Não aguento mais divulgar meu livro.
Esse é um desabafo MUITO sincero.
Não aguento mesmo.
Os conteúdos voltados à venda, os argumentos… Argh… Eu simplesmente não aguento mais.
Talvez seja porque tive, em dois meses, quatro evento dedicados a ele. Lançamento oficial, lançamento na Flip, lançamento coletivo no clube e lançamento na Feira do Livro de Ribeirão Preto, um em seguida do outro. Sim, pode ser isso.
Mas eu só queria escrever e deixar que ele se vendesse sozinho, como num passe de mágica. Queria que as pessoas já me conhecessem, que já confiassem na minha escrita. Queria que o livro fosse encontrado facilmente dentro do mar de livros que está disponível nas livrarias e na internet. Que fosse recomendado organicamente por algoritmos e recomendado por influenciadores. “Só” isso.
Eu sei que é duro. Eu já sabia que seria um trabalho árduo. Em 2024 eu até salvei um post do blog do Seth Godin, um dos nomes relevantes do marketing dos dias atuais, que tem como título Books don't sell (livros não vendem). Nesse post, Seth diz que livros, no plural, na verdade vendem sim, mas livro, no singular, não. Ele mostra por A+B que a probabilidade de um livro específico vender milhares de cópias é perto de zero. Mesmo assim, a gente insiste. A gente publica e fica esperando o leitor, feito um comerciante, quando abre sua lojinha e fica esperando o freguês entrar.
Aí entra a figura do principal vendedor de um livro: seu autor. Por mais conhecido que você seja, por maior que seja a sua editora, a venda só acontece organicamente até certo ponto. Os próprios best-sellers têm seu pico de vendas e depois entram num plateau. Se você não escreveu Harry Potter então, seu livro pode até cair no esquecimento. Podem esgotar as primeiras edições e não ter outra. Nunca. Mais.
E como você fica com isso?
Eu ainda não sei como EU fico. Será que já está bom? Afinal, já cumpri aquela tal meta de vida, de plantar uma árvore, ter um filho e escrever um livro. Meus amigos leram, gostaram e comentaram comigo. Ganhei tapinhas nas costas, abraços e parabéns. O livro está lindão lá na estante. Ganhei o título de AUTORA, olha que chique. Assinei muitas cópias. Fui, inclusive, a best seller da editora, o que - levando em consideração as quantidades vendidas - me deixa com pena dos outros autores. Mas e agora? Será que faz tanta diferença assim se mais pessoas pessoas o lerem? Ou será que é só meu ego falando que quer que eu seja lida por mais pessoas? Será que eu realmente preciso disso para me consolidar como escritora? Aliás, o que é uma escritora “consolidada”?
Clarice Lispector era consolidada, diria eu. Mas como seria hoje em dia para ela? Será que ela se tornaria a imortal que se tornou ou precisaria se esforçar nas trends e hashtags do TikTok, tentando fazer seus livros viralizarem, uma vez que o TikTok vende mais livros que uma resenha no jornal?
Não estou me comparando a Clarice, por favor. Mas a questão é: como é que ela se tornaria conhecida hoje em dia? Claro que ganhar o prêmio Graça Aranha por “Perto do Coração Selvagem” ajudaria muito. Mas e depois? Será que as crônicas que escrevia nos jornais seriam suficiente? E a presença digital?
Acho que ela também acharia um saco esse negócio de presença digital e diria a mesma coisa que eu: quero apenas escrever, poxa! Quero focar meus esforços na parte criativa. Estudar mais. Deixar de me culpar por não criar conteúdo há não sei quanto tempo cada vez que abro o Instagram e vejo minha página abandonada. Eu nem queria abrir mais o Instagram para falar a verdade, mas não posso me dar a esse luxo. Como vou vender livro se não abrir o Instagram?
Talvez eu não aguente mais divulgar o livro JUSTAMENTE porque eu não aguento mais as redes sociais. Sim, talvez seja isso.
Eu entro lá e está todo mundo tentando me convencer de alguma coisa. Quem vende, está divulgando seus produtos. Quem não vende, está divulgando sua vida maravilhosa. Até quem emagrece, está lá, vendendo sua magreza. Cansa, né? Talvez seja isso também, que esteja me levando ao esgotamento.
A Vanessa Passos (autora de A Filha Primitiva) me disse uma vez, que leva a sua escritora para onde for. Vai viajar de férias? Emenda uma feira do livro no local, um bate-papo com grupos de leitura, uma oficina de escrita, uma palestra, uma sessão de autógrafos… Já eu não sei se quero levar a minha escritora para todo lado. Tem lugares que eu acho que ela não precisa ir. Igual a gente faz com os filhos, sabe? Será que não estou me esforçando o suficiente?
Bom, preciso também fazer uma mea culpa aqui. A literatura não é o que paga meus boletos, é importante deixar isso claro. Tenho o meu trabalho convencional para isso, o que me leva a pensar: será que é pelo acúmulo de funções e a falta da real necessidade que me deixa cansada de divulgar o livro? Talvez sim. Afinal, se eu precisasse MESMO da venda dos livros, seja para pagar os boletos, seja para impulsionar outros serviços relacionados à escrita, pode ser que eu me dedicasse mais.
E olha que eu adoro o meu livro, hein? Ele está bem escrito, bem revisado, com leitura crítica feita por uma escritora que admiro. A capa está bonita, o miolo tem diagramação agradável, a leitura não cansa, é um excelente entretenimento.
E eu também adoro contar a história do livro. De como escrevi a maior parte dos textos durante a gravidez do meu primeiro filho e como, dez anos depois, encarei aqueles textos já a experiência de uma década de maternidade. De como escrevi textos atuais, respondendo às expectativas e anseios anteriores. Adoro comentar também sobre o processo de escrita, sobre como tive que me segurar para não mudar a essência daqueles textos antigos, respeitando assim a mulher fui (e que pude ser) na época, seus sentimentos e inseguranças. Ou falar sobre como tratei aquela mulher como uma personagem literária dialogando com a autora. Adoro mesmo, de verdade.
Mas, quando olho para minhas redes sociais, me parece que sou aquelas pessoas monotemáticas chatas, sabe? Como uma mãe recente que só fala do filho para amigas que ainda não são mães e recebe, sem perceber, olhares de tédio e cabeças que só acenam para cima e para baixo, concordando com o que quer que esteja sendo discursado no monólogo enfadonho.
Não quero ser essa pessoa. Talvez seja esse o meu receio em continuar a divulgar o Engravidei (aliás, pra não dizer que não divulguei, segue link para compra AQUI e link para o Kindle AQUI).
Além disso, tem algo que é melhor nem pensar, mas é que impossível de deixar passar, que é: as pessoas tendem a comprar os livros que já são muito populares. Seja na lista de mais vendidos ou nas recomendações dos principais booktokers, é o sucesso que gera sucesso. Por isso há tão poucos bestsellers por aí.
Como é que cria essa faísca de sucesso? É a rede social? É o boca a boca? São os clubes de leitura? Ou o trabalho de uma bela assessoria? Tem alguma fórmula de lançamento estilo “faça 6 em 7”? Será que basta o livro ser bem escrito? Será que meu livro está mesmo assim tão legal como eu acho que está, ou estou me iludindo como aquele cara que acredita que escreveu uma obra prima, dessas para ficar para a posteridade, e está inconformado por não estar nem entre os top 10 do Prêmio SESC?
Ao mesmo tempo que me coloco em dúvida e me desanimo com a missão quase impossível da venda, não quero deixar o livro morrer. Acredito que ainda tenha espaço para ampliá-lo, para transformá-lo em algo maior.
Eu adoraria adaptar o livro para o teatro, por exemplo. Já tenho algumas cenas prontas na minha cabeça, a imagem de um palco com dois focos de luz, duas atrizes dialogando… E como fazer para ter público para uma peça adaptada de um livro que ninguém nunca ouviu falar? Não me resta alternativa, senão falar dele exaustivamente, sem receio de ser enfadonha e sem vergonha de vender.
Porque, ainda por cima, tem isso, a vergonha. Não sou a única que fica com vergonha de vender algo que dá tanto prazer para produzir. Este é um sentimento bem comum entre as pessoas das artes (o que me conforta bastante, se querem saber). A gente fica com aquela dúvida: se é gostoso, não deveria ser hobby? Se é hobby, por que tenho que cobrar? Se eu ficar vendendo vou ser chata? Eu não quero ser chata. Essa é a grande falácia do artista.
O
, do Puxadinho do Luri, por exemplo, também já falou do receio da autopromoção, com uma outra preocupação, a de não querer incomodar. Foi na 100ª edição da sua newsletter que ele escreveu:”Eu acho que em algum ponto incorporei uma visão de não querer incomodar ninguém, de não querer ser julgado, de não empurrar algo que ninguém quer. E, de alguma forma, eu acho que é super chato para quem recebe a divulgação. Daí, eu fico no eterno dilema de querer fazer uma coisa legal, mas não conseguir divulgar”.
No meu caso, tem dias que não é nem a vergonha, nem o receio de incomodar, nem a síndrome do impostor que me impede de me autopromover. É a preguiça mesmo. Sim, tenho muita preguiça.
Seria tão bom ter alguém ao meu lado fazendo essa parte chata… Alguém que criasse nas minhas redes sociais e deixasse meu feed bonito. Que me sugerisse pautas, editasse vídeos, criasse posts, entrasse em contato com influenciadores, com clubes de leitura, com dramaturgos. Que fizesse todo o trabalho sujo e eu pudesse ficar de fora dizendo “não entro no Instagram, tenho uma pessoa que cuida das minhas redes. Às vezes mando uma foto ou vídeo e ela posta", como ouvi a Millie Bobby Brown em uma entrevista. Mas se o livro mal paga meu café, quiçá uma assistente de marketing. E aí a gente entra no dilema do Tostines, que você, pessoa jovem, provavelmente não sabe o que é.
Tinha uma propaganda dos anos 90 da bolacha (biscoito, se você é do Rio) Tostines, que dizia o seguinte: “Tostines vende mais porque é fresquinho ou é fresquinho porque vende mais?” Eu não vendo mais porque não tenho ajuda ou não tenho ajuda porque não vendo mais?
“Ai, Andrea, você só fala em vender, vender, vender”.
Sim, eu sei que estou girando em torno desse tema. Estava até me sentindo um tanto presunçosa em querer que o livro venda muito, quando ouvi (hoje de manhã) a autora A Liana Ferraz falar, em um podcast, que assumiu para si mesma que não quer ser uma escritora para poucas pessoas. Que ela quer que a voz dela chegue em muitos lugares. Enxerguei-me ali, naquela fala, o que acabou respondendo àquele questionamento do início do texto:
Será que faz tanta diferença assim se mais pessoas pessoas o lerem?
— Sim, faz.
Mas, para isso, é preciso expandir a voz. Ir além da escrita. Ser multimídia, como disse Jana Viscardi no mesmo podcast. É nesse ponto que falho miseravelmente. Não sou multimídia, saco.
A verdade é que eu acho que quem escreve deveria poder só escrever. Assim como quem é médico deveria poder só medicar. Mecânicos, consertar. Arquitetos, projetar. Pintores, pintar. E influenciadores influenciar. Porém, hoje todos tentamos ser influenciadores. Todo mundo está nas redes sociais tentando convencer o outro de alguma coisa. Já falei disso, né? Com a função de influenciadora, tenho então três profissões: a diretora de marketing da minha empresa, a escritora e a influenciadora. Adiciona-se todo o trampo da produção de conteúdo e eu já tenho uma quarta função, a de social media. Quem é que dá conta disso tudo?
Mas não se enganem com meu falso desprendimento das demais mídias, tá? Se me convidarem para podcasts, grupos de leitura, entrevista de jornal, até live no Instagram, vou adorar (#ficaadica). Porque, como já disse, adoro falar do livro. O que cansa é a tal produção de conteúdo estruturada, estratégica, visando um objetivo tangível e mensurável.
Até tenho alguns desses conteúdos na cabeça, prontos para serem produzidos e postados. Estão lá há dias, mas estou travada. Não consigo mais me sentar para focar nisso. A repulsa tem sido maior do que eu. Sei que preciso. Sei também que vou ceder. Mas, antes disso, preciso me dedicar a algo que, desde que lancei o Engravidei, tenho me afastado: a minha própria escrita.
Não sei se você percebeu, mas a newsletter tem saído quinzenalmente ao invés de semanalmente. As ideias do próximo livro estão só na cabeça, não tenho nem um rascunho. Os textos da Comunidade de Escrita estão pela metade. Nem os e-mails do trabalho estão sendo bem escritos (tenho pedido para a IA fazer boa parte para mim). Este não é o meu normal. Eu gosto de colocar a mão na massa, de fazer a cabeça funcionar. Estou sentindo falta da Andrea escritora. Da Andrea Me Conta contando histórias. Acho que pode ser esse o motivo de eu ter enjoado da divulgação do livro.
Sim, talvez seja isso.
Engravidei
Os eventos literários que me programei para participar se encerraram este ano (pelo menos por enquanto), mas o Engravidei vai circular!
As ganhadoras (primeiro e segundo lugar) de todas as categorias do 6º Torneio Feminino de Beach Tennis em Comandatuba vão ganhar um exemplar do livro autografado. Este torneio é muito legal! Organizado pela Mari, minha amiga e sócia da Travel Sports, ele leva para a ilha de Comandatuba simplesmente 150 mulheres para quatro dias incríveis de jogos, festas e o principal, a descompressão do nosso dia-a-dia cheio de afazeres. Falei do torneio AQUI.
Sim, o beach venceu.
Não aprendi dizer adeus
🍿 Séries
Acabei de assistir Dias Perfeitos de Raphael Montes, que está disponível no Globoplay e está DE-MAIS. Impactante, eu diria. Com plot twist, do jeito que eu gosto. Embora algumas pessoas se digam saturadas com o suspense que choca do autor, eu continuo adorando. Roí as unhas enquanto acompanhava Téo em sua obsessão por Clarice e toda a maluquice que isso o levou fazer.
📚 Livros
Preciso indicar aqui Verdade Oculta, da minha amiga e escritora Dani Baez (aqui no Substack como
). Uma trama de suspense bem construída, com uma personagem feminina que vai descobrindo sua força a medida que se descobre envolvida em um escândalo da indústria da beleza. Vale a pena.
🏖️ Por aí
Parece que, esta semana, quase tudo que li estava, de alguma forma, relacionado ao texto desta newsletter.
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já havia dito: a vida offline é um luxo.✅ Quando foi a última vez que você fez algo por você?
me emocionando, sempre.✅ Lincoln Michel diz que a estatística da venda de livros não é beeem essa que dizem por aí
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acertou: uma escritora puxa a outra e assim nos fortalecemos.✅ O autoconhecimento é a base da criação. Matou a pau,
✅ O melhor texto sobre a crítica de Aurora Bernardini à literatura que eu li.
✅ E o olhar atento de uma escritora ao seu próprio bairro?
✅ Pra não perder o costume: dicas de filmes da Cynthia.
✅ Moda ou tendência? Espero que seja tendência:
Mas deixo você ir
Essa news de hoje foi escrita como um fluxo de pensamento, com meus questionamentos e inseguranças. Como é aí com você? Já se pegou nesse dilema entre querer ser lido/visto/ouvido e, ao mesmo tempo, cansar da vitrine que o mundo digital exige? Me conta!
Até a próxima!
Um beijo,
Andrea
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Talvez o ponto não seja o livro em si, mas o conjunto de obras literárias de um autor. Isso permite entender quem escreve e a evolução das suas obras.
Mulher, que texto! Olha, vou lá dar meus dois centavos: que bom que você tem outra ocupação além da escrita. Eu também tenho, e não vejo mal nisso (já vi antes). Isso permite que a gente não coloque pressão no nosso eu criativo, que a gente deixe a escrita no lugar que ela merece. Annie Earneaux (menciono ela pq tenho lido alguns livros, mas tenho certeza que há várias como ela) foi professora de literatura em liceus franceses e depois trabalhou como docente na universidade de Cergy-Pontoise. Durante décadas, trabalhou no ensino, e só muito depois “viveu de escrita”. Inclusive ela trabalhou como docente até se aposentar. Longe de mim nos comparar a ela, mas um lembrete de que até grandes escritores tinham trabalhos para pagar suas contas.
Agora, o que me cansa é também a divulgação, mas é um problema da época em que vivemos, infelizmente. No passado também era difícil ganhar reconhecimento, por outras razões, mas era. Penso muito que a gente precisa focar em falar com as pessoas certas e construir relacionamentos. E fora isso, divulgar sem vergonha mesmo. Eu, por exemplo, sempre que recebo um comentário sobre meu livro, tiro print e compartilho, porque aí não sou nem eu falando hahaha acho útil. Continuo concordando que é um saco, mas hoje vejo mais como ossos do ofício mesmo.
Porém não deixo de desejar que um influencer descubra meu livro, ou algo assim 😅 sonhar não custa nada.
Enfim, queria dizer que te entendo, e estamos juntas!! Um beijo e sucesso!!