- Você não precisa ser perfeita para ser amada, para merecer ser feliz.
A terapeuta bate nessa tecla há anos. À exaustão. Ela tem razão, eu sei. Mas como interiorizar essa sabedoria?
Primeira filha, primeira neta, criança bonita, aluna exemplar. Perfeita. Assim me criaram. Acreditei nessa falácia. A falácia da perfeição, que emergiu à luz do dia quando adolesci e me vi imperfeita.
Tentei provar para os meus pais que não era a filha perfeita. Criei caso, comprei brigas, chorei, fiz chorar. Como pusesse o amor deles a prova. Será que me amariam da mesma forma? Apesar de tudo o que estou causando?
Não me colocaram pra fora de casa. Nem me deserdaram. Continuaram me recebendo bem, me amparando e, muitas vezes, me socorrendo. Mesmo na minha imperfeição.
Mas eu estava quebrada. Toda vez que falhava, me punia. Chibatadas e mais chibatadas no lombo. Nunca mais me achei suficiente. Sinto constantemente que não mereço as coisas boas que me acontecem. Duvido de mim. Critico-me mais do que criticaria outra pessoa. Busco ainda ser a filha que atende todas as expectativas dos pais, mesmo que elas me façam mal.
O ápice disso foi quando me tornei mãe. Eu olhava meu bebê e chorava pedindo a Deus que não levasse aquele anjinho de volta para o céu. Assim mesmo. Um exagero vergonhoso que não deveria compartilhar com ninguém. Estou falando de uma criança saudável, forte, que até hoje nem gripe pega.
- Por que você acha que não merece ter um filho saudável?
Eu. Não. Sei. Acho que não sou boa mãe o suficiente para merecê-la.
- Diga-me então: o que é ser boa o suficiente?
Fico muda. Não tenho a resposta. Não existe uma resposta.
- Mãe, não grita.
- Só estou falando alto, porque você não me ouviu das últimas três vezes que falei baixo.
- Mas é que eu tenho trauma.
- Ah, me erra, Rafael.
Ele tira sarro, sem nem entender direito o que é trauma. Ri do “me erra, Rafael". E eu fico me penalizando por deixar o menino traumatizado.
Com a escrita é a mesma coisa. O texto nunca é bom aos meus olhos. Preciso da validação externa. Uma curtida, um comentário, uma mensagem no WhatsApp, ter sido lida na Comunidade de Escrita Afetuosa. As métricas de vaidade, dizem os marqueteiros. Excesso de autocrítica, digo eu.
O livro então, está me arrancando os cabelos. Escrevi a maior parte dos textos durante minha primeira gravidez, há dez anos. Colocava neles minha alma. Escrevia como cura para os sentimentos em montanha russa daquele momento. Quero mexer pouco neles. Respeitar quem eu era. Como eu era. A maneira como me expressava. Mas a vontade real é de reescreve-los. Acho todos horríveis. Mas, se eu fizer isso, eles não terão a mesma história. Não terão a Andrea de 2014 e não é este o intuito.
Acabo de me dar conta que pelo menos já me acho melhor escritora hoje, que em 2014 e isso é um grande avanço. Mesmo assim, não preciso ser tão crítica com quem fui. Guarda esse chicote, Andrea Cristina!
Mesmo com tamanha evolução, ainda existe muita auto sabotagem por aqui. É como se meu inconsciente agisse para comprovar a minha teoria de que, por não ser perfeita, não mereço. Ou aquela que diz que não sou boa o suficiente mesmo e pronto. Aceite, Andrea Cristina.
Quando está tudo bem no casamento, por exemplo. Meses de calmaria, até eu encontrar alguma brecha ridícula para brigar, chorar e questionar tudo. Tudo!
Outro exemplo: quando tenho algum comportamento compulsivo e desisto da dieta por dias seguidos. Não largo o biscoito Oreo. Como a Nutella até o fim. Roubo brigadeiro em festa de criança antes do parabéns a você. Entro de penetra em festa de criança que não conheço só pra roubar brigadeiros. E fico me enganando: só mais um. Só mais um. Ok, agora é verdade, só mais um.
- Não consigo me controlar - choro no divã da psicanalista.
- Não consigo não existe. Só existe o “eu não quero".
- E por que eu faço isso?
Ela me olha por cima dos óculos.
Já entendi.
E o marketing, Andrea Cristina?
Hoje tem marketing!
Na verdade, quero contar uma historinha.
No final de semana passado, fomos a uma feira de queijos ali na região da Faria Lima, onde existe uma (escultura?) de baleia.
Na verdade, a feira acompanhou um evento que aconteceu no teatro B32 ali na Praça da Baleia, o 3º Mundial do Queijo.
Como boa rata que sou - e graças à Deus não sou intolerante à lactose - provei muitos queijos, de diversas barracas.
Embora eu adore queijo, não sou uma especialista e chega uma hora que você não sabe qual gostou mais e qual vai levar. Infelizmente não dava para levar todos.
Aí que entra o marketing. Sabe qual eu levei? O que tinha o melhor storytelling.
Uma das empresas, a Queijaria Serra do Bálsamo, de Goiás, foi a que me conquistou.
Nós nos aproximamos da barraca e fomos abordados por uma menina muito simpática que, logo de cara, já nos informou que os queijos são maturados em cavernas. Uau! Captou nossa atenção.
Percebendo nosso interesse, fez o convite: vocês gostariam de fazer a degustação? Sim, claro.
Ao invés de nos apresentar o primeiro queijo que estava em nossa frente, pediu para que fôssemos para o início da barraca. A degustação estava organizada do mais suave para o mais forte.
Enquanto as outras barracas não sabiam como lidar com o fluxo de gente e ofereciam queijos aleatoriamente aos visitantes, a Serra do Bálsamo foi organizada. Contou a história de cada um. Sugeriu combinações e usos. Falou dos prêmios que haviam recebido quando chegou a vez de degustar o queijo vencedor, sem atravessar a linha de apresentação.
Estávamos em três casais. Essa foi a única barraca que vendeu para os três.
Sem tirar os méritos da empresa, pois os queijos são maravilhosos, o que nos convenceu mesmo foi a maneira de contar a história, organizada com começo, meio e fim, culminando no final feliz: a venda.
Essa semana vamos fazer um risoto com o queijo Romaria, de maturação de 50 a 90 dias e contém a delicadeza das trufas negras, trazidas diretamente da Itália. 🇮🇹 Conto pra vocês como ficou, na próxima semana. 😉
Não aprendi dizer adeus
Preciso compartilhar com você duas descobertas dessa semana:
🧘🏻♀️ Uma foi o mantra que a Camila Moura, especialista em Kundalini Yoga e Expansão da Consciência, compartilhou no Instagram. Além de compartilhar o mantra que ela entoa diariamente, Camila nos conta, com muita clareza, sobre como os mantras funcionam. “Cada som é responsável por produzir uma frequência vibratória específica dentro do corpo, que são capazes de harmonizar desequilíbrios mentais, físicos e espirituais".
Veja a explicação completa (interessantíssima) e já salva a dica do mantra:
🍿 A outra dica é o Cine Garimpo. Um ótimo perfil sobre cinema, escrito por Suzana Vidigal, que é jornalista, curadora e crítica da sétima arte. O que eu achei bacana é que a Suzana organiza, em um cinema de rua em Perdizes, o Cine Clube Garimpo: uma sessão de cinema, seguida de um bate-papo sobre o filme. Achei genial e já quero me programar para ir.
💌 Ah, já que estamos falando em cinema, quero deixar aqui uma última dica: a Cyne News, uma newsletter sobre cinema que não necessariamente se foca em lançamentos, o que a difere das demais publicações (pelo menos as que conheço). A newsletter é escrita pela Cynthia, que é escritora e especialista na área.
A última edição foi dedicada a um filme que eu AMO: Divertidamente. Sim, eu assisto desenho e não é por causa dos filhos. Já assistia antes deles.
Vale a pena dar uma olhada. Especialmente porque casa muito com o tema de hoje.
Mas deixo você ir
O texto principal da edição de hoje foi difícil de escrever. Não sabia, até agora há pouco, se enviava ou não. Mas falar sobre autojulgamento é importante. Tão importante, que é o tema principal da Comunidade de Escrita Afetuosa deste mês.
Ainda não fiz os exercícios propostos, que vergonha. Mas pelo menos me debrucei aqui sobre algumas coisas que travam o meu processo criativo e a minha entrega. É importante conhecê-los para identificá-los e deixá-los de lado.
Então, chicote de lado, aqui está a edição 94.
Até a próxima semana,
- Andrea
Andrea Nunes é publicitária de formação, comunicadora do agronegócio de profissão e escritora por paixão. Aqui compartilho crônicas, links, alguns desabafos e, de vez em quando, insights do mundo da comunicação.
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Também convivo com essa autocrítica que me deixa louca. Em vez de chicote, chamou ela de agiota, vive me cobrando kkkk estou no caminho de lidar com ela, com terapia também, a auto cobrança vem junto com comparação e isso acaba com a gente, né? A feira de queijos parece ser incrível, espero ir em alguma um dia.
Oi Andrea! Me identifiquei tanto com a autocrítica quanto com os queijos! Parabéns pela edição =)