Sábado, dia 3 de setembro. Estou na casa dos meus pais em Jau, rolando o feed do Instagram. Imagem após imagem de um festival de música caótico aparecem pra mim. Uma após a outra. Um reel após outro. Story após story.
Estou acompanhando os primeiros dias do The Town, festival de música dos mesmos organizadores do Rock and Rio, que prometia ser a versão paulistana de um dos maiores eventos musicais do planeta.
Expectativa nas alturas, realidade abaixo da terra. Da lama, melhor dizendo. Choveu, né? Isso não tem como prever, eu sei. Mas a estrutura não ajudava. Além da lama e dos poucos espaços para se proteger, os acessos estavam difíceis. As pessoas relatavam a dificuldade de entrar e sair do evento, de ir de um lugar a outro, das filas para o banheiro e até da a falta de água e refrigerante.
Nada disso me afetaria tanto se não fosse o fato de eu ter comprado ingressos para o fim de semana seguinte. Para sábado AND domingo.
Que. Grandessíssima. Preguiça.
Nos meus grupos de WhatsApp choveu gente vendendo ingressos, todos influenciados pela propaganda negativa do evento.
Eu também teria vendido. Cogitei fazê-lo mais de uma vez nesta última semana, mas resolvi pagar pra ver. Eles teriam uma semana para arrumar pelo menos o fornecimento de água.
Em eventos, assim como na maioria dos serviços, você tem uma chance de acertar. Mesmo no caso do The Town, que aconteceu em dois finais de semana, quem foi nos primeiros dois dias voltou pra casa com impressão negativa do festival. É capaz de nunca mais voltarem.
Eu dei sorte. Além de não chover nos dias que fui (só um chuvisco esporádico), a organização parece ter se ajeitado. Isso me fez voltar no domingo.
O festival estava lindo. Na única chance que o The Town teve de me agradar, agradou.
Mas já que estou falando em experiências, vou falar de Bruno Mars.
Você deve ter visto muita coisa a respeito do show, mas o que me chamou atenção foi a personalização da sua entrega.
O artista falou várias frases em português, seu saxofonista, ao ser apresentado, tocou alguns acordes de Fascinação e seu tecladista, por sua vez, tocou Evidências. A platéia foi ao delírio, especialmente quando a câmera do telão focou em Xororó, que estava na platéia..
Sabe, eu adoro a sensação de estar em um show ao vivo. A vibração da platéia se mistura a de quem que está em cima do palco e essa é a verdadeira experiência de marca. Brand experience, se você gosta de falar difícil.
Explico: um artista ou uma banda são como um produto. Devem ser tratados assim. Suas músicas e seus shows são comerciáveis, precisam vender. Então, assim como as marcas fazem ativações para criar experiências ao consumidor e, assim, promover seus valores e criar mais proximidade com eles, é nas apresentações ao vivo que os artistas saem do aplicativo do Spotify e criam conexões mais próximas com os fãs. As músicas performadas ao vivo viverão para sempre na mente de quem as vivenciou.
Usei bastante o verbo “viver”. Embora brega, proposital. Segue a vida.
Como falei, adoro shows ao vivo. Aí Dua Lipa veio pro Brasil e lá fui eu.
Minha sensação: foi um enlatado, tipo atum em óleo. Pareceu-me um copia-e-cola de qualquer outro show que ela tenha feito no mundo. Até as frases pareciam prontas. Ela, britânica, fez o show no Brasil na semana que a rainha Elizabeth II faleceu e não houve sequer uma homenagenzinha à soberana. Claro, não estava no roteiro e ela não deve saber improvisar.
Sensação 2: parecia que estava ouvindo à playlist dela no meio de um monte de gente que nem gostar de música alta gosta. Sim, além do show estar sem graça, o som estava baixo. Ainda gosto um pouco de Dua Lipa, mas não pago mais pra vê-la ao vivo. A entrega foi fraca e a marca, na minha percepção, perdeu valor.
Aí vem o Bruno Mars.
O que é o Bruno Mars?
Em 2011, Bruno Mars abriu para Florence and The Machine em um festival que eu lembro ter visto pela TV. Foi a primeira vez que vi sua performance e me apaixonei por seu estilo showman. Canta, dança e balança a criança. Filho perdido de Michael Jackson ou sua reencarnação? Não sabemos.
Agora, em 2023, Bruninho estava de volta e eu estava lá, pra conferir se ele era tudo aquilo mesmo ao vivo.
Grazadeus não vendi meu ingresso, mesmo com medo de estar indo pra versão brasileira de Burning Man. Bruninho entregou tudo.
Sabe brand experience que eu mencionei lá em cima? Ele deu aula.
Como é que ele conseguiu? Na minha opinião, em uma palavra: PERSONALIZAÇÃO!
Segundo a Rock Content:
Marketing personalizado é uma estratégia para valorizar a experiência dos consumidores e se aproximar deles, a partir do conhecimento sobre seus gostos, hábitos e comportamentos.
Quando Bruno Mars fala “oi, sumida” em português, ele fez sua lição de casa. Usou uma expressão de conhecimento popular para fazer graça e tirou risos da platéia.
Quando Bruno Mars refere-se a si próprio como Bruninho, com “inho”, sufixo para substantivos no diminutivo de característica bem, bem brasileira, ele se coloca um tanto mais perto de nós.
Quando o saxofonista da banda de Bruno Mars toca alguns acordes de fascinação, a banda fica ainda mais próxima de mim. Acho que só de mim mesmo, já que a geração Z do show não foi capaz de identificar a referência.
Seguimos.
Quando, finalmente, o pianista da banda de Bruno Mars toca Evidências, sem partitura nem nada, tudo fica evidente: o show foi customizado para a nossa audiência. Não foi enalatado. Não foi copia e cola. Foi um produto com o tipo de customização que agrada até os consumidores mais exigentes.
Personalização…
Por que gostamos tanto de experiências que parecem ter sido feitas especialmente pra nós?
Vou tentar usar neuromarketing pra explicar, mas vou dar a minha própria interpretação, tá?
Bom, em neuromarketing a gente aprende que nosso cérebro libera serotonina e dopamina (hormônios que nos deixam felizes e motivados) quando ouvimos nosso nome.
Dale Carnegie, o autor de “Como fazer amigos e influenciar pessoas” diz que “o nome de uma pessoa é, para essa pessoa, o som mais doce e importante em qualquer idioma”.
Dito isso, fiquei pensando se o efeito não é o mesmo quando ouvimos a nossa língua mãe. Não achei nenhum estudo online (se você encontrar, me manda), mas me lembrei da época que estudei fora e, cada vez que ouvia alguém falando em português na universidade, algum gatilho se ativava em mim.
- Você é brasileiro?
Então, acredito aprender umas frases em português além do “obrigado” ou “boa noite São Paulo” e mais, usá-las em um contexto correto, pode sim fazer você se conectar com sua audiência.
Vou além.
Quando a gente encontra pessoas que têm algo em comum conosco, a gente adora, não adora? Eu, por exemplo, adoro encontrar quem conhece alguém de Jau ou tem algum familiar na cidade. De alguma maneira, me sinto mais próxima da pessoa. Faz sapateado? Joga beach tennis? Usava tênis Bamba nos anos 80? Então podemos ser amigos. Te chamam de Bruninho? Minha avó me chamava de Andreinha, menino, que coisa.
Familiaridade faz com que as pessoas se sintam mais próximas de você e vice-versa.
Qual a familiaridade entre Bruno Mars e nós? Ele conhece o meme do “oi sumido", ele tem um apelido parecido com o meu e ele até fala um pouco de português. Cinco frases, mas fala.
Não repare, estou divagando e te convidando a divagar também. Juro que não fumei nada.
Continuando…
As pessoas gostam de serem ouvidas. No fim do dia, todo mundo quer ser o assunto principal. A gente se interessa mais por nós mesmos que por qualquer outra coisa. A gente adora quando o outro sabe do que a gente gosta, por exemplo. Isso mostra que fomos ouvidos.
Bruninho sabe disso. Bruninho teve o cuidado de pesquisar qual a música mais cantada em karaokês no Brasil. Qual é o hino? O que vai fazer as pessoas irem à loucura? O que vai fazer com que essas pessoas que vão ao meu show acreditem que o show foi feito especialmente pra elas? Bruninho então ouviu a voz do povo e Evidências entrou no setlist.
Gênio! Diga-me se isso não é um conhecimento profundo do comportamento do consumidor.
Não pense que é fácil um artista ser tão focado no seu público a ponto de desenhar um show que se adapte. Isso leva tempo e disciplina. Imagine quantas músicas, línguas e piadas internas um artista tem que aprender em uma turnê mundial. Mesmo com uma equipe competente por trás, é muito mais fácil vender o massificado, o enlatado e sem graça, que o customizado.
Mas me diga: qual você acha que engaja mais? Qual gera mais mídia espontânea? Qual supera expectativas? Qual encanta mais os fãs, os envolve emocionalmente e os torna verdadeiros embaixadores para sua marca pessoal?
Vou dar uma dica: estou sendo uma super embaixadora aqui.
Bruninho, obrigada pelo show e volte sempre.
Não aprendi dizer adeus
Hoje é meu aniversário! Tinha, inclusive, outra pauta rascunhada, mas vou deixar pra próxima semana porque Bruno Mars está “quente”, né? Não fiz jornalismo, mas não vou deixar a pauta esfriar.
Então, segue aqui, na última parte desta newsletter, uma imagem que me define, pra eu poder me auto homenagear, no dia que completo 43 voltas ao redor do sol:
Mas deixo você ir
Enquanto vou soprar as velas numa mini torta dessa aqui:
Não é publi, mas poderia ser e eu receberia o pagamento em doces, sem nem pensar duas vezes.
Obrigada por ler e até semana que vem!
- Andrea
Concordo com tudo! Não estava no show do Bruno, mas acompanhei toda essa "personalização" e o cuidado com o público brasileiro e achei o máximo.
Não podia deixar de dar os parabéns por aqui também! Rs!! Viva e que seu novo ano venha com novas e deliciosas news que tanto nos ensinam, nos arrancam sorrisos e também nos fazem refletir!
Poxa aniversariante (sumida), não esbarramos nem sábado e nem domingo no The Town. Que pena. Assino embaixo de tudo o que vc escreveu. Bruninho super atencioso, fez a lição de casa, parou 10 minutos pra aprender as frases (ou 1 hora?) e encaixá-las no show. Very thoughtful! Fez a diferença e fez o show ficar marcado nas nossas "vidas"! Mas chega de falar dele porque minha paixão mesmo é o Foo Fighters. Voltei enlouquecida e com as panturrilhas gritando. Amei a newsletter. Me senti mais próxima de vc pois tivemos coisas em comum nesse fds. Ansiosa pra NL da semana que vem. Bjuuuuu