Era sábado de manhã. Aquela leveza dos sábados de manhã conduzia meus movimentos, como se o tempo, lento e suave, me ensinasse a arte de simplesmente ser.
— Mamãe, a gente vai conseguir ir na minha troca de faixa?
Meu corpo se enrijeceu. Muda, olho para o relógio. 11h27. Procuro minha agenda. Está lá. Sábado, 23 de novembro, 9h, troca de faixa.
— Filho… Então… Olha só…
Esqueci.
Assim como esqueci meu celular dentro do avião na semana anterior. E a consulta médica. E o pagamento do espetáculo de ballet. E de levar a raquete de beach tennis no dia da aula. E a devolutiva da leitura crítica do meu livro.
Bom, você entendeu.
Isso tem me deixado muito incomodada. Sinto-me velha. Tenho medo do Alzheimer. Nem assisti Ainda Estou Aqui para não alimentar esse monstro que vem me assombrando cada vez que perco algo ou esqueço um compromisso.
Em casa sou motivo de chacota. Mamãe perde o celular três vezes por dia. Eles têm, inclusive, respostas na ponta da língua para me dar.
— Alguém viu…
— Não.
Não sabem nem o que busco, esses ingratos. Mandar o kimono na mochila no dia do futebol não é motivo para não ajudar essa pobre mãe esquecida.
Trocar os dias. Isso pra mim é o pior de tudo. Ou ter a agenda mental tão no futuro, que ajo na segunda como se fosse terça. Marcar algo para “amanhã” pensando estar marcando para quinta e não para quarta. Não sei nem se estou conseguindo te explicar o caos da minha cabeça. Aliás, que dia é hoje? Terça? Quarta? Alguma coisa no meio, entre o caos e a esperança de que o ano acabe logo e que carregue com ele esse fuá.
Tem isso também. Fim de ano.
Esse amontoado de “preciso resolver isso ainda este ano” em choque com o “deixa para janeiro” me cansa. Mas tem algo sobre essa época que mexe com o tempo também. Os dias parecem mais curtos, as semanas mais cheias, e o “já é dezembro” pega a gente no susto. De repente, você não sabe se está no meio da semana ou no meio do caminho para perder a sanidade.
A sensação é de correr na esteira: você corre, corre, mas nunca chega ao fim. Como um hamster na sua rodinha que gira eternamente.
A vontade que tenho é de pegar um controle remoto e pausar o tempo. Aí eu resolveria tudo que tenho que resolver com calma, ou simplesmente pararia para respirar um pouco, antes de apertar o play novamente. Mas infelizmente fazer isso não é possível. Eu não sei onde coloquei o controle remoto.
Não aprendi dizer adeus
✏️ Eu já escrevi sobre minha memória ruim na edição 79 da news. Era dia 26 de janeiro de 2023. Coincidência?
📚 Acabei de ler Intermezzo da Sally Rooney e não entendi o buurburinho em torno do livro. Achei chato. Moroso. Mas fala sobre família, dois irmãos enlutados que quase não se falam. O final me tirou lágrimas, mas foi penoso chegar até lá.
📺 Assisti à série do Senna na Netflix e adorei. Mas, mais que a série, o making of me deixou sem fôlego. Eu amo saber de bastidores e a estrutura que foi criada para a série é fenomenal. Vale a pena ver os 2.
📺 Assisti também Um espião infiltrado, da Netflix, em que um professor viúvo ganha uma nova chance na vida ao virar detetive em uma casa de idosos. Comédia levinha, sensível e adorável.
🎞️ Também assisti Wicked e escrevi a respeito na semana passada.
Da newslettersfera
💌 Gabi tem uma escrita apaixonante é um dos textos que gosto de ler.
💌 Marina relembrou a época de provas.
💌 Cynthia escreveu como convidada para a Pet Letters
💌 Gabi Fagundes leu Viola Davis e relacionou com Brenée Brown
💌 Ana Rüsche escreveu sobre livros em malas de viagem. Dicas pré-férias!
💌 Bia Guarezi fala do termo “brain rot”, palavra do ano do dicionário de Oxford.
💌 Mari Wechsler fala de neurônios espelho e maternidade.
💌 Eu também falei sobre isso há um tempo, na edição 55.
Mas deixo você ir
E, antes que me esqueça, obrigada novamente por ler.
Um beijo,
Andrea
amiga, certeza que tu não tem TDAH? Você tá descrevendo quase a minha vivência com o Murillo antes do diagnóstico rs
eu anoto tudo para não correr o risco de esquecer uma coisa importante. e também para desocupar um pouco o cérebro no esforço de ter que lembrar de tudo.