#58 - Newsletter de dia das mães 2023
Hoje tem uma crônica e alguns links. Nada de marketing.
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#57 - A cópia é um elogio?
Últimas vezes
(texto escrito em 2015, atualizado em maio de 2023)
– Você quer ajuda?
A voz era conhecida de longos anos. Trinta e cinco e mais uns 9 meses, pra ser mais exata. Provavelmente a primeira voz que ouvi na vida. Certamente a primeira que reconheci. Sim, a voz da minha mãe.
Ela chegava à porta do banheiro pequeno onde eu secava meus cabelos e reparou no ritual que eu repito umas três vezes na semana, há pelo menos uns 10 anos.
– Nossa, você seca assim, como no salão? Prende o cabelo e vai soltando as mexas? Que legal. – reparou
Respondi que sim, que daquela maneira ficava mais fácil e que não precisava de ajuda não, em 10 minutos já teria terminado. Um episódio corriqueiro, um diálogo do dia a dia, mas que curiosamente não me saiu da cabeça.
Naquele mesmo dia à noite, ele ia e voltava aos meus pensamentos e trazia consigo um certo arrependimento. Eu devia tê-la deixado me ajudar! Sei que o cabelo não sairia do jeito que eu gosto e estou acostumada, mas eu deveria tê-la envolvido neste processo, pelo simples fato de eu nem sequer me lembrar de quando fora a última vez que ela penteara meus cabelos.
Teria sido antes de alguma apresentação de ballet, quando ela, com cuidado, passava o gel, puxava tudo para trás e prendia aquele coque dolorido, com grampos que pareciam perfurar meu couro cabeludo? Ou seria na minha pré-adolescência, antes de alguma festinha, quando ela escovava meus cabelos que eram ora crespos, ora ondulados e, na maioria das vezes, armados e sem definição? Não me lembrava.
Pensei comigo se ela se lembraria, mas cheguei a conclusão que não. A gente nunca sabe quando vai pentear os cabelos do filho pela última vez, dar banho pela última vez, dar comida na boca pela última vez. Trocar fralda pela última vez ou colocar pra dormir pela última vez. Até a gente se dar conta de que não sabe mais como é que eles secam seus cabelos, se seus banhos são demorados, se adormecem rapidamente ou se ficam horas grudados no celular enquanto a madrugada se adentra.
Como saber? Como mãe, precisamos dar-lhes a liberdade para viverem como bem entendem, não é isso? Mas mamãe viu, muito cedo, minha rotina se afastar de seus olhos como um navio que deixa a costa. Por isso, pensei Será que minha mãe não queria, naquele momento, ter novamente o prazer de escovar o cabelo de sua filha?
O texto acima foi escrito por mim em 2015. Caiu no meu colo enquanto eu vasculhava uns arquivos antigos no computador. Foi assim, meio que sem querer, logo agora, perto do dia das mães.
Relembrar essa pequena cena cotidiana me colocou a pensar nas crianças. Vou soar como minha avó, mas o tempo está passando muito rápido.
De uma hora para a outra meus bebês começaram a falar com todas as letras as palavras que mal conseguiam pronunciar, a andar sozinho, sem me dar as mãos, a escalar suas cadeirinhas do carro e afivelar o próprio cinto de segurança.
Começaram a exprimir suas fortes opiniões, a argumentar, a escolher suas próprias roupas e, vejam só a audácia, a dormir fora de casa.
Que vontade e que urgência que me dá de congelar o tempo… Queria ter sabido quando foi a última colherada de comida dada em sua boca, pra eu ter feito o melhor aviãozinho de colher, que voa mais alto e faz mais barulho. Queria saber qual foi a última fralda, pra eu poder me lembrar da textura da pomada anti-assaduras passando pelo seu bumbum lisinho. Quero saber qual será a última vez que pentearei seus cabelos fininhos, pra fazer com que esse momento dure muito mais que míseros dois minutos.
Sendo impossível saber disso tudo, acho que a única coisa que eu preciso me lembrar é de apreciar os pequenos momentos, todos os dias, sem deixar que a pressa, as obrigações e o cansaço façam com que eles passem despercebidos, sugados pela rotina. O tempo, imperdoável, passa sem pudores e vai nos arrancando os pés gordinhos, as vozes fininhas gritando “mamãe” a cada 5 minutos, o colo cheio, as fraldas sujas e os fios de cabelos fininhos, presos na minha escova de cabelo.
Não aprendi dizer adeus
Especial dia das mães
✅ Pra mãe saudosista: vem ver o novo modelo do G-Shock (alô anos 90!). Dessa vez ele é smartwatch. Design Taxi (EN)
✅ Pra mãe vegana que adora corrida, que tal esse tênis em forma de cheeseburguer, lançado para promover um novo produto da Future Farm? Totally Vegan Buzz (EN)
✅ Mãe que é gamer? Olha só: no verão americano, o Google e a Taito Games vão lançar o Space Invaders (aquele jogo clássico do Atari) em versão de realidade aumentada, estilo Pokemon Go. Na verdade, parece até melhor. Dá só uma olhada no vídeo abaixo.
(Não sabe o que é Atari? Volte 2 casas)
✅ Pra mãe de pet: AMEI essas fotos dos bastidores do Westminster Dog Show. E o que falar das bolsas dos humanos presentes? NY Times (EN)
✅ Sua mãe gosta de ler? Que tal enviar pra ela essa news?
De novo aos sábados?
Pois é… Acho que vou editar o e-mail que novos assinantes recebem, onde falo que a newsletter chega às quintas, às vezes sextas e lançar o desafio: “adivinhe o dia da sua news".
Que vergonha que isso é pra uma virginiana! Será que devo levar isso pra terapia essa semana? Certeza que tem a ver com minha infância e que a culpa é da minha mãe.
(Mãe, se você leu até aqui, tô brincando. Te amo, viu? Feliz dia das mães).
Mais uma vez, obrigada por ler e até a próxima semana.
Um beijo,
- Andrea