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A Cópia é um elogio?
Sentia como se estivesse espumando pela boca.
Quando abri meu Outlook na manhã de ontem, um e-mail saltou à minha frente. Era sobre um evento do setor canavieiro (o mesmo que eu atuo).
Eu já sabia que o organizador resolvera marcar seu seminário no mesmo dia que o da minha empresa. Quando soube, estranhei, mas não me importei a ponto de alterar a data ou falar com ele. Apenas respirei e pensei: há espaço para todos (embora o calendário tenha mais 363 dias).
Porém, o e-mail de ontem me desestabilizou.
Ele usou a mesma estrutura, as mesmas frases, os mesmos destaques do texto em amarelo, os mesmos botões de call to action (mesma cor e mesmo texto) de um e-mail que eu enviei na terça-feira. Pra não dizer que o plágio foi de 100%, tem uns textos a mais entre o início, os botões, as chamadas e o final (que eu fiz).
Que besteira, você pode pensar, mas saí do eixo.
Cada e-mail que escrevo é pensado. As frases são pensadas, lidas e relidas. Os botões são pensados. As cores são as da paleta da empresa, os negritos são alocados propositalmente em palavras ou frases-chave. Penso no espaçamento entre as sessões. Penso na pontuação e na cadência de leitura. Penso na linguagem, que não deve cansar o leitor. Penso, penso, penso. Faço testes, fecho a versão final e envio.
É só um texto? É, mas é também meu trabalho, meu tempo e - vou falar chique agora - meu know-how.
Não é a primeira vez que isso acontece. Já vi trechos dos meus textos em e-mails de outras empresas do setor. Essa empresa mesmo, já utilizou-se disso várias vezes. Encarei como sendo um elogio, uma vez que estou servindo de “inspiração", mas hoje foi descaradamente uma cópia. Seria a cópia um elogio também?
Uma vez, uma publicação do setor criou um personagem de quadrinhos chamado “o consultor”. Era um personagem gordinho, com bigode de libanês, claramente fazendo referência ao meu pai, consultor muito reconhecido no meio sucroenergético, gordinho, libanês, com bigodinho e tudo. O personagem apareceu depois que meu pai criou uma revista e tornou-se concorrência (embora o formato fosse totalmente diferente) desta, que era a única empresa de mídia do ramo. Explicável, né?
Enquanto eu, no alto da minha adolescência rebelde, fui tomada por uma raiva desmedida, dessas de fazer a cabeça fritar, papai, com sua experiência, riu e me ensinou: se virei um quadrinho, cheguei no auge.
Agora, nesta situação de hoje, mesmo emputecida (desculpem meu francês), pensei: só o líder é copiado.
A Louis Vuitton é copiada.
A Hermès.
A Gucci.
A Nike.
A Apple.
A Nestlé.
E agora, a Andrea Cristina.
Procurando no Google, encontrei uma lista das 30 marcas mais falsificadas do mundo e achei graça por ter até remédio: Tamiflu, Cialis e Viagra.
Os artistas também são muito plagiados. Olha só os 10 plágios mais famosos da música. Rod Steward, estamos de olho em você!
Também encontrei esse vídeo sensacional do Vetoriza.ai, que mostra alguns produtos que copiaram a embalagem do líder de vendas:
É aquela velha história, que vem desde a 5ª série B.
- Posso copiar seu trabalho?
- Pode, mas não faz igual.
Tipo o McDonalds, copiando a campanha do Burguer King:
Embora o plágio esteja mais presente nas vidas das pessoas do que a gente imagina, quem é copiado se irrita, não tem jeito. Era apenas um e-mail, mas no fim do dia ainda estava pensando sobre o quanto me senti invadida por ser terem usado minhas palavras para vender o evento deles.
Deitada sem conseguir dormir, tentei meditar. Usei um desses aplicativos de meditação guiada, mas as vozes na minha cabeça eram outras, diferentes da que saía dos fones de ouvido. Estavam agitadas e debatiam entre si, especialmente sobre como eu deveria me sentir diante do que aconteceu. Quando afinal chegaram à conclusão que só tem fake quem tem fama, adormeci.
Não aprendi dizer adeus
Preciso compartilhar com você algumas coisas legais!
🎵 Um app para fazer uma playlist de músicas usando inteligência artificial. Fiz uma nessa sexta-feira chama “Raiva: uma playlist”. Juro.
🌂 Uber Lost and Found Index 2023: um relatório do Uber com os objetos mais esquecidos nos carros, as cidades mais esquecidas dos EUA, os objetos mais esquisitos (ou únicos, chame como quiser) que foram esquecidos, enfim, uma análise da “esquecibilidade”. (EN)
🖥️ Esse bate-papo da Ana Holanda sobre escrita e inteligência artificial (no YouTube).
🧠 O podcast 30 minutos de Neuromarketing. Estou adorando!
💬 O significado de algumas gírias paulistanas, meo.
Mas deixo você ir
Achou que a newsletter havia virado quinzenal? Ainda não!
Eu estava sem muita criatividade para escrever mesmo. Na verdade, havia escrito este texto aqui, mas achei que ele não combinava muito com o a news e desisti.
Aí comecei a escrever sobre outra coisa curiosa que aconteceu nesta última semana, mas o texto não fluiu bem, vou voltar nele semana que vem. Ou seja, não tinha assunto até começar a passar raiva.
Às vezes os processos criativos precisam ser guturais, não é mesmo?
Vamos ver na próxima semana como vai ser.
Até lá!
Andrea