#60 - Eu, o beach tennis e a vulnerabilidade
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Eu, o beach tennis e a vulnerabilidade
Justo eu, que odeio me colocar em situações de vulnerabilidade, me inscrevi num torneio de beach tennis.
Acordei cedo, entrei no meu Renegade, enchi meu copo Stanley e fui. Brincadeira, só acordei cedo mesmo e fui, mas não podia perder a piada. O beach venceu.
O pior é que venceu mesmo. A ponto de me fazer participar de um campeonato.
Tremi que nem vara verde. Não me lembro do primeiro jogo direito. Nem sei se eu estava em quadra, pra falar a verdade. Só sei que eu queria duas coisas: que o jogo acabasse e umas gotas de Rivotril. O floral de Bach não deu nem pro cheiro.
E olha que eu danço desde os 5 anos de idade. Palco pra mim é casa. Nos eventos que organizo, pego o microfone e improviso numa boa. Falo para a câmera tranquilamente. Quando mais nova, fazia piadas em sala de aula e nem ligava de ser vaiada (aquele “eeeeeerrrrrr” clássico dos adolescentes, lembra?). Enfim, me jogo sim na vulnerabilidade, mas na vulnerabilidade controlada.
Sei que vou bem dançando, falando, fazendo graça. Comunicação é meu sobrenome. Mas… jogando?
Fui aquela criança que se traumatizou por ser a última a ser escolhida nos times que se formavam nas aulas de educação física. Fosse vôlei, futebol, handball, basquete, queimada, pula corda ou amarelinha, eu ficava pro final.
O bullying também vinha de casa. Papai dizia, em tom de gozação, que quando éramos pequenas, eu repelia todas as bolas que ele me mandava, enquanto minha irmã dominava e guardava-as, ninando-as como filhos. Cresci ouvindo que a Andréa não nasceu pro esporte.
Então, quando entrei pra jogar, eu era essa mesma pessoa.
Não estou justificando a perda. Até porque não me dedico o suficiente para ganhar um campeonato. Não treinei com minha parceira. Não dava pra fazer milagre, né? Mas fiquei refletindo sobre vulnerabilidade, sobre rótulos e situações da infância que nos ativam uns gatilhos muito fortes, a ponto de nos paralisar.
Coincidentemente, vi, por esses dias, um vídeo da The School of Life sobre durante a semana vi um vídeo sobre “Como o mundo moderno nos ativa alguns gatilhos facilmente". É em inglês, mas dá pra colocar legendas em português:
Um pouco sobre o vídeo: ser “engatilhado”, significa responder de forma muito intensa a uma situação do presente, com base do que vivemos no passado. Os gatilhos são como um guia para nossa história, uma vez que nos contam sobre coisas que nos aborreceram ou nos deixaram com medo em uma época passada. O que te paralisa? Por que? Existe sempre uma narrativa por trás.
O gatilho acontece de forma tão rápida, que não dá tempo de racionalizar a situação presente. A Andrea na areia começou a suar e sentiu o coração quase sair pela boca antes mesmo de reconhecer que aquela não era a garota da aula de educação física. Era uma mulher adulta, que joga há dois anos e que está ali para se divertir. Mas o mundo exterior já estava sendo observado pelo prisma do interior.
Quando perdi o primeiro jogo de 6x0, caí em mim. Isso era o pior que poderia acontecer: perder de zero. Perdi, mas e aí? Perdi mais o que? Era só um jogo. Ninguém deixaria de gostar de mim por isso. Mas meu medo, minha ansiedade e meu receio foram exageradamente ampliados pela minha própria lupa dos anos 90, quando eu acreditava que precisava ser boa o suficiente para ser gostada.
Reconhecido isso, os jogos seguintes foram divertidos, como deveria ser, caramba! Eu não era a Bia Haddad na semifinal de Roland Garros, embora eu ache que ela, mesmo perdendo, tenha se divertido ao fazer a número um do mundo trabalhar. Parabéns, Bia! O Brasil te ama.
Pois é, justo eu, uma control freak, virginiana, que detesta sair do conforto dos caminhos já conhecidos e dominados, aprendeu que se jogar no desconhecido é uma forma muito eficaz de autoconhecimento. Eficaz e profunda, que mexe com cicatrizes e inseguranças, mas que, se soubermos analisar, valem tanto ou mais que terapia. Sugiro fazer os dois ao mesmo tempo.
A ídola da vulnerabilidade
Ainda sobre o tema, estou relendo algumas partes do “A Coragem de Ser Imperfeito”, da Brené Brown. Título perfeito pra uma virginiana sofredora, né? Pois quando se fala em vulnerabilidade, é Brené Brown que me vem à mente. Uma das frases que grifei, ainda bem no começo do livro, foi:
“Nada transformou mais a minha vida do que descobrir que é uma perda de tempo medir meu valor pelo peso da reação das pessoas nas arquibancadas”
Não sei se você já viu o TED Talk dela sobre esse tema, mas não custa nada colocar aqui o link. Se já viu, que tal rever? Nunca é demais…
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Amei: personagens de Succession como cartas de tarô
Do BuzzFeed: 18 provas de que a Educação Física era seu pior pesadelo.
A construção do cenário da Barbie causou escassez de tinta rosa NO MUNDO. Juro. Tá escrito aqui.
A filha da minha professora de yoga era a número 800 mil e la vai pedrada na fila para comprar ingressos para o show da Taylor Swift. Achei que era zoeira, mas vi esta reportagem aqui, que diz que tinha mais de um milhão de pessoas na fila online.
No artigo “Por que a Gatorade tem expandido seu marketing para além dos super atletas”, senti um quentinho no coração com a declaração do CMO:
“Acho que nossa estratégia não muda fundamentalmente em termos de qual é nosso objetivo final. Queremos alavancar o poder do esporte. Queremos alavancar o poder dos atletas para ajudar a construir nossas marcas e construir histórias autênticas. Mas porque temos elevado atletas diferentes em esportes diferentes, e atletas ainda menos competitivos (SOU EU!!!!!!). Acho que isso nos dá a capacidade de contar uma narrativa muito mais ampla, uma história mais autêntica”.
Estou lendo: Carrie Soto está de Volta, da mesma autora de Daisy Jones and The Six, a Taylor Jenkins Reid. Uma leitura bem gostosinha, bem entretenimento, sobre uma tenista, ex-número 1 do mundo, que resolve voltar às quadras depois de 5 anos aposentada. Tô bem engajada no tema tênis, beach tennis e competições, né? E te conto mais: a autora JÁ vendeu os direitos da adaptação audiovisual do livro para a Picturestart. Esperta essa mulher.
Mas deixo você ir
Com lágrimas no olhar, de quem demorou duas semanas para soltar a newsletter. Estava com bloqueio criativo, mas agora já estou com ideia pra mais umas três edições.
Segura peão!
Até a próxima.
- Andrea