A filha da minha vizinha, de uns 16 anos, passa por mim na garagem.
- Bom dia!
Nada. Olhou pra mim, na verdade me encarou, não respondeu e continuou andando. Atrás veio a mãe, que viu o que aconteceu, abaixou a cabeça e passou por mim de cabeça baixa.
Entrei no carro e saí. No mesmo dia, passo por um segurança na porta da academia de yoga.
- Bom dia!
Nada. Também olhou e me ignorou.
Mais pro fim da semana, uma amiga chega pra um café dizendo que achava ter perdido umas dez amigas por conta de uma discussão no WhatsApp. Haviam compartilhado no grupo do colégio uma história de adolescentes aprontando no final de semana numa casa de campo e, em seguida, enviaram um vídeo, expondo crianças de 13 anos cantando uma paródia de uma música com palavras obscenas.
Ela se opôs a exposição, como mãe e como ser humana que é. Adolescentes se matam por coisas assim e elas, mulheres de quase 40 anos, mães, estavam lá, julgando, apontando dedos e o pior, espalhando o rosto de meninas de 13 anos, que mal têm maturidade para tomar suas próprias decisões.
Fiquei me perguntando: é o fim da educação? Quando foi que mudaram as regras de convivência?
Sei que a pandemia e o avanço tecnológico foram um divisor de águas na maneira de nos relacionarmos. De repente não tínhamos mais o convívio com outros seres humanos. Muita gente ficou sem trejeito social. Uma amiga, por exemplo, ficou completamente sem filtro. Miga, tem coisa que você não fala. “Ah é? Tipo o que?”. Quantas pessoas você conhece assim? Eu, várias.
De repente - e isso já estava acontecendo antes do Covid - nossos chefes podiam nos acessar em qualquer momento do dia ou da noite, seja meio de semana, seja fim de semana.
Por que isso não acontecia quando tínhamos apenas o telefone fixo?
Eu me lembro de quando era pequena e ouvia meus pais reclamando se alguém ligava em casa depois das 21h ou na hora do almoço. “Que falta de educação". Por que essa regrinha básica não migrou para o celular?
Não foi por acaso que, quando vi o título de um dos episódios do CaosCast, “Rebranding da Etiqueta”, apertei o play imediatamente, mesmo não sendo este o episódio da última quinzena.
O CaosCast é o podcast do Grupo Consumoteca, que estuda tendências de comportamento. É muito bom e coloca a gente para pensar, sabe? Eu super recomendo este sobre etiqueta digital.
Também busquei um artigo da Eat Your Nuts, newsletter da Beatriz Muroch, que tem como título “personalidade forte ou falta de educação?”, em que ela reforça que pessoas com personalidade forte não devem ser confundidas com falta de educação, pois são firmes em suas opiniões sem serem agressivas.
Já sofri com falta de educação mascarada de opinião. Já ouvi cala a boca de gente que não concordava com meu ponto de vista. Já fui ignorada em meio a uma conversa porque a pessoa não tinha interesse em ouvir o que eu tinha pra falar e preferia olhar pro vídeo que havia chegado no seu WhatsApp. Engraçado que essas indelicadezas foram feitas por homens, por que será?
E no digital? O que dizer daqueles comentários agressivos que a gente tem visto principalmente nas redes sociais? Pessoas que defendem suas ideias com unhas e dentes, a ponto de ofenderem quem pensa diferente são sim sem-educação. MUITO sem educação.
Mas quem é que vai criar estes novos códigos de etiqueta?
Acho que cada um de nós tem um pouco a contribuir neste diálogo.
A NY Magazine, por exemplo, fez um post bem bacaninha há algum tempo, com novas regras de etiqueta para estes tempos modernos. Um dos conselhos: “se o bebê de alguém está chorando em público, você não precisa ficar encarando". Sensato. Mas não entendi alguns outros como: “ignore seu colega de trabalho no metrô". Deve ter um contexto cultural por trás.
Foi procurando por etiqueta no meio digital que eu encontrei a Redes Cordiais, a primeira organização brasileira de educação midiática para influenciadores e redes sociais, com o propósito de construir redes mais saudáveis e confiáveis, com menos desinformação e menos discurso de ódio. Achei a iniciativa super bacana.
E tem mais diversas outras fontes de informação sobre Etiqueta Digital na internet. É só digitar no Google que você acha milhares de resultados, mas vou facilitar sua busca e deixar aqui alguns dos mais interessantes que eu encontrei. Afinal, estou aqui pra isso, não é?
Do SEBRAE: O guia completo de como se portar no universo digital.
Da Superinteressante: 24 regras de etiqueta da vida digital. Adorei a segunda: “Liguei para uma pessoa e ela não atendeu. Deixo recado ou mando SMS?” Espero que você saiba que a resposta correta é o SMS. Se achar que não, não precisa me ligar. Rs.
Sabia que existe uma Escola Brasileira de Etiqueta? Sim, existe e ela é parceira da British School of Etiquette, quer coisa mais fina? E olha só: eles também tem suas consideração do que é a etiqueta digital, que eles chamam de NETIQUETA. Achei simpático.
Pra seguir: gosto muito da Claudia Matarazzo. Phyna e coerente.
A bem da verdade é que cada um de nós deveria retomar os valores que nossas mães cansaram de nos repetir: tratar o outro como queremos ser tratado, não falar nada se não tiver nada de bom a dizer, não invadir o espaço do outro e ter o respeito como seu principal guia de comportamento.
Também tenho pra mim que todos temos a responsabilidade de passar o conhecimento pra frente também na esfera da educação. É claro que não vamos sair evangelizando as pessoas a torto e a direito, mas se você puder dar um toque nas suas amigas do grupo de WhatsApp da escola sobre expor crianças, se você falar pro seu sobrinho que ele se esqueceu de dizer por favor antes de lhe pedir algo, se você respeitar a regra das raquetes na quadra de beach tennis e ensiná-la aos novos frequentadores (tenho histórias sobre isso), você já está fazendo a sua parte.
E aí, no final do dia, a gente acaba até aprendendo que ser educado é também pura elegância. Afinal, como bem disse Costanza Pascolato, elegância está mais ligada ao seu comportamento e à maneira com que você trata o outro, que à roupa que você veste. Diva.
Não aprendi dizer adeus, mas deixo você ir
Com lágrimas no olhar, mas a semana está puxada.
Mais uma vez, super obrigada por ler e até a próxima!
- Andrea
"Ficar no vácuo" é o que mais acontece comigo hoje em dia. Já virei piada em casa. Pode vir pandemia, celular, carro voador, ipad, IA, teletransporte, continuarei dando "bom dia", "boa tarde" e "boa noite". Certeza que os meninos vão aprender de tanto ver o meu esforço... nunca será em vão!
Ahh amiga, que mundo é esse que estamos vivendo, triste