Um dia, um amiguinho do meu filho me contou que a mãe é médica e emendou:
- Você é o quê?
- Publicitária.
- O que é isso?
- É quem faz propaganda.
- Detesto propaganda.
Fiquei muda. Devia ter dito que, sem ela, sua mãe não teria nem pacientes em seu consultório. Devia ter informado que tem filme publicitário que é arte como o cinema, que saber fazer propaganda é conhecer o ser humano tão bem como quem faz medicina. Ou melhor. É estudar o ser humano na essência.
Ficou na minha garganta que quem faz propaganda consegue exprimir uma ideia em 30 segundos e ainda convencê-lo dela. Às vezes em até menos tempo e com mais poética que uma consulta pelo SUS.
Devia ter mandado o garoto catar coquinho, pentear macaco, cortar fumaça com tesoura ou ver se eu estou na esquina. Mas fiquei muda.
Quando me dei conta da mudez, perguntei se ele estava com fome, só pra sair do assunto, mas fiquei com isso entalado. Já faz um ano. Só recentemente descobri a razão de não ter dito nada.
Eu também detesto propaganda.
Não a propaganda que me incentivou a entrar na Escola Superior de Propaganda e Marketing em 1999, querendo ser o Washington Olivetto e deixando meu pai preocupado, achando que eu acabaria me casando com o Roberto Justus. Não. Eu detesto a propaganda de hoje em dia. As intromissões. Os anúncios patrocinados no meio dos posts dos meus amigos no Instagram.
Foi isso que João Branco, ex-CMO do McDonalds (e que eu conheci numa sala do Clubhouse, vejam só), abordou em sua palestra no RD Summit na semana passada. O marketing que não tem cara de marketing é o que ainda encanta. Em suas palavras:
Existe toda uma geração disposta a PAGAR para não ver propaganda. Essa geração que paga Spotify, YouTube, Netflix e outros serviços para não ser interrompido. Só pra não ver o que a gente faz.
Duro, né?
E pensar que num passado não tão distante, a gente cantarolava jingles como o “Pipoca e Guaraná” como se fossem hits da Taylor Swift. A gente parava o que estava fazendo pra ver as fofuras dos bebês vestidos de animais da campanha da Parmalat.
Bons tempos… Hoje em dia é não tá nada fácil ser marqueteiro. Primeiro porque tudo é marketing, até casamento e separação de artista. Fora que tudo é culpa do marketing. Esse marketing que engana, mente, entedia, interrompe, atrapalha.
Esse marketing de gurus de Instagram que prometem que a gente vai fazer 6 em 7 do dia pra noite com o mesmo copy, a mesma estratégia: conteúdo nas redes sociais, webinar gratuito, entra no grupo de whatsapp, na cadência de e-mails, gatilhos de escassez e urgência o tempo todo, etc, etc, etc. Você deve saber do que estou falando.
Mas como ser legal de novo? Original de novo? Interessante de novo?
João Branco dá um caminho: ser real, de verdade, autêntico mesmo nas suas imperfeições. Fazer da marca uma amiga que escuta, não o carro da pamonha, que atrapalha e saber que o principal objetivo do marketing é servir, aliviar dores e ajudar a melhorar a vida das pessoas.
Vou acrescentar um ponto a mais aqui, por conta própria: seja entretenimento. Aí, quem sabe, as pessoas possam cantarolar seus jingles como hit do momento ou comentar sua produção como estréia de filme.
Será que a gente consegue?
Será que outras Andreas vão querer ir pra faculdade de propaganda daqui uns 10 anos, com a mesma vontade de fazer parte de uma corrente criativa?
Numa próxima edição vou contar pra vocês um pouco sobre como era a comunicação do setor sucroenergético há 12 anos, quando comecei a trabalhar com o Grupo IDEA, empresa que meu pai fundou há mais de 30, e como é que fazemos hoje em dia. Spoiler: fizemos história.
Enquanto essa edição não vem, dê um play abaixo e cante comigo (se souber):
Não aprendi dizer adeus
Na edição passada, compartilhei com vocês o que aprendi durante o apagão.
Meus vizinhos se empolgaram com o texto e continuaram a lista em nosso grupo de WhatsApp. Como aqui também é um espaço de utilidade pública (ou não tanto), vou compartilha-las com vocês. Com a palavra, meus vizinhos:
21 - Se você for descer no prédio para aproveitar o gerador e recarregar o celular, leve uma régua. Provavelmente todas as tomadas já estarão ocupadas.
22 - Os geradores só podem funcionar ininterruptamente por 24/28h. Se precisar sair para resolver algo, fique atento a esse período, pois o elevador pode não estar funcionando quando você quiser descer ou subir pra casa. 😅
23 - Ouvir serra elétrica cortando árvore também pode ser emocionante. Sinal que 50% dos problemas estão resolvidos, ou seja, prefeitura já está retirando a árvore responsável pelo apagão, e agora é só esperar o pessoal da Enel religar a energia. Aguarda e ore! 🙏🏻
24 - Se você sair de casa e a energia voltar nesse meio tempo, prepare-se para encontrar todas as luzes acesas. 😬
25 - O grupo de WhatsApp do condomínio é ótimo pra te manter atualizado dos perrengues e também das novidades sobre a “volta à normalidade”.
26 - As luzes de emergência que você comprou (mas deixa nas gavetas pois acha que são parentes dos power banks) só serão úteis se estiverem carregadas, plugadas nas devidas tomadas.
27 - Se tiver espaço entre os itens congelados das gavetas do seu freezer, saia enlouquecidamente para comprar sacos e mais sacos de gelo e passe seu tempo meditando, enquanto coloca gelinhos sobre as carnes e comidas congeladas!
28 - Tenha um DR novo instalado na caixa de força para evitar queimar os aparelhos. Depois que a luz voltou, quando chegamos em casa estava tudo apagado. O DR protegeu os aparelhos (geladeiras, TVs, etc.) do pico de energia. Foi só religar o DR! 😉
29 - Você pode ter um no break na tomada do aquecedor a gás e garantir um banho quente. Ou no roteador de internet, depende da sua prioridade.
Enquanto na semana passada só se falava no apagão, nesta semana só se falou disso:
Mas deixo você ir
Porque está muito calor.
Mas antes disso, me conta, qual marca, na sua opinião, faz um marketing que não parece marketing?
Um beijo,
Andrea
Andrea Nunes é publicitária de formação, comunicadora do agronegócio de profissão e escritora por paixão. Sonha em escrever um livro, mas, por enquanto, exerce a escrita na newsletter Andrea Me Conta.
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Lembrei do "Never Say No To Panda", da Panda Cheese. Eu amoooo hahaha. Adorei a edição!