Ontem eu estava com a macaca. Agitada, ansiosa, impaciente. TPM com véspera de evento, sabe como é. Bem ontem, recebi um e-mail dizendo: “não vou ao evento porque está muito caro”.
Soco no estômago. Engoli seco. Normalmente eu o teria ignorado, mas era um dia ruim. O sangue subiu, a cabeça ferveu. Fúria. Mexeram com meu filho.
Respondi com educação (infelizmente), que o valor da inscrição estava mais baixo do que praticávamos antes da pandemia e mostrei como ele poderia conseguir descontos ou até mesmo inscrições gratuitas com nossos parceiros mas, – enfatizei bem essa parte – o que ele não estava enxergando era o VALOR que o evento tem na atualização profissional e como isso traz benefícios para a empresa a longo prazo.
Como eu estava com a macaca, terminei dizendo que esperava muito que ninguém o escrevesse reclamando do preço de seus produtos, pois só ele sabe o valor envolvido na manufatura e entrega. Vontade de terminar com “antes que eu me esqueça, vai tomar naquele lugar”, mas me segurei. Modéstia à parte, o e-mail ficou ótimo. Escrevo muito bem quando estou com raiva.
E eu sei o valor da minha entrega. Eu sei. Mesmo assim fiquei com a pulga atrás da orelha. Será que o mercado está enxergando o mesmo que eu? Será que o valor que ele tem é o valor percebido?
Na mesma tarde recebi outros dois e-mails. Um se desculpava e se lamentava pela ausência no evento este ano. A safra estava atrasada e ele estava muito triste por não conseguir comparecer. O outro agradecia a equipe do Grupo IDEA pela contribuição ao setor. Juro. Lindo, né?
O coração se aqueceu. Que bom que foi receber essas mensagens no mesmo dia da crítica. Que bom foi lembrar-me de que uma pessoa só não representa todo um setor. E que lástima que é dar mais peso à crítica que ao elogio.
Por que cargas d’água (estou usando muitas expressões antigas hoje) a gente se apega tanto à crítica? Quer dizer, estou falando “a gente”, mas talvez você seja diferente de mim. Eu, infelizmente, me apego à crítica. Me julgo, me cobro, me dou chibatadas.
Estou em um processo de libertação deste lugar, mas costumo dizer que não conseguiria ser influenciadora dessas com milhões de seguidores, pois não saberia lidar com os comentários negativos (e muitas vezes maldosos) de alguém que nunca nem me viu na frente. Teria que dobrar as sessões de terapia e iria lentamente à falência. Já viu quanto custa fazer terapia? Mas não reclamo, sei do seu valor.
Não se sinta mal por mim, estou melhorando a minha auto estima, que tem muito a ver com meu perfeccionismo virginiano, somado à necessidade de corresponder as expectativas dos pais da filha mais velha. Eu sempre achei que tinha que ser perfeita pra ser amada. Uma ilusão, obviamente.
Além da terapia, ajudou muito aprender sobre o Efeito Pratfall, nome que os estudiosos do comportamento humano deram para um dos muitos vieses cognitivos que impactam nas nossas crenças e decisões cotidianas.
Publicado pelo psicólogo Elliot Aronson, o Efeito Pratfall é um viés cognitivo em que as pessoas tendem a gostar MAIS daqueles que NÃO SÃO perfeitos do que daqueles que são perfeitos.
Minha mãe sempre me disse que ninguém é perfeito, mas eu nunca havia pensado em como nossos defeitos nos humanizam, nos aproximam das pessoas e nos tornam mais simpáticos e confiáveis.
Então, caro leitor ou cara leitora, agora que me expus aqui, acho que você gosta um pouco mais de mim. :)
Pratfall Effect no marketing?
Você pode estar pensando, "mas se eu cometer um erro em meu marketing, isso não me fará parecer incompetente?" Na verdade, é o oposto.
Quando você mostra suas imperfeições, você parece mais humano e relacionável com seu público. Isso pode criar confiança e simpatia, que são dois fatores essenciais na construção da marca.
Pessoas gostam de comprar de pessoas. E as pessoas estão longe de serem perfeitas. Embora possam não perceber, seus clientes podem preferir falhas à perfeição.
Como o estudo realizado com cookies, que mostrou que os consumidores preferiam aqueles meio craquelados que os perfeitamente redondos. Acho que assim, um tanto irregular, a gente se lembra dos que fazemos em casa.
Algumas empresas acabam usando o que seria um ponto negativo em algo muito positivo, como é o caso da Avis, a locadora de carros, que criou o slogan “nós somos o número 2 do mercado, por isso nós nos esforçamos mais" em uma campanha icônica dos anos 60.
Na verdade o slogan era “we try harder", mas em tradução livre é isso mesmo que eu disse. Olha só que beleza de campanha.
Diz a lenda que a conversa entre Robert Townsend, que havia acabado de virar CEO da Avis com a missão de aumentar as locações que estavam caindo vertiginosamente, teve a seguinte conversa com a agência contratada, a DDB:
DDB – “Os carros da Avis são mais novos que os da Hertz’s?”
Townsend disse que não.
DDB – “A Avis tem mais locais de locação?”
“Não”
DDB – “Tarifas mais baixas?”
“Não.”
DDB – “Tem alguma coisa que diferencie as duas empresas?”
“Bem,” disse Townsend, após pensar por um momento, “We try harder.”
Depois disso meu filho vem me falar que odeia propaganda? Aaaaaahhhhh, faça-me o favor, né? Isso é arte!
A Pepsi surfou na mesma onda com a campanha “Pode ser Pepsi?”. A frase, que sempre ouvimos em estabelecimentos que não serviam Coca-Cola foi usada para que o consumidor experimentasse novas sensações. Pode ser bom, pode ser muito bom, pode ser Pepsi. Poesia!
Você não quer uma avaliação 5 estrelas
Esse é o título de um artigo que li da Tech Crunch, que cabe super bem na edição de hoje.
Nele, o autor fala de uma pesquisa da Northwestern University e do PowerReviews que descobriu que, com moderação, as críticas ruins ajudam a aumentar as vendas.
WHAAAAT?
Na verdade, as compras de produtos foram mais influenciadas por avaliações com classificação média de estrelas entre 4,2 e 4,5.
Adivinha por que.
Pensa no seu crush mais perfeito da vida. Ou do, sei lá, Rodrigo Hilbert, o homão da p*rr@. Bom demais pra ser verdade, deve ter chulé. Igual os produtos 5 estrelas.
Ter algumas avaliações não tão boas ajuda o consumidor mais cético dos dias de hoje a acreditar mais no produto, afinal, como dissemos lá em cima, nada é 100% perfeito.
Uma mistura de avaliações boas e ruins demonstra a transparência de uma marca e pode sinalizar que as avaliações exibidas em seu site não são falsas ou filtradas.
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Pratfall effect + meme = sucesso
Onde é que está a maior queixa dos usuários do Netflix?
“Fico uma hora escolhendo o que assistir e não assisto nada".
Eis o meme:
Falha minha
Não mandei a news no dia de sempre. Nem no dia seguinte. Só hoje.
E lamento informar que semana que vem não teremos news, por conta do evento bom demais da conta que eu falei pra vocês no comecinho dessa carta.
Eu na semana que vem seria assim 👆, por isso peço desculpas.
Como falhar é humano e as pessoas que falham são vistas como mais confiáveis, confie em mim. Na semana seguinte a news volta.
Até lá!
- Andrea