Escrevi este texto em janeiro de 2014, quando estava grávida do Rafael, meu primeiro filho e chorava por tudo. Coincidentemente foi quando descobri meu ascendente em Câncer….
Pai
Uma das coisas mais lindas de se ver na gravidez é quando o pai fica bobo.
Minha mãe uma vez me disse que, quando engravidou, achava que meu pai não seria um bom pai e se surpreendeu, pois ele foi e é um paizão até hoje.
Era participativo, contava histórias, cantava, inventava brincadeiras, vozes engraçadas, desenhava personagens, andava de bicicleta, nos ensinou a fazer nossa própria pipa, tirava sarro da nossa cara para a gente aprender a se controlar (não aprendemos!), não deixava a gente ganhar em jogo algum, comprava gibis todo domingo de manhã (o que depois eu descobri ser para nos tirar de casa e minha mãe ficar em paz), enfim, um paizão!
Até receber todos os meus namorados em casa ele recebeu. Dos mais bonzinhos aos mais vagabundos. Sempre ficava pendurado em cima de nós, nos aconselhando, falando a mesma coisa mil vezes e às vezes até gritando, na esperança de que sua filha adolescente, que só fazia besteira, conseguisse entender e – mais importante – aceitar seu conselho de uma vez por todas.
Mas mamãe achava que ele não seria um bom pai porque não estava muito aí pra barriga dela. Não conversava com a barriga, eu quero dizer.
Fico imaginando a minha mãe passando pela experiência que estou passando agora, com hormônios em polvorosa, ansiedade a mil e com medo do que estava por vir, analisando o comportamento do meu pai e criando mil caraminholas na cachola. Posso até vê-la falando com minha tia: “Maria Helena, ele nem fala com a minha barriga...”.
Justo minha mãe, que sonhava em ser mãe, devia sofrer com a insegurança de ter escolhido o progenitor errado. Pela sua lógica, se o sujeito é bom filho, será bom pai e meu pai é um excelente filho. Aliás, papai vive na barra da saia da minha avó e há quem diga que ele só obedece a ela nessa vida. Bom, essa também é outra história, uma bem bonita que ele devia contar para algum terapeuta, mas o que quero dizer é: papai tinha o pré-requisito da minha mãe para ser bom pai e ele foi, mesmo sem interagir com as barrigas gigantes das gravidezes de sua esposa.
Agora, se depender de o sujeito conversar com a barriga, acho que encontrei o pai ideal para o meu bebê. Meu marido, além de ser o filhinho da mamãe (como meu pai), praticamente engravidou comigo. Virou pai. Fala da família, faz planos para os filhos (sim, plural) e conversa e muito com a minha barriga, que ainda é inexistente. Nem eu me sinto mãe direito e ele já é pai antes de mim, uma loucura.
E, embora ele me tire do sono profundo das grávidas antes das 7h da manhã todos os dias, nem reclamo quando o ele levanta o cobertor e afasta meu pijama para dar um beijo na barriga, pois está indo trabalhar e quer falar tchau para mim e para o bebê.
Confesso que tem dias (quase todos) que penso “caramba, me deixa dormir”, mas acabo não falando nada – ok, só resmungando – porque não quero tirar isso dele. É assim que ele participa e é fofo.
Hoje, ao invés de resmungar, chorei. Odeio minhas muitas lágrimas e meus hormônios, mas foi especial. Ele me abraçou, colocou a mão na minha barriga e fez uma oração bem baixinho. Nem consegui ouvir o que ele dizia, foi só entre ele e o bebê, como uma bênção. Como não se emocionar?
Depois que ele saiu, foi a minha vez de colocar a mão na barriga e fazer uma oração. Disse ao bebê o quanto estava feliz por ele estar lá. Contei também que sua mãe é sortuda e abençoada por ter tido um pai incrível, que me serviu de exemplo para que eu encontrasse alguém igualmente incrível para ele.
Fim.
Nota atualizada do ano de 2023:
Meu marido quase enlouqueceu depois que tivemos o primeiro bebê. As noites mal dormidas, a esposa sempre despenteada, o bebê que voava para suas mãos assim que ele chegava do trabalho quase nos levaram a fechar a fábrica. Deu tempo de vir mais um antes da vasectomia.
Não aprendi dizer adeus
“O que é ser pai?”, da Gama Revista reune histórias emocionantes sobre pais presentes e ausentes, dicas de livros que tratam dessa relação, um podcast com o autor que escreveu sobre o pai caminhoneiro e uma imersão na paternidade negra
Do mundo da propaganda:
Essa campanha da Pantene de dia dos pais é uma graça e fala sobre criar garotas fortes e passar tempo junto. Escolhi especialmente porque o maridão aqui adora um futebol americano e vai gostar de ver alguns gigantes do esporte com suas meninas:
Esse comercial da Dollar Shave Club é demais. Engraçado, divertido, puro entretenimento.
Corei com o filme da Azul e Imaginarium. E olha que não estou grávida:
Chorei com essa aqui também. So-cor-ro!
E claro, que não poderia faltar anúncio de camisinha.
Quer mais?
Achei vários aqui no blog da Rock Content.
Mas deixo você ir
Hoje, dia dos pais e eu não comprei presente pro meu marido.
Pro meu pai. dei um travesseiro pra quem tem dor na cervical que provavelmente não vai ser usado.
Então, essa edição é um presente para os dois. Pais maravilhosos, cada um a sua maneira.
Mais uma vez, obrigada por ler.
Um beijo e uma ótima semana pra você.
- Andrea