Ele nunca vai te entender, você precisa aceitar, disse meu marido ao me ver aos prantos.
Sabe o que é? Às vezes a gente quer validação de outras pessoas, não tem como. A gente quer ser entendido. Quer colo. Quer só desabafar e sentir que o outro tem um mínimo de compaixão.
Mas que cada pessoa tem sua questão. Eu tenho a minha. Você tem a sua. Cada qual com sua experiência de vida. Experiência essa, que induz suas ações e reações em direção ao outro. Às transigências e intransigências. Ao amparo e desamparo.
Eu, graças a Deus, nunca passei fome. Nunca fui de muitas abundâncias na infância, mas tinha tudo. Escola particular, plano de saúde, presentes de Natal embaixo da árvore.
Mas minhas lutas foram outras. Pequenas em relação a tantas. Minúsculas para falar a verdade, especialmente se comparadas às lutas dos meus pais. E, por saber serem minúsculas, nunca lhes dei a importância suficiente para me curar.
É drama, diziam.
Virge Maria, está sofrendo por isso?, perguntavam.
E eu me encolhia, com a garganta travada de desabafos engolidos e o peito apertado, com um amontoado de questões não resolvidas se debatendo para se acomodar.
Demorei anos, quarenta talvez, para tirá-las do aperto. Deixar que se transformassem em lágrimas, em desabafos tímidos ou gritos que ficaram abafados por tempos e tempos.
Mas, mesmo assim, quis a validação.
Busquei-a e, supreendentemente, até mesmo para mim, ainda a busco como se fosse necessário legitimar aquela dor que, diante do júri popular, parece ser tão pequena. Tão insignificante.
Para mim, minhas dores nunca foram pequenas. Só eu sei o estrago que elas provocam, quando resolvem me inundar feito tsunami. Isso que deveria importar. A mim ela é grande suficiente para que busque a cura. Por que me lixar com o que o outro pensa? A dor dele é diferente, ora bolas. Que me importa a compreensão alheia?
Por que raios a minha própria validação nunca bastou?
Ainda procuro essa resposta. Ainda estou nesse limbo. Nesse lugar que a razão sabe da importância de cada uma das minhas aflições, mas a emoção me coloca em lugares que não gosto de estar quando terceiros as rebaixam.
Detesto estar nesse estado. Detesto quem eu sou quando sinto que não tive a escuta que queria. Detesto ir até o fundo do poço simplesmente por não ter a empatia que buscava. Mas a culpa não é da pessoa que não ouviu. A culpa é minha por dar-lhe a importância que não devia. Mesmo as pessoas mais importantes das nossas vidas não deveriam ter tanto peso no julgamento das nossas questões pessoais.
Mas eu não me conformo. Eu grito. Eu saio da casinha. Como criança perdida no shopping. Choro e depois choro mais um pouco. Até que alguma luz divina, normalmente chamada de terapia, me pergunta: por que você ainda se importa?
Não aprendi dizer adeus
📚 Se tem uma coisa que é muito difícil de fazer, é a sinopse do seu livro. Aquela que vai para a contracapa, sabe? Eu, que explico, explico e explico sem parar, tive que resumir o Engravidei em algumas linhas. Ficou assim:
E se você pudesse revisitar quem era há dez anos?
Às vésperas do décimo aniversário de seu primeiro filho, uma mulher redescobre o blog que criou durante a gravidez – um espaço onde despejava suas dúvidas, medos e emoções avassaladoras. Revendo suas palavras, ela encontra mais do que lembranças: encontra a si mesma. Entre confusões hilárias e momentos absurdos, ela reflete sobre as transformações profundas que a maternidade lhe trouxe, comparando a mulher que é hoje com a grávida assustada que tentava, sem sucesso, controlar o caos.
Engravidei é um relato real e sincero, que explora como a vida muda – e nos muda – enquanto criamos um novo ser e, ao mesmo tempo, uma nova versão de nós mesmas.
O “Engravidei” é meu primeiro romance de autoficção e está na pré-venda.
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de novo, porque ela arrasa. Dessa vez, fiz até um card de uma frase da sua última news:Mas deixo você ir
Mas não sem antes dizer que adorei a atualização do Chat GPT para criação de imagens. Eu estava penando para fazer um quadrinho no Canva e o GPT me deu em segundos. Olha que fofooooooo:
Teria ajudado muito mais com a capa do livro, mas utilizamos o GPT antes da atualização. Ficou fofo, mas vou tentar fazer uma nova, só pra ver como fica.
Aliás, os bastidores da capa do Engravidei estão na edição passada:
Mais uma vez, obrigada pela leitura!
Nos vemos na semana que vem!
Um beijo,
- Andrea
muitas vezes, é preciso um esforço de empatia para validar dores dos outros (e até mesmo as nossas) que parecem pequenas demais, como se houvesse uma escala de importância ou tamanho para o sofrimento. só quem sente sabe onde e como dói.
Pra variar, suas palavras me tocaram. Poderiam ser minhas. Obrigada pela citação, que honra enorme!! Parabéns pela escrita, sinta-se acolhida e abraçada ♥️🌸 Estamos juntas
!!