também:
eu certamente sofreria na aula, porque minha flexibilidade não é das melhores… 😅
Adorei o texto, Andrea. Dei muitas risadas aqui e como praticante há anos, te apoio nas tretas da Yoga.