#90 - E o marketing, Andrea Cristina?
O manifesto da mudança de direção desta newsletter
O marketing?
Ah, o marketing… Quando foi mesmo que ele entrou em minha vida?
Lembro-me da oitava série. Das apostilas da escola, com desenhos de uma bonequinha com cabelo doidinho, que usava shampoo tal e ficava com ele arrumadinho.
Lembro-me do primeiro colegial (colegial = ensino médio para os millenials), quando, em um dos projetos da escola, criei, produzi e protagonizei um comercial de chocolate, o ChocoRock, junto com minha melhor amiga e um amigo roqueiro. Descobri ali que anúncios tinham, normalmente, duração de 30 segundos. Nota 10 para o grupo. Tenho o vídeo até hoje.
Chegando perto do colegial, a dúvida. Será que é isso mesmo?
Era e não era.
Eu tinha um quê de publicitária sim, mas também era artista.
Danço desde os 5 anos. Balé, jazz, sapateado, contemporâneo, moderno, street dance, you name it.
Desenho. Faço histórias em quadrinhos da minha família, fiz aula de pintura, sou sobrinha de artista plástica.
Invento histórias para as crianças.
Fui protagonista de duas peças da escola na oitava série. Ajudei a escrever o roteiro. Perdi a paciência com as pessoas do grupo que não queriam ensaiar. Dirigi cada um. Cada fala. Só não continuei porque não teve mais nenhum projeto de teatro.
Toquei piano até os 13 ou 14. Parei, mas voltei em 2022, 30 anos depois.
Escrevo desde que me entendo alfabetizada.
Escrevi três linhas de um texto numa apostila uma vez e minhas amigas me perguntaram o que ia acontecer em seguida. Não continuei o texto por vergonha.
Tive diários e agendas.
Quando me apaixonei perdidamente, escrevi. Quando me decepcionei também.
Quando estava para casar, criei um blog. Quando engravidei, criei outro (spoiler aqui: vai virar livro!).
Enquanto isso, a vida profissional foi seguindo um rumo independente.
Faculdade de propaganda e marketing na ESPM. MBA fora. Trabalho na área comercial, depois na área de marketing, depois empreender, depois trabalhar na empresa da família, tornar-me sócia, salvar os negócios na pandemia e, finalmente, chegar aqui, no mesmo lugar onde comecei: será que é isso mesmo?
Ainda na pandemia, uma amiga muito querida me incentivou a criar um perfil aberto de Instagram. Fazia sentido. Eu queria me encontrar, encontrar a minha voz e as pessoas diziam que eu era antenada e deveria compartilhar meus achados internet afora. Curadoria de conteúdo, diriam as redes mais tarde (dão nome pra tudo!).
Criei o perfil andreanunes.lab. “Lab” de laboratório mesmo. O meu laboratório particular, com uma única cobaia: eu mesma.
Compartilhava um pouco de tudo que via de interessante por aí. Inovações, tecnologias, tendências, marketing e propaganda.
Com o tempo, os textos foram ficando mais extensos, como este. Aliás, obrigada por ler até aqui.
“Você escreve bem”, disseram. Minha mãe também dizia isso, mas mãe é suspeita, você sabe. Mas acreditei neles todos. Continuei.
O “lab” virou o “me conta”. Conto mesmo. Conto tudo. Contava do cotidiano e relacionava-o com conceitos de marketing. Contei também da minha filha, de situações engraçadas, de preocupações. Contei histórias de família, falei de yoga e das crianças. Contaram-me também muitas coisas.
Quanto mais eu compartilhava, mais compartilhavam de volta comigo. Eu, como amante de histórias, comecei a gostar mais dessa troca que das postagens mais frias, mais com cara de negócio.
Abri meu coração para o mundo e o mundo abriu para mim o que ele vinha guardando há tanto tempo: ainda sou a menina do balé. Das artes. Das histórias e das imaginações mil.
Como dói constatar que não segui o que seguiria naturalmente. Literatura, artes cênicas... Pode ser que se eu tivesse ido por outro caminho, estivesse aqui pensando por que é que não fui por este. Mas é claro pra mim, escolhi a profissão pensando no possível salário, na possível posição, no mercado idealizado.
Quando quis seguir as artes, papai me disse: como você terão muitas. Mas não me disse que na publicidade também é assim. Queria ser the new Washignton Olivetto e não passei nem perto. Nem em agência eu trabalhei.
Claro que não posso reclamar. Estou em uma posição privilegiada. É fácil pensar no “e se”, tendo conquistado tanto. Também não reclamo porque não desgosto do marketing. Não desprezo a propaganda. Ao contrário. Gosto. Adoro, para ser sincera. Curto fazer um brainstorming reverso, pensar com a cabeça da marca, tentar entender porque a comunicação foi feita da maneira que se lançou ao mundo. Porque algumas campanhas dão certo e outras, que parecem seguir a receita de bolo, não. Mas não é mais isso que me tira o fôlego. As artes, ao contrário, sim.
Largaria tudo - mesmo amando o que faço - para viver da escrita. Para fazer cinema ou literatura. Começar de novo. Para ter tempo de voltar a dançar balé. Para estrear uma peça. Para tocar bem piano. Será que ainda vou viver isso tudo?
Não sei. Não vou surtar e jogar tudo para o alto, mas devagar vou tomando minha nova direção. A newsletter foi um começo. O livro é o próximo passo. Tenho umas ideias doidas na cabeça que podem ser que também se concretizem. Pode ser que não. Tenho 43 anos e ainda me sinto em transformação.
Por isso, assim como aconteceu com o perfil “lab”, esta newsletter começa a tomar outro rumo. Não vai mais ser uma newsletter sobre marketing, embora eu possa, vez ou outra, escrever a respeito.
A partir de hoje, te escrevo crônicas e outros textos pessoais.
E o marketing, Andrea Cristina?
De vez em quando ele vai aparecer. Da maneira como sempre fiz: sem fórmulas, só admiração e aprendizado. Afinal, ele ainda está no hall das coisas que gosto, mas é só um pedacinho do gráfico pizza da minha vida.
Não preciso ser especialista em nada, como prega a internet. Mas adoraria continuar me encontrando. E sou grata por quem está aqui, me ajudando tanto com essa busca.
Desculpe-me por mudar o foco, mas acho que você já estava percebendo o que viria pela frente.
Um beijo,
- Andrea
Previously, in Andrea Me Conta…
Número 2 com respeito: o que eu aprendi de mais valioso no Japão.
Andrea Nunes é publicitária de formação, comunicadora do agronegócio de profissão e escritora por paixão. Aqui compartilho, entre crônicas e links, alguns insights do mundo da comunicação.
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Já tô ansiosa pelas próximas news!
as estradas têm bifurcações para que a gente decida o próprio caminho… que os novos rumos sejam de boas paisagens e brisa fresca no rosto! 😊