Semana passada nossa empresa organizou a 23ª edição de um dos nossos eventos. Então, se esse fosse um texto para o LinkedIn, ele seria assim:
Com muita satisfação, compartilho a incrível experiência que tive ao organizar o Herbishow, o principal evento sobre controle de plantas daninhas na cana-de-açúcar. Este evento não apenas destacou as últimas inovações e práticas no setor, mas também reforçou a importância da colaboração e troca de conhecimentos entre profissionais.
Gostaria de agradecer imensamente a todo o time envolvido, cujo comprometimento e dedicação foram essenciais para o sucesso do evento. Um agradecimento especial aos palestrantes, que trouxeram insights valiosos e contribuíram para debates enriquecedores. E, claro, aos nossos patrocinadores, cujo apoio foi fundamental para a realização deste evento.
Parabéns a todos os envolvidos! Juntos, estamos impulsionando o avanço do setor e promovendo práticas cada vez mais eficientes e sustentáveis.
Mas este não é um texto para o LinkedIn.
É um texto sobre COMO escrever para o LinkedIn. Essa rede social que dizem crescer devagar e sempre e que vem aumentando seu engajamento nos últimos anos de forma assustadora. Assustadora não por ser um crescimento vertiginoso, mas porque as pessoas lá usam mais ou menos a mesma linguagem, fazem mais ou menos os mesmos posts… Enfim, é assustador.
Por isso, para marcar o término de um grande evento, ao invés de postar lá, vou postar aqui. Mas falando sobre como postar lá.
Peraí. Melhor começar do começo.
Na faculdade de comunicação, a gente aprende que a mensagem deve se adaptar ao meio. Vamos então analisar o meio.
O que é o LinkedIn?
O LinkedIn é uma rede social um tanto deprimente, especialmente por não ter muitos memes. Eu diria que às vezes é até um tanto embaraçosa.
Disfarçada de quadro de empregos da firma, a plataforma tem um fluxo consistente de pessoas postando sobre suas vidas profissionais. Em. Todos. Os. Momentos. De. Suas. Vidas. Profissionais. Transição de carreira, promoção, desespero ou euforia. Tá tudo lá.
Mas para quê?
Vestindo a máscara do profissional perfeito e sem defeitos, as pessoas do LinkedIn estão se autopromovendo para arranjar um emprego? Serem reconhecidos? Mostrar para as pessoas seus empregos incríveis, mesmo que só sejam felizes em segundas-feiras que são feriados e não deixem de reclamar do chefe em todas as oportunidades?
Ou seria para impressionar o mesmo chefe com seu senso de liderança? Para colecionar elogios e validação virtual? Ou, acho que é o que mais se vende por aí, para reforçar a sua "marca pessoal"?
Não sei.
Se a gente não sabe bem para que postar lá, que dirá saber o que postar.
Como bem colocou o artigo The Shame of LinkedIn, do Business Insider, ao relatar toda a sua vida em uma espécie de currículo virtual com acesso fácil, gratuito e vigiado por todos, o LinkedIn parece nos deixar mais vulneráveis que o Instagram, onde a gente cria uma vida perfeita, ou o Xuítter, que só serve pra gente reclamar.
Um trechinho do artigo sobre isso que estou dizendo (em tradução livre):
No LinkedIn, as pessoas enfrentam um caso de “colapso de contexto”, onde comunicam com grupos díspares de pessoas ao mesmo tempo. Na maioria dos lugares, você sabe exatamente com quem está falando, mas o LinkedIn reúne todos eles. Isso leva a um enigma de auto-apresentação: "O que você quer ser?" É difícil pensar sobre como postar, o que postar, quando você tem lá, por exemplo, seus chefes, seus ex-chefes, talvez seus amigos da escola estão junto com seus atuais colegas ou estagiários".
Isso nos leva a mais uma parte do nosso estudo do meio: para quem postar no LinkedIn?
Tenho algumas teorias:
1️⃣ Para aquele colega de trabalho que você nunca fala pessoalmente, mas adora impressionar. Curioso que quase sempre ele comenta nos seus posts.
2️⃣ Para mostrar para o chefe a sua dedicação e seu amor pela empresa. Para aquele mesmo chefe que citei lá em cima. E também para o chefe dele. Vai que rola uma vaga de promoção.
3️⃣ Para os recrutadores que estão de olho em qualquer sinal de proatividade ou liderança. Especialmente a geração Z, que não pode ficar mais de seis meses numa mesma firma, que é muito cringe.
4️⃣ Para aquela pessoa que você nem conhece, mas que tem um título impressionante, que normalmente começa com a letra C. CEO, CMO, COO, CTO, CFO, CCO, C-etc-e-tal.
5️⃣ Para os influenciadores de carreira que repostam frases motivacionais e acumulam likes. Quem sabe você também não se torna um Top Voice?
Acho que a gente nunca posta para se gabar para os amigos. Isso a gente faz na vida real. Ou aqui mesmo. Aproveitando, preciso dizer que meu filho foi o único da sala que tirou 10 de matemática em uma prova surpresa. A quase recuperação em outra matéria eu não falo pra ninguém.
Ok, Andrea, sem fugir do assunto, me conta: como postar no LinkedIn afinal?
Já estudamos o meio. Já vimos que lá é uma salada de frutas profissional, que espera que você haja dentro do mais alto grau de profissionalismo, se comportando da melhor maneira possível, certo?
Agora vamos à construção do seu texto. Aqui vão dicas preciosas, com exemplos reais:
📸 Postando no LinkedIn como um PRO 🚀:
1️⃣ Acorde às 4 da manhã só para ter uma vantagem competitiva sobre os fusos horários.
2️⃣ Use palavras-chave motivacionais: "Liderança", "Inovação", "Sinergia".
3️⃣ A selfie no escritório com a legenda: "Trabalhe enquanto eles dormem" é essencial.
4️⃣ Conte uma história qualquer e relacione-a com ensinamentos sobre liderança, resiliência e motivação.
6️⃣ Deu tudo errado na entrevista, no projeto ou na vida? Faça um textão sobre o que você aprendeu.
5️⃣ Aliás, você sempre, sempre aprende algo sobre negócios, com absolutamente qualquer coisa que você faça na vida. Não perca as oportunidades que a vida te dá para criar conteúdo.
Quem precisa de autenticidade quando se pode parecer incrível? 😉
Deixando a ironia um pouco de lado, quero dizer que o LinkedIn não precisa ser essa coisa tosca, meio Faria Limer, meio perfil zoeira da firma. Dá para a gente ter nossa voz. Postar textos mais pessoais. Engajar de verdade. Encontrar parceiros de negócios. O LinkedIn é meio blé, mas pode ser legal. Só não dá pra flertar, porque podem te mandar passar no RH.
Não aprendi dizer adeus
✏️ Os exemplos desta edição foram todos tirados de um grupo do Facebook chamado “Grupo onde fingimos ser empreendedores emocionados do LinkedIN”. Se entrar, cuidado. A gente passa tempo demais lá e isso derruba nossa produtividade. O chefe pode não gostar.
✏️ E agora, com vocês, a banda LinkedIN Park e seu sucesso “in the end”:
Applied so hard And got so far But in the end I wasn’t even hired
✏️ E esse cara explicando o LinkedIn (clique nas palavras em rosa para ver no X):
✏️ Se ele se reinventou, você também consegue se reinventar: Daniel Radcliff diz como conseguiu mudar a maneira como as pessoas o vêem, deixando Harry Potter para trás. Poderia ser um post do LinkedIn, mas não é. Ainda. Estou pensando em fazer um.
✏️ Mesa de ping-pong é coisa do passado. Na Filadélfia, parquinhos não são apenas para crianças. Vem ver a matéria da Bloomberg. Amei todos. Iria em tudo.
Mas deixo você ir
Afinal, você está lendo essa newsletter enquanto deveria estar trabalhando. Ou fazendo network. Aliás, que tal me seguir no LinkedIn também? Até que eu gosto de lá. E sou velha demais pro TikTok.
Aguardo seu feedback.
Atenciosamente,
- Andrea
eu raramente abro o linkedin e, quando acontece, fico com um pouco de vergonha alheia de algumas coisas que as pessoas postam, principalmente as que sei que reclamam à beça de um monte de situações na firma, mas pagam de engajadas e motivadas no texto. a vontade é comentar: “a cara não arde, não?”. mas deixo pra lá pra não dar engajamento. 😂😂😂
Adorei! Nunca me entendi com o LinkedIn. Aliás, muito boa essa banda aí que você citou hahahah