Tradição é tradição e vice-versa.
Lá em casa, o dia das bruxas não dizia muita coisa. Pudera, cidade do interior nos anos 80 e a tradição americana não combinam. Mas os desenhos e filmes da época me deixavam sedenta para sair fantasiada pelo bairro, tocando campainhas, gritando “doces ou travessuras”, pra quem atendesse.
Uma vez eu e minha irmã resolvemos fazer isso. As pessoas mal atendiam, quando atendiam, estavam despreparadas e nós voltávamos pra casa quase como o Charlie Brown, no episódio de Halloween do Snoopy: só com pedras no baldinho de doces.
Esse era o episódio que eu mais gostava de Snoopy. Charlie Brown, desajeitado como tal, faz mais furos que deveria em seu lençol e sai para as ruas como um fantasma esburacado. Enquanto isso, seu amigo Linus vai a um canteiro de abóboras e passa a noite esperando a vinda da Grande Abóbora.
Como é de se esperar, a Grande Abóbora não vem. Esse fato, somado às pedras que tomam os lugares dos doces de Charlie Brown dão ao episódio uma melancolia bonita, quase poética, que era incomum em desenhos animados.
Uma vez, um amigo me disse que Snoopy era baseado na filosofia existencialista de Jean Paul Sartre e eu, com apenas 14 anos, não entendi nada. Soltei alguma interjeição do tipo “uau, sério? Que legal!”, fiz cara de culta inteligente e isso ficou na minha cabeça até meus vinte e poucos anos, quando estudei brevemente sobre Sartre nas aulas de filosofia da faculdade de propaganda.
De forma beeeem simplificada, o filósofo dizia que os seres humanos são "condenados à liberdade". Isso significa que não temos escolha a não ser ser livres. Não podemos escolher nascer, e não podemos escolher as nossas condições de vida. Mas, uma vez que nascemos, somos livres para escolher o que queremos fazer com a nossa vida.
Ou seja:
Sendo responsáveis por nossas próprias vidas, temos que tomar decisões e lidar com as consequências. Ui! Assustador, né?
Mas pode ser bom!
Pense que você tem o poder de criar seu próprio futuro. Podemos escolher o que queremos ser, o que queremos fazer, e como queremos viver.
E o Charlie Brown?
Charlie Brown e Linus são livres para escolher o que querem fazer no Halloween. Charlie Brown escolhe pedir doces, enquanto Linus escolhe esperar pela Grande Abóbora.
No entanto, as suas expectativas não são atendidas e isso é uma baita de uma representação das incertezas da vida. De expectativas frustradas. Da falta de controle do que vai acontecer conosco (como se apaixonar, lembra?), independente das nossas escolhas.
Mesmo frustrados, Charlie Brown e Linus não desistem. Um continua a pedir doces, mesmo que não esteja recebendo nada e o outro continua a acreditar na Grande Abóbora, mesmo que ela nunca apareça.
Ou seja, somos livres não apenas para fazer o que desejamos, mas também para criar o nosso próprio significado na vida. E, se seguirmos o exemplo de Charlie Brown, até com as expectativas frustradas, podemos encontrar alegria e propósito em nossa vida.
É por isso que este ano, vou novamente pedir doces.
Não aprendi dizer adeus
👻Como usar mote do Halloween no Tik Tok para aumentar vendas. Eu sei, deveria ter mandado isso na semana passada, mas antes tarde do que nunca. Veja o artigo em inglês AQUI.
🎃Aliás, a hashtag do momento é #HORRORTOK no Tik&Tok. Tem videozinhos curtinhos com sustos e piadinhas de filmes de terror.
🧙♀️Dica de passeio pra levar as crianças em São Paulo: o restaurante Magia e Bruxaria. Meus pequenos (6 e 9 anos) amaram fazer as aulas de defesa contra as artes das trevas, poções e herbologia na experiência, que dura 2 horas e inclui uma refeição. Tem também um teatrinho bem feitinho, mas bem escrachado, o que eu adoro. Uma Hogwarts com cara de Brasil, sabe?
🍭Ação da M&M nos EUA não vai deixou nenhuma casa sem doces neste Halloween.
👻Em homenagem ao Halloween, a foto de astronomia do dia é a Nebulosa do Fantasma. Veja AQUI.
Mas deixo você ir
Afinal, estou em Comandatuba, em um torneio de beach tennis para 90 mulheres. Foi aqui que dei uma de caça-fantasmas e, em pleno Halloween, exorcizei um dos encostos que me acompanhou durante toda a vida: o de que eu não sirvo para o esporte. Peguei segundo lugar na minha categoria e exorcizei a assombração.
Um beijo,
- Andrea
Doces pra quem compartilhar esta edição, travessuras pra quem não fizer nada.