Estou procrastinando há umas 3 horas.
Tenho mil abas abertas no meu navegador e uma lista de coisas pra fazer, com ordem de prioridade (sou virginiana), mas não consigo nem começar. Tenho calor, sono, leseira.
Já abri a geladeira mais de 10 vezes, como se a solução estivesse lá dentro. Não estava, mas havia um pedaço de bolo que combinou muito bem com o café.
Resolvi escrever pra ver se as palavras me levam para a ação. Prometo que conto, ao final da news, se deu certo ou não.
Nessa edição temos:
TED Talk: Dentro da mente de um procrastinador
Uma pequena crônica escrita por mim. ☺️
Uma mulher maravilhosa na semana internacional da mulher
Um merchandising bem feito e uma tendência de consumo
Dentro da mente de um procrastinador
Aproveito meu estado de espírito atual para recomendar um TED sobre o tema de abertura. Quando você tiver uns 14 minutos livres (ou esteja aí procrastinando), clique na imagem abaixo e assista, que é bem legal.
Meu Dia Internacional das Mulheres
uma pequena crônica escrita por mim ☺️
Sento-me para trabalhar. Começo a ler, responder ou deletar os mais de cem e-mails não lidos da minha caixa de entrada, mas a cabeça está em outro lugar.
Não paguei o almoço das crianças para a cantina da escola. Será que eles vão conseguir almoçar? Mando um e-mail para o financeiro da cantina, e sinto um alívio imediato. Até me responderem, a bola está com eles.
Porém, alegria de mãe ocupada dura pouco. Nem bem a situação com a cantina se (parcialmente) resolveu, eu já batia com a mão na testa novamente. “Eita! Precisava escrever na agenda do Rafa que ele vai embora com o amigo e, na da Mariana, que vou mandar as calcinhas para substituir as que vieram da escola somente na semana que vem. Preciso ligar lá já.
A ligação para a Educação Infantil foi rápida. Anotação mental: comprar calcinhas. É hora de ligar para o Ensino Fundamental.
“Oi Fulana, aqui é a Andrea, mãe do Rafael do 2º C. Esqueci de escrever na agenda que ele vai embora com o Joãozinho da mesma classe e.... O que? Mandar por e-mail?" - suspiro longo - "Ok, mando sim".
Envio o e-mail para a escola e olho demoradamente para a caixa de entrada, ainda abarrotada. Peço forças. Leio um e-mail sem pressa, clico em responder e o WhatsApp apita. É meu pai. Ele quer saber que horas é a consulta médica da próxima semana, porque, segundo ele, minha mãe está fazendo uma baita confusão com isso. Tal hora, pai, respondo.
Quase que imediatamente, minha mãe me manda uma mensagem me perguntando exatamente a mesma coisa: qual o horário do médico na próxima semana? Seu pai não está entendendo nada e está fazendo uma baita confusão.
Não, essa não é uma história de ficção. Sim, os dois moram sob o mesmo teto.
Vocês não se conversam? Escrevo enquanto faço sinal para minha funcionária esperar, quando ela entra esbaforida na sala falando que não tem nenhuma fruta ou legume na geladeira, que não encontra o maiô da Mariana que foi pra natação na semana passada, nem o fio do próprio celular que estava na lavanderia. Só um minuto, Vivi, deixa só eu responder os meus pais aqui.
Clico em “enviar” e apertam a campainha. É o eletricista que fala mais que o homem da cobra. Ele vai para a varanda para testar as lâmpadas falando sem parar, mas minha atenção é automaticamente desviada para meus vasos bem ali, atrás dele. As plantas estão amareladas. Quando foi mesmo a última vez que as reguei? Num salto, deixo celular, computador, Vivi e eletricista de lado pra regar as pobres criaturas, ao mesmo tempo que concordo com tudo o que o homem fala, mesmo sem saber do que se trata. Acho que consigo salvá-las.
Em seguida faço a lista dos itens do hortifruti e peço para a funcionária ligar lá para fazer o pedido enquanto procuro o maiô da menina na minha mochila. Estava lá, ufa. Ainda está úmido e o cheiro não é muito agradável. Merda, me esqueci de pendurá-lo no varal.
Sento-me novamente para trabalhar mas o eletricista me interrompe pra falar que eu preciso comprar não sei o que pra ele terminar o trabalho. Terminar em outro dia, ele deixa bem claro, porque nesta semana ele não consegue mais voltar. Consulto minha agenda da semana seguinte e marcamos.
Olho para a caixa de e-mails e vejo que o número de não lidos aumentou, bem como as mensagens do Whatsapp, que fazem o telefone vibrar sem parar. Sem surpresa, percebo que a maior parte delas é de felicitações pelo Dia Internacional das Mulheres. Muitas são de vendedoras desconhecidas de marcas que nunca comprei. Tenho vontade de gritar que não tenho tempo pra isso, mas faço a fofa e agradeço alguns amigos.
Como uma das mensagens é do consultório da dentista, aproveito pra marcar a consulta das crianças que está pendente há duas semanas e ligo para o marido porque lembrei do exame de sangue que o Rafa precisa fazer. “Eu sei, amor, eu sei que não deu tempo. Teve Natal, Ano Novo, covid e carnaval, mas você pode levá-lo no sábado? Sim, tenta sim, meu amor. Obrigada. Beijo, te amo". Reviro os olhos.
O Whatsapp continua apitando sem parar e a caixa de e-mails enchendo. Dessa vez desisto de ser fofa e mando os votos de “feliz dia pra você que é mulher” direto pra lixeira. Com tudo “limpo”, volto à leitura de e-mails. Onde é que eu estava mesmo?
“Já provou esse produto?”. A mensagem da minha irmã aparece na tela como um convite à procrastinação. Quando dou por mim, estou há pelos menos 15 minutos lendo sobre um condicionador anti-frizz. Por que é que eu estou lendo isso se eu tenho tanta coisa pra fazer?
Apesar de me dar conta do desvio de foco, minha mente sofre um apagão momentâneo. Não sei explicar o que aconteceu, só sei que, do controle do frizz, fui parar nas atualizações sobre o jogo da discórdia do BBB. Pobre Jade… Ou melhor, pobre de mim! Ela tem independência financeira desde os 13 anos, eu preciso trabalhar e estou aqui, lendo sites de fofoca quase como um zumbi.
O que me acorda do transe é uma ligação do meu pai. Pra quem não sabe, meu pai é meu sócio. Se é sócio, é chefe. Tremo na base porque não fiz nada do que deveria ter feito do trabalho pois fiquei procrastinando. Ou melhor, resolvendo pequenas pendências da casa, das crianças, da vida. E procrastinando. Ai, ai, ai, ele não desliga, vou ter que atender.
“Oi filha. É só pra te desejar Feliz Dia das Mulheres”.
Uma mulher maravilhosa na Semana Internacional da Mulher
Na semana internacional das mulheres, não vou falar de Malala Yousafzai, Frida Kahlo, Anita Garibaldi, Simone de Beauvoir ou Cleópatra. Vou falar da Maravilhosa Senhora Masel.
Serei sincera: eu assino a Amazon Prime só por causa da série The Marvelous Mrs Masel, que é escrita e dirigida por Amy Sherman-Palladino, de Gilmore Girls.
A série se passa no final dos anos 1950 em NY e tem como personagem central Miriam Maisel. “Midge”, como é conhecida, tem tudo que sempre quis - o marido perfeito, dois filhos e um elegante apartamento no Upper East Side. Mas sua vida passa por uma reviravolta inesperada, que a leva a descobrir seu baita talento para a comédia. E assim, meio que sem querer, ela entra no mundo dos stand-ups de comédia.
Agora imagina só: se já era polêmico uma mulher judia de classe média alta, no final dos 1950 trabalhar fora, fazer comédia em casas noturnas era sinônimo de constrangimento para a família.
QUE SÉRIE MA-RA-VI-LHO-SA, MINHA GENTE!
Além de um roteiro bem escrito, a dinâmica é muito envolvente. As câmeras rápidas, as músicas e o entra e sai dos personagens e figurantes em cena lembram um filme musical antigo, mas com o dinamismo atual e os diálogos afiados que Amy Sherman-Palladino faz tão bem. Sem contar os figurinos! Socorro!
Se você não acredita em mim, leia AQUI as 7 razões da Veja para assistir.
Um merchandising bem feito e uma tendência de consumo
Para comemorar o Dia Internacional das Mulheres e o lançamento da 4ª temporada de The Marvelous Miss Masel, a Tupperware relançou seus icônicos bowls em tons pastéis. Quem lembra?
(Se você não se lembra disso, guarde pra você pra eu não me sentir tão velha)
Faz. Todo. Sentido.
Quando, na 4ª temporada, Midge precisa de dinheiro, ela começa a vender Tupperware, algo que era super comum entre mulheres nessa época.
Que oportunidade de merchandising, senhoras e senhores! Eu também não perderia o bonde de reviver uma marca em uma série premiada.
Sem contar que o estilo retrô está num momento incrível, ancorado especialmente pela geração Z, que ama recordar a infância dos anos 90 e a adolescência dos anos 2000 (vide show do intervalo do SuperBowl, com ícones dessa época). Mas a nostalgia é um fator que faz os corações de todas as gerações baterem mais forte.
As marcas sabem disso. Olhar para o passado é lucrativo.
Já viu as paletas mexicanas da Los Los nos sabores Doce de Leite Aviação e Leite Moça? E a linha de cosméticos do Boticário inspirada nos chicletes Babbaloo? Sinto dizer, mas essas marcas sabem que isso cria conexão emocional com você, que era jovem e sem grana naquela época e que agora pode esbanjar com as marcas que conhece e confia.
(Faço mea culpa aqui, porque comprei porta copos da colab da paçoquinha Amor e a Tok&Stok e outras coisinhas mais).
Olha só: falei sobre nostalgia neste post de outubro de 2019 no meu perfil do Instagram e destaco (após a imagem) um parágrafo do texto que fiz na época:
Em um mundo cada vez mais digitalizado e complexo, é normal que sintamos saudades de um tempo em que as coisas eram mais simples. Por isso, tendemos a confiar em marcas que estiveram presentes em momentos importantes de nossa vida, que ficaram no passado, como nossa infância e adolescência.
É claro que a nostalgia não pode ser a única cartada do marketing, mas dá sim pra utilizar esse recurso de vez em quando e com grandes chances de sucesso.
Falando nisso, você chegou a ver o comercial da Amazon com a Xuxa?
Se não, tá na mão. Veja quantas referências nostálgicas temos aqui:
Chegamos ao final de mais uma edição! Dessa vez me arrisquei a escrever uma crônica, vejam só! Acreditem ou não, quando estava procrastinando, foi isso que saiu. As demais seções vieram só depois que o dia se acalmou.
Me conta o que achou?
Nos vemos na próxima!
- Andrea
(PS: para falar comigo, apenas responda esse e-mail ou escreva para andrea@ideaonline.com.br)
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👩🏻💻 curadoria e textos por Andrea Nunes, empreendedora, marketeira, curiosa e aspirante a escritora.