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#63 - Lições do Vale
#62 - Lucas Lucco e o marketing
Uma ideia de negócios
Durante a semana que estive no Vale do Silício, o pessoal da StartSe propôs um exercício: criar um produto ou serviço e, em uma semana montar um pitch para investidores.
No final de cada dia do curso, trabalhávamos em uma etapa desse processo.
Tudo começava com um problema.
No primeiro dia de reunião com o grupo de trabalho, tudo o que tínhamos que fazer era encontrar um problema pra resolver.
“O grande problema é encontrar um grande problema para ser resolvido”
“Pensem nas suas próprias dores”, nos aconselharam.
Na hora rolou muita coisa com o tema viagem, pois era o que estávamos vivendo.
Não era bem o que eu queria, mas não me vinha mais nada na cabeça. Até pensei na quantidade de vezes que, durante meus dias aqui em São Paulo, imagino como seria interesse se houvesse uma solução para X, Y ou Z. Mas e pra lembrar do X, do Y e do Z naquela uma hora de reunião?
Pois é, voltei pro Brasil e adivinhe só: já estou com outra série de X, Y e Zs pra resolver, especialmente com as crianças de férias.
Então vamos comigo montar um negócio?
Alguns problemas dessa semana:
Trabalhar sem interrupções? Esquece! Escuto “mamãe” 15 vezes por minuto.
Crianças com fome infinita. Acabam de almoçar e me perguntam o que tem pra comer.
Repetição infinita dos pedidos e combinados. Como é que não aprenderam ainda a escovar os dentes sem eu ter que pedir?
A criatividade para atividades que entretenham tem que ser infinita. Não adianta dar um livro. Não adianta nem dar slime, essa coisa que só pode ser do capeta. As melhores ideias prende a atenção deles por 15 minutos.
Com tantas solicitações, ando esquecendo de tudo. Esqueço o que fui fazer na cozinha, o que eu queria escrever, os arquivos que estou devendo para alguém da equipe, tudo! Aliás, acabei de me lembrar de um arquivo que não mandei. Se eu não escrevo na hora que lembro, esquece. Alguém vai chamar a mamãe e a tarefa vai ficar por fazer, até alguém cobrar. Ou até eu ir à cozinha mais 5 vezes sem saber porque fui.
Culpa! Quanta culpa! Eles estão aqui me solicitando, me chamando pra brincar e eu recusando. Eles passando horas na frente da TV e eu fingindo demência.
Bom, com os problemas listados, passei para o desenvolvimento da solução. Ou soluções, porque ando criativa:
Serviço de entrega de snacks em condomínios. Depois de pagar a mensalidade, o cliente recebe um adesivo para colar na porta de seu apartamento. Aí, a cada 2 horas, o carrinho do snack (autônomo? robô?) passa nos apartamentos sinalizados. A criança é autorizada a escolher uma opção de lanche. Ela abre a porta, pega e fecha. A mãe não precisa tirar o derrière da cadeira.
Por uma mensalidade um pouco maior, no momento da entrega do lanche, a criança recebe também alguma atividade de acordo com a idade.
Serviço de programação de skills para Alexas e outras assistentes virtuais, incluindo automatização de mensagens mandando escovar os dentes, trocar de roupa, sair do videogame e até sugestão de jogos, adivinhas e etc. Serviço com alto grau de personalização. As configurações podem ser trocadas mês a mês, de forma remota, de acordo com a necessidade.
Aplicativo estilo Duolingo para treinamento de foco e memória, com apenas 5 minutos por dia. Você, mãe exausta, vai ficar com a memória tinindo. Não vai se esquecer nem do aniversário da sogra.
Para a culpa: terapia. Esse eu não inventei, não tem nenhuma inovação, mas vai por mim, é altamente efetivo.
Proposta de valor:
Proporcionar às mães um maior foco no trabalho, evitando interrupções constantes.
Barreira de entrada: “Ah, mas não sou eu que vou fazer o lanchinho, nem entreter meu filho, fruto do meu ventre, sangue do meu sangue?”
Solução: Contrate o serviço número 5.
Continue comigo, que este plano de negócios está ficando bom.
Tamanho do mercado: enorme! Só no grupo de mães da escola tenho 25 mulheres com o mesmo problema, reclamando sem parar. No meu prédio, umas 200 famílias com o mesmo problema. Nos condomínios da zona sul de São Paulo então… Bom, faça as contas.
Momento ideal para se lançar ao mercado: ontem, por favor.
Com tudo isso em mente, lançarei meu MVP.
MVP é a sigla para “produto minimamente viável” em inglês. Ele é uma versão do produto com o mínimo de características necessárias para ser colocado no mercado, para testes, validação e aprimoramento.“Utilize o MVP para entender o que as pessoas realmente desejam, e não o que você acha que elas desejam.”
Se, ao lançar meu produto, os clientes o comprarem, falarem sobre ele para os vizinhos, pedirem para os condomínios contratarem a solução, contarem para a família e amigos, significa que ele foi aceito. Uhu!
Isso quer dizer que ele tem market-fit.
“O termo product/market fit descreve ‘o momento em que uma startup finalmente encontra um amplo conjunto de clientes que ressoam com seu produto’.”
~Eric Ries (Autor do livro Startup Enxuta)
Agora é só… Fazer todo o resto pra manter uma empresa em pé.
Quem vê assim parece que é fácil, né? Sabemos que não, mas fazer um exercício como esse é sempre bacana.
Grandes empresas começaram assim, sabia?
A Uber, por exemplo, nasceu porque dois caras não conseguiram encontrar um taxi, já que, em São Francisco, a frota era pequena demais para a demanda. É claro que contaram com a população jovem da cidade para aderir logo à tecnologia e tornar o app popular. Se fosse em uma cidadezinha da Sardenha talvez não desse certo. Mesmo assim, olha só: nasceu de um problema.
Quer mais um?
Em Palo Alto conheci a Brex, uma fintech fundada por dois brasileiros que decidiram criar uma startup de realidade virtual quando cursavam Ciência da Computação em Stanford. Quando começaram a empreender, perceberam a dificuldade que as startups tinham para conseguir cartões de crédito corporativos. A ideia da realidade virtual foi descartada e surgiu a Brex, empresa que é avaliada em US$12,3 bilhões.
Viu como nosso exercício é valioso? Mesmo que você não se torne um unicórnio do Vale do Silício, pelo menos a criatividade é exercitada, concorda comigo?
Então, enquanto você pensa em problemas e soluções, continuo aqui, levantando a cada meia hora pra atender os incansáveis chamados de “mãe".
Não aprendi dizer adeus
🚀 Esse post do blog do Seth Godin está super dentro do nosso papo. Ele fala sobre tração do consumidor. (EN)
🧩 Enquanto meus filhos não recebem uma nova sugestão de atividade na porta de casa, acompanho o perfil Tempo Junto no Instagram. Se você tem filhos, recomendo. Tem várias sugestões de brincadeiras.
🎙️ Falando em filhos, meu mais velho se diz gamer (tem 8 anos, Gezuis!). O tempo dele de tela sempre me preocupou e esse foi o tema que levei para a conversa com a Mariana Wechsler, educadora parental, colunista da Vida Simples e autora da newsletter Correnteza, em seu podcast. Foi um papo super gostoso. Segue o link:
📚 Falando ainda sobre mães e filhos, estou lendo um livro chamado “The School for Good Mothers", que comprei meio no escuro, no aeroporto de São Francisco. Procurei o título em português e ele existe: A escola de boas mães. Um trecho da resenha: Em seu livro, Jessamine Chan nos apresenta uma distopia bastante realista sobre como a sociedade sobrecarrega as mulheres, em especial as mães, com julgamentos, preconceitos e cobranças. Confesso que Estou um pouco agoniada com ele. Parece que estou lendo 1984, sabe? Mas fica aqui uma dica.
Mas deixo você ir
Sabe quando você escreve e fica insegura na hora de enviar o texto para as pessoas? Essa sou eu hoje. Mas resolvi enviar essa newsletter mesmo assim, porque esse foi o texto que fluiu melhor essa semana. Férias, crianças em casa e ainda um pouco do que trago do Vale do Silício.
Se você me acompanha aqui, sabe que meus textos refletem bastante o momento que estou vivendo. É um pedacinho de mim em cada palavra e foi isso que me fez tomar coragem para enviar a edição de hoje.
Semana que vem estarei em evento e na Bahia ao mesmo tempo. Depois te conto da confusão que fiz, mas talvez eu não consiga escrever. Vamos ver.
De qualquer forma, te vejo na próxima edição!
Um beijo,
- Andrea
Rindo sozinha enquanto imagino o quanto eu poderia contribuir nesse business, já que estou de "tia" em tempo integral. De férias infinitas no Brasil, sou requisitada para fazer companhia para os sobrinhos de férias e de qualquer forma esse é mesmo o meu trabalho quando estou fora - ser um apoio para mães (prefiro single mums, mas trabalho com casais tbm). Demanda nós temos!
Crianças de férias aqui... quero contratar já estes serviços!!! Hahaha
Adorei!