“Será que estou velha ou estou por fora?”
Quando meu marido me chamou para ir ao Lollapalooza pra ver o show do Foo Fighters, olhei o lineup (a famosa lista de artistas de um festival) e nada mais além deles me interessou. Nada.
Mas o que me chamou a atenção foi o fato de EU NÃO CONHECER NENHUMA BANDA além do Foo Fighters. Quer dizer, conhecia Gloria Groove que eu acho até mais ou menos e Fresno que, na minha opinião é um grande não, obrigada. Fora esses, zero. ZE-RO.
Por isso a questão: será que estou velha ou estou por fora?
Eu entendo que, assim como uma feira de negócios apresenta novidades de uma determinada indústria a seus participantes, um festival de música expõe novos nomes da cena musical para o público.
Mas tinha gente ali (pelo o que vi pela televisão) realmente curtindo umas bandas de nome esquisito. Ou seja: existe público para tudo e todos e eu não consigo acompanhar.
Estou por fora…
Caraca, como é difícil acompanhar esse mundo em constante mudança. A gente tem que saber o que é metaverso e ainda conhecer o raio da banda com nome esquisito que está na moda, pra poder entender o que se passa nas rodinhas, encontros e até em nosso próprio feed das redes sociais.
Esse mundo, que não sei mais se é V.U.C.A. (Volátil, Uncertain, ou seja, incerto, Complexo e Ambíguo) ou B.A.N.I. (Brittleness, ou seja, frágil, Ansioso, Não-linear e Incompreensível), tem me deixado ansiosa.
Frequentemente tenho lidado com aquela sensação de estar perdendo alguma coisa, sabe? O tal do F.O.M.O (fear of missing out - ou medo de perder). Mas não sei se por conta da terapia ou dos quarenta anos (ou os dois), tenho racionalizado mais esse sentimento. Quando ele vem, sinto como se estivesse com um sutiã apertado, que é um incômodo difícil de ser identificado, mas que quando é desabotoado, liberta até a alma.
O sutiã desabotoado é reconhecer que às vezes estou por fora e quero continuar por fora. É conhecer as limitações de armazenamento do meu cérebro. É saber que podemos sofrer de “infoxicação”, a intoxicação pelo excesso de informações.
Não dá pra aproveitar tudo, estar presente em todos os lugares legais, ler todos os livros que queremos ler, entender de tudo o que está acontecendo ao nosso redor, acompanhar as evoluções tecnológicas e ainda ter vida própria sem surtar, sem dar pane no sistema.
O tempo é escasso e nós temos que fazer escolhas.
Saber separar o que é importante pra você do que não é pode ser a chave para diminuir um pouco essa sensação angustiante que um mundo acelerado nos causa.
Precisamos definir quais as linhas editoriais das nossas próprias vidas. Quais conteúdos serão parte do meu repertório. Do que eu gosto? O que desperta meu interesse?
Por exemplo, eu me pergunto: me interesso por música independente e bandas desconhecidas que podem - ou não - ser legais? Não. Sem sofrer. Demorei pra perceber que não preciso ser daquelas pessoas que descobrem rock espanhol (alô Bento, meu amigo!) no Spotify. Eu acho isso muito cool, muito chique, muito coisa de gente inteligente. Eu até quis ser assim, mas não consegui pelo simples fato que não me interessa.
Quando a gente identifica essas padrões no nosso comportamento - a ansiedade e angústia de estar por fora - fica mais fácil se perguntar se a gente realmente quer estar por dentro daquele assunto. Se a resposta for não, não quero ou não preciso, a paz de espírito vem.
É isso e tá tudo bem. Risos.
Novo normal ou normal de novo?
Enquanto você está lendo essa newsletter, estou cheia de alegria e apreensão no primeiro evento que organizo após o lockdown. Tivemos que aprender tudo de novo e a sensação agora é aquela de primeira vez.
Por isso, voltando a falar sobre o Lollalooza, outra reflexão que o evento me trouxe foi a de que estamos começando a ter nossas vidas de volta aos trilhos novamente. Ouvi relatos de pessoas que choraram ao entrar no festival, por não acreditarem ser possível ter esse tipo de experiência tão cedo. Será que vou estar chorando enquanto você lê isso aqui? Hoje, quando entrei na montagem do evento, chorei.
Como organizadora de eventos, tem mais uma observação importante: essa foi a edição do festival com o maior número de patrocinadores. Sinal que as empresas e marcas estão sedentas pelo contato mais próximo com o público. Yay!
▶️ Veja AQUI uma matéria do Money Times sobre como o Lollapalooza representa um marco na retomada
Três lições do Lollapalooza para nossas vidas:
LIÇÃO 1
Tenha sempre um plano B ou um bom lineup. O baterista do Foo Fighters, Taylor Hawkins, faleceu pouco antes do evento no Brasil e a principal atração do terceiro dia não veio. Soube que Planet Hemp entregou tudo, mas pra muita gente que ia só pelo Foo Fighetrs, o festival se acabou. Óbvio que festival de música é experiência, mas o cancelamento da banda teria um impacto menor se o lineup não se apoiasse tanto em apenas uma atração de peso. Serve para os meus eventos: um só palestrante de peso é bem arriscado.
▶️ Eu AMEI essa matéria do Promoview sobre a experiência Lollapalooza de ponta a ponta porque, de brinde, eles trazem as ativações de todos os patrocinadores do evento.
LIÇÃO 2
Saiba gerenciar crises. O Lollapalooza sofreu com tempestade, interferência do governo e cancelamento de show. No Oscar teve a porrada do Will Smith no Chris Rock. Como os organizadores lidam com isso? Adorei o texto sobre o tema da Patty Segato para o Portal Radar, que você pode ler AQUI.
LIÇÃO 3:
Não faça seu job correndo, que ele sai de qualquer jeito. O TSE, a pedido do presidente, proibiu manifestações políticas no festival, sob pena de multa, mas o advogado do PL conseguiu errar o e-mail e o CNPJ do festival e a determinação foi invalidada. Anitta vai poder comprar mais uma bolsa. 🤦🏻♀️
Memes da semana
Passei mal de rir com a Miley Cyrus com sua bolsinha de senhorinha no palco do Lolla.
Essa cena gerou vários memes, mas o melhor deles é esse aqui:
A newsletter de hoje foi um pouco diferente. Por conta do meu evento nessa semana, resolvi me ater a apenas um tema e colocar menos links. Na verdade, simplesmente me sentei e escrevi algumas das minhas reflexões, pra não perder o timing de falar do festival
Não sei como esse número um apareceu aqui e não estou conseguindo eliminá-lo. Seguimos com ele então.
Um beijo e até a próxima semana.
- Andrea
(PS: para falar comigo, apenas responda esse e-mail ou escreva para andrea@ideaonline.com.br)
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👩🏻💻 curadoria e textos por Andrea Nunes, empreendedora, marketeira, curiosa e aspirante a escritora.
Faço questão de ficar por fora quando o assunto são essas banda novas! Muita paz de espírito, zero crise! Rsrsrs