Estive em Paraty na última semana. Ô cidadezinha difícil para se locomover. Em Paraty anda-se sacolejando o corpo para se equilibrar nas pedras antigas do calçamento. É assim em todo o centro histórico. Tão lindo, com suas casinhas brancas de portas e janelas coloridas, mas que mal conseguimos contemplar ao andar. Se desviamos os olhos do chão, pimba, o tropeço nos alcança.
Foi assim, nos trancos e barrancos de um caminhar tortuoso, que testemunhei as mais curiosas situações.
Em uma esquina na Rua Geralda, por exemplo, tropecei e caí, feito bacalhau na rede, dentro de uma casa. Olhei para cima e vi o letreiro: “Casa Portugal”. Interessante. Resolvi ficar. Excelente escolha, Andrea Cristina. Eles serviam pastel de nata quentinho e vinho português. Ocupei minhas mãos com as delícias e me sentei para ouvir uma roda de conversa que acontecia por ali.
Imediatamente reconheci as figuras centrais do papo. Eram Noemi Jaffe, Afonso Cruz e Andrea del Fuego, autores que admiro muito. Tratei de engolir meu pastel de nata para não desviar a minha atenção daquele trio, que falava do belo e da arte. Dos sons das palavras. Do ritmo do texto. De processo criativo e de criação. Da existência ou não do temido bloqueio criativo.
— Você tem bloqueio criativo, Andrea? — perguntaram à Del Fuego, não a mim.
— Não. Eu tenho é família. — Ela respondeu, mas poderia ter sido eu.
Fim do papo, hora de sacolejar nos paralelepípedos novamente. Agora um pouco mais difícil por estar inebriada de vinho e de palavras.
Felizmente, encontrei algo muito familiar à mim, moradora da cidade de São Paulo: uma fila. Estacionei por lá, para descansar das pisadas tortas e conversar com as pessoas. A maior parte daquela fila era de adolescentes. As meninas à minha frente tinham apenas 15 anos e eram ali de Paraty mesmo. Curiosa, esperei para ver no que ia dar.
Entramos em um auditório com ar condicionado - ô glória - e esperamos. A agitação era palpável e os ruídos das palmas e gritinhos histéricos com a entrada dos convidados foi justificada. Eram Raphael Montes e Mariana Salomão Carrara ali na frente. Ambos falando da beleza que é contar histórias e, no caso do Raphael, sobre adaptações para o audiovisual.
— Adaptar é trair por amor — disse, assim tão leve, sobre desapegar do texto original quando este é adaptado para o audiovisual.
Saí de lá ainda pensando em roteiros, adaptações, quando, num tropeço sem jeito em uma das pedras tortas, caio sentada no colo de um moço, que conversava alegremente em uma mesinha na calçada. Com o rosto quente e vermelho de vergonha, levanto-me rapidamente e, ao me desculpar, percebo que é um rosto conhecido. Vejo-o sempre no Instagram, a ponto de pensar que somos amigos. É Pedro Pacífico, o Bookster.
— Desculpa aí, Bookster. Adorei a última indicação de livro. Podemos fazer uma foto?
Feliz da vida, continuamos nossa peregrinação pelas vielas apinhadas de gente, mas não demorou muito para que eu sentisse meu tornozelo doer. Devo ter torcido no último tropeção. Precisava me sentar. Estava bem ao lado da Casa Pagã e resolvi entrar.
Mancando, segui até o fundo dessa casa comprida. Havia muitas cadeiras, mas todas estavam ocupadas. Não tive alternativa senão me sentar na escada. Acomodei-me em um dos degraus, a Dani no degrau mais abaixo. Algumas pessoas abaixo dela e outras pediram licença para se sentar nos degraus acima de mim. Casa lotada. O tornozelo não doía mais quando meu pé começou a formigar e meu derrière ficou quadrado. Pensei em andar novamente, mas eu mal conseguia me mexer, quanto mais sair de lá.
Que bom que não saí. Era a hora de Marcelino Freire conversar com Andrea Del Fuego. Sim, ela de novo. A essa altura já me considerava sua best friend.
Ambos falaram muito sobre o início de suas carreiras literárias, de seus perrengues e, principalmente, de como a amizade com outros escritores foi fundamental para que pudessem continuar neste árduo ofício que é o da escrita.
Marcelino é uma autor caricato, engraçado sem fazer esforço, emocionado. Dá vontade de dar um abraço nele cada vez que ele mencionava a crença que tem nos artistas, na palavra e nas energias que nos movem a todo momento. É um homem de muita fé. E de uma fé muito linda.
— A fé remove frases — ensinou a nós, novos autores.
E Andrea, minha xará best friend forever, foi cirúrgica quando falou sobre voltar ao texto, não desistir, insistir e acreditar. Deixou algumas pitadas de sabedoria em forma de poesia, ensinando-nos sobre algumas angústias do escritor como a de não saber o que escreveu.
— Você é só mais um intérprete daquela partitura que você fez.
Infelizmente, a bunda estava quadrada quando o papo terminou e eu saí sem dizer tchau. A multidão do lado de fora foi me empurrando rua por rua. Pedra após pedra. E, fazendo um esforço grande para não esbarrar em uma senhora que andava muito devagar, me embananei nas minhas próprias pernas e empurrei um moço muito alto, que me ajudou a me colocar de volta ao meu eixo.
— Rodrigo Santoro! — quase gritei ao olhar para cima — Desculpa, não consegui ser blasé.
— Pra quê? Ser blasé não vai te levar a nada na vida.
— Então vamos fazer uma foto?
Ao me despedir de meu novo conselheiro Rodrigo, percebi estar perto de um lugar conhecido. Do ponto de partida da minha segunda vez na Festa Literária Internacional de Paraty: a Casa Portugal. Entrei, servi-me de mais um pastel de nata quentinho, uma(s) taça(s) de vinho e encerrei o dia bamboleando meu corpo em cima das pedras do caminho de volta à pousada. Estava um pouco alta, é verdade, mas não tentei esconder a embriaguez. Afinal, em Paraty nunca se sabe quem está bêbado, pois todo mundo anda se equilibrando.
Coletiva News ✨
Este ano não haveria nenhuma mesa em Paraty que discutisse a escrita de newsletters, que tem crescido mais e mais desde que entrei nessa plataforma chamada Substack em 2022.
Desde então o Susbtack mudou. Ganhou cara de rede social. Conectou muita gente e fez o que parecia impossível neste mundo de vídeos curtos: levar um conteúdo ESCRITO a milhares de pessoas.
Ano passado nós aqui, desse puxadinho da internet, tivemos nosso lugar ao sol na Flip, em uma linda roda de conversas puxadas pelas incríveis
, e . Mas este ano ficamos ao léu.Foi pensando em levar um pouco daqui pra lá e não deixar esse papo de newsletter morrer que nós,
, , , , e eu, nos unimos e criamos nosso jornalzinho: o Coletiva News.


Nele, uma pequena amostra das nossas newsletters só para que as pessoas soubessem como aqui é mais legal. Hahaha.
Como disse a Gabi Albuquerque:
Foi um gesto pequeno, mas que carrega algo imenso:
ocupar com afeto.
a palavra como território.
o impresso como resistência.
a coletividade como um abrigo.
Quer ver como ficou?
Clique aqui e acesse o arquivo digital ✨
Agora a melhor parte: nossa cobertura em vídeo, com a edição da Marina que ficou per-fei-ta. Quis contratá-la como videomaker da firma, mas ela quer continuar a ser escritora, fazer o quê? Mas vai lá ver que lindo:
Engravidei na FLIP ✨
Estar na Flip como AUTORA é surreal. Ter uma programação própria então é tipo um sonho realizado. E, na programação teve: autógrafos na Casa Escreva Garota, bate-papo sobre criatividade na Casa Caravana e encontros com minhas amigas de escrita mais lindas da comunidade da Ana Holanda. Amei!



📚 Em tempo:
O Engravidei continua à venda no site da Editora Caravana (livro físico) e na Amazon (para Kindle). Ah, inclusive, se você tem Kindle Unlimited, você pode baixar o Engravidei e ler na faixa.
⚠️ Ah, se você já leu, não se esqueça de deixar sua avaliação na Amazon. É super importante e faz muita diferença para essa nova autora brasileira.
Não aprendi dizer adeus
Ainda sobre a escrita de newsletters na Marinando
Ainda sobre o Coletiva News, um texto escrito a muitas mãos
Mudando de Flip pra flerte: manual do flerte pra quem desaprendeu
E um pouco de silêncio para estimular a criatividade
Perrengue chique em NY
Na minha news da Flip do ano passado eu só… reclamei.
Mas deixo você ir
Mas não sem antes perguntar: que parte da crônica de hoje você acha que é ficção?
Nos vemos em breve!
Um beijo,
Andrea
Ah, finalmente consegui chegar. Meio atrasada (se bem que esse é um dos lados bons dessa Rede, o conteúdo não ter validade), para ler tudo que a Andrea iria escrever sobre a Flip. Eu vi o vídeo que elas postaram lá na outra rede e estava esperando por esse texto, porque sabia que viria com detalhes. Primeiro parabéns pra vocês, eu simplesmente AMEI a ideia da news impressa e distribuída por lá, como assim Newsletter não foi pauta para mesa de conversa?! Acompanhando o que vocês compartilharam, pensei: Isso que elas fizeram é arte, arte com estratégia. Planejamento, Execução, Divulgação, com direito a overdelivering (pedi acesso ao arquivo digital). Amei cada tropeço desse texto, a escritora aqui da pontinha debaixo do mapa sonha em um dia ir para Paraty. Hoje, adorei passear por lá enquanto te lia. Que experiência hein, já pensou na próxima edição isso ser maior ainda? Já viajei aqui...vocês oferecendo um serviço para outros escritores (que talvez até nem possam ir pessoalmente), ter um espaço aí nesse jornal...sei lá, só pensando alto kkkkkk
alguma parte era ficção? eu tava acreditando em tudo, poxa vida... hahaha