No último sábado fiz um curso de escrita afetiva com Ana Holanda, que é escritora e foi editora da revista Vida Simples por 10 anos. Foi tão legal… Especialmente porque o último curso de redação que eu fiz foi o “redação para o vestibular", com o professor Nino, lá em Jau, no final dos anos 90.
Nino me odiava e eu odiava a aula dele. Questionava todos os estilos. Minha escrita é livre, enquanto a dele era… Bom, era aquela escrita quadrada que a gente aprende a fazer pra usar no vestibular da Fuvest. Argh!
Fui empurrando o Nino com a barriga por dois motivos: minha mãe achava importante e tinha um crush meu na sala. Até que chegou o dia de fazer o vestibular da faculdade dos meus sonhos, a ESPM.
Não me lembro do tema da redação, mas me recordo muito do momento em que escolhi usar a estrutura de escrita do professor Nino e não a minha escrita livre.
Tirei nota 10 na redação. O problema: valia 20.
Com esse histórico decepcionante do último curso de escrita da vida, o curso da Ana Holanda foi um respiro. Por isso hoje escrevo aqui com bastante liberdade e sem achar que deveria seguir algum tipo de estrutura.
A newsletter de hoje é especial por falar de estratégias de marca (branding) em produtos do agronegócio. Temos:
Storytelling no hortifruti: a história por trás das frutas
A união faz um marketing de força
Adesivo de fruta é arte pura!
Vamos juntos!
Storytelling no hortifruti: as histórias que as frutas contam
Você vai à quitanda para comprar laranja. Olha para todas aquelas esferas amarelas dispostas uma em cima da outra e começa a escolher pelo peso, pela firmeza, pelo grau de maturidade. Também escolhia meus namorados assim, mas deixa isso pra lá, voltemos às laranjas.
O que eu quero dizer é: você NÃO escolhe laranjas pela marca.
Mas (e sempre tem um “mas”), você já percebeu que tanto elas, quanto as maçãs, bananas e tantas outras frutas têm um pequeno adesivo grudado em suas cascas?
Você talvez nem leia o conteúdo desse adesivo, mas ele está lá para lembrá-lo que, por detrás daquela fruta, existe um produtor que zela por sua qualidade. Isso é ou não é uma forma de gerar confiabilidade no consumidor?
Na imagem da manga que eu tirei hoje no hortifruti perto de casa, por exemplo, descobri que seu produtor é o Carlão. Qualquer problema que a gente tiver, é só ligar pro número na etiqueta.
O engraçado é que essa pequena etiqueta, com um nome e um número telefone, me fez construir uma imagem mental e uma história. Eu quase que consigo ver o Carlão todo orgulhoso ao chegar em casa e falar pra esposa que vendeu toda a produção. 🙂
Em alguns adesivos você vai ver um código mais ou menos como esse aqui:
Quando existe um código como esse, ele está lhe falando sobre um pouco sobre o sistema de produção da fruta.
Se no adesivo tem 4 cifras, como na foto acima, da suculenta nectarina chilena, a fruta foi cultivada em maneira tradicional, com pesticidas e fertilizantes
Se no adesivo estão 5 números e o primeiro é 8, o produto é OGM – geneticamente modificado.
Se o adesivo tem 5 números e o primeiro é 9, o produto vem de cultura que não usa pesticidas
Se pensarmos bem, além de informar, o tipo de cultivo da fruta também faz parte da história do que você está comprando. E contar histórias faz parte da comunicação do produto. Estou viajando?
Agora, se você quer conhecer de verdade as histórias sobre sua compra de hortifruti, Procure por códigos QR. Olha só esse que encontrei nas bananas:
O Código QR leva pra esse site AQUI, que é praticamente um relacionamento mais íntimo com o consumidor. Além de informar de onde a banana vem, de sua cadeira logística e seu modo de produção, a página ainda dá dicas de quando ela está no ponto para ser consumida e receitas, como um smoothie e biomassa de bana verde.
Isso é aproximar o produtor do consumidor em sua essência.
E pensar que você só queria comprar umas laranjas e saiu do hortifruti sabendo da vida de um monte de frutas… Fofoqueiro!
A união faz um marketing de força
Embora produtores de frutas tenham apenas pequenas oportunidades para manter uma conversa com o consumidor, quando eles se juntam, dá pra fazer um trabalho de branding incrível!
Primeiro porque, dependo da cultura, os produtores são pequenos e normalmente não têm grandes verbas de marketing.
Segundo porque a própria logística do hortifruti pode ser muito custosa e exige que o produtor amplie seu foco de atuação, que é a produção agrícola em si, para a comercialização.
Terceiro porque a união faz a força mesmo.
Aí, quem entra na jogada são as associações, cooperativas e outras entidades. É exatamente onde está o pulo do gato, na minha opinião.
Um exemplo clássico de união que faz a força (e que eu amo) é a campanha “GOT MILK?” americana. Ela não foi feita para uma marca específica de leite e sim para TODA A CATEGORIA. O Conselho de Produtores de Leite da Califórnia uniu produtores concorrentes para divulgar os BENEFÍCIOS do consumo de leite e, assim, aumentar as vendas do produto em si. Eles então criaram uma campanha para o LEITE e ponto. A campanha conseguiu aumentar o consumo do produto nos EUA e, automaticamente, todos os players do mercado saíram ganhando.
Fiz um post sobre essa campanha no ano passado no meu perfil do Instagram.
Tem mais algumas curiosidades por lá:
O exemplo do “GOT MILK?” é de uma campanha muito bem pensada para o mercado interno norte-americano.
Porém, para fortalecer a imagem de qualidade de um determinado produto agropecuário, uma estratégia bem comum é atrelá-lo à sua origem.
Olha só:
Quando você vai ao mercado e compra Kiwis da Nova Zelândia e se sente muito fino.
Ou adora comprar peras argentinas, porque as conhece pela suculência
Café colombiano - huuuuummmm
Queijo da Serra da Canastra então, todo mundo sabe que é uma sacanagem de tão bom.
Esse tipo de fortalecimento de marca tem uma estratégia em comum:
São ressaltadas as qualidades do alimento.
Visam o aumento da demanda pelo alimento em questão e, quem sabe, estabelecer um novo hábito de consumo no longo prazo.
Quem aqui começou a comer chia quando as revistas de saúde e boa forma começaram a falar dela? É por aí.
Quem financia a campanha são os próprios produtores, que destinam uma porcentagem dos seus rendimentos para que as entidades que os representam possam investir em pesquisa, relações públicas e mídia. Com vários produtores contribuindo, o orçamento fica maior e o “barulho” feito também.
Quer se aprofundar um pouco mais?
Essa reportagem incrível da Revista HF Brasil sobre marketing no setor de hortifruti traz mais exemplos de campanha. Adorei!
O The Packer traz uma entrevista com o diretor de comunicação da empresa de alimentos Dole, que é um verdadeiro estudo de caso. A empresa uniu-se com a Disney para promover a alimentação saudável e, assim, aumentar o consumo de frutas, especialmente a banana. Tem até um álbum pra você imprimir e completar com os adesivos da Marvel das bananas. GE-NI-AL!
Adesivo de fruta é arte pura!
Um dos maiores exportadores de frutas do mundo é a Espanha.
Além da robusta insfraestrutura para a exportação de laranjas e outras frutas cítricas, eles investem no design de embalagens de papel, caixas sob medidas e selinhos de frutas.
Agora essas pequenas pérolas do design gráfico ganharam status de obra de arte ao serem o tema de uma nova exposição em Madrid. Apresentando mais de 300 produtores em selos, papéis e caixas, a exposição chamada de Frutas de Diseño (Desenho de Frutas) é uma viagem na história da exportação espanhola desde a década de 1950.
O mais interessante: os organizadores da exposição começaram a montar o acervo da mostra contactando diversos COLECIONADORES de papéis de embalar frutas e selinhos. Pode parecer estranho, mas esse tipo de colecionador existe aos montes por todo o mundo!
Veja o vídeo sobre a exposição AQUI.
Ah, se você se interessou em começar sua própria coleção, comece logo. As etiquetas adesivas, como sabemos, não são ecologicamente corretas e é bem provável que logo sejam substituídas por uma impressão a laser na casca.
Pensando bem, acho que até eu vou começar a colecioná-los. Imagina só quanto isso vai valer daqui uns anos. Hehehe.
Fonte: esse artigo da Fast Company AQUI.
E por hoje é só, pessoal.
Estou feliz em ter falado do agro, minha área de atuação. Mas não pense que eu sabia de tudo, não. Pesquisei bastante pra criar essa edição do Andrea Me Conta e aprendi bastante também.
Espero que você tenha gostado. Me conta o que achou?
Nos vemos na próxima semana!
- Andrea
(PS: para falar comigo, apenas responda esse e-mail ou escreva para andrea@ideaonline.com.br)
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👩🏻💻 curadoria e textos por Andrea Nunes, empreendedora, marketeira, curiosa e aspirante a escritora.
Dea, amei saber sobre o tema de hoje! Que demais essa exposição!
Adorei, vou até reparar nas etiquetas das frutas