It's the most wonderful time of the year.
"É a época mais maravilhosa do ano", diz a música.
Realmente é uma época linda. Tanta coisa acontece em dezembro...
Demora-se pelo menos o dobro do tempo para se chegar nos lugares, porque o trânsito está cheio de pessoas que amam dirigir em dezembro. Provavelmente por terem mais tempo para ouvir cânticos natalinos no Spotify.
Acho que é por isso que, ao dirigir, leva-se entre duas a três fechadas por percurso. As pessoas estão tão imersas nos cânticos, tão inundadas de bondade e compaixão, que mal prestam atenção no que estão fazendo ao volante. Tenho certeza de que aquela fechada que levei, ou aquele carro que não me dava passagem, tiveram o propósito de elevar a minha alma e de me ensinar, que xingar alivia, mas não resolve.
E as buzinas de dezembro? Ah, as buzinas... Nessa época elas soam mais frequentemente, assim como o tilintar dos sinos de Natal.
Dezembro é também o mês das confraternizações. Confraterniza-se o tempo todo, a começar pelo supermercado do bairro. Todos os seus vizinhos estão lá e encontrá-los é reconfortante e familiar. Brigar com o vizinho pelo último peru em promoção faz com que a gente se sinta na ceia da família.
O shopping também é um lugar de grandes encontros. Todo mundo está lá. Você deve esbarrar com conhecidos de longa data, antigos colegas de trabalho, familiares de amigos e, se bobear, algum ex-namorado. O único inconveniente é que, não importa o quanto nos arrumemos, após as compras de Natal, vamos estar sempre desconjuntados de tanto carregar pacotes, com uma feições cansadas, de derrota, como quem passou a noite na balada. Mas nem se abale, seus conhecidos estarão igualmente desengonçados. Seremos todos zumbis de shopping, pálidos e de olhos fundos. Lindo de ver a vida real e sem filtros que o Natal nos proporciona.
Aliás, ainda no estacionamento, você consegue ter ideia de quanto o shopping é mais bombado que qualquer balada nessa época do ano. A gente roda por todos os andares em busca de um espaço, assim como Maria e José vagaram pelo deserto em busca de um lugar para Jesus nascer. Não se preocupe, a estrela de Davi indicará o caminho. Viu uma luzinha verde em cima de uma vaga? É lá. Puxa vida, já tem um carro estacionado sob a luz verde, o sensor deve estar quebrado. Tudo bem, vaguemos em busca de outra estrela.
Caso não encontre sua estrela verde indicadora de vaga, é hora se ser sua própria estrela e brilhar. É hora de parar no valet. Tudo bem que isso vai lhe custar R$80,00 a hora mas, se você tiver o cartão infinite black master ultra plus, você pagará apenas R$50,00 para cada 60 minutos. Um preço módico para adentrar o centro de consumo capitalista com carão de um verdadeiro V.I.P. na balada. Aliás, em dezembro, o valet do shopping é a nova bebida que pisca, ostentação pura!
Ah, dezembro... você é a cura para nossa procrastinação. A semana que antecede o Natal é a semana com mais projetos finalizados no ano. A produtividade fica a mil! Nossos clientes se lembram de alterações de última hora, nossos chefes fazem reuniões às 18h, o dia rende, sabe?
E as crianças de férias então? Ah, que alegria elas trazem para a casa. Seus gritos agudos entoados em altos decibéis nos lembram o tempo todo da bênção divina que é tê-los conosco em tempo integral. As brigas entre irmãos podem até levar a um braço quebrado ou a um olho roxo, mas vão construindo e estreitando seus laços.
É neste momento que a gente para tudo para ser grato. Damos graças à escola em período integral, aos professores - seres de luz - que conseguem contê-los sem arremessar suas tamancas e ao privilégio que nossos filhos têm de conviver com esses Budas. Você respira fundo e escreve um e-mail para a escola expressando toda a sua gratidão e perguntando se poderia levá-los mais cedo este ano. Quem sabe no dia 2 de janeiro.
E mais: que outro mês te dá tantas oportunidades de consumir álcool, inclusive na hora do almoço? São confraternizações diversas, com gente que não se vê desde o ano passado, mas que você estima demais e havia esquecido. Ano que vem vocês prometem se ver mais vezes, tenho certeza de que vão cumprir a promessa dessa vez, o Covid ensinou a não deixar essas coisas pra depois, não é mesmo? Mais um gin tônica, por favor.
Se depois de um mês intenso como este, você chegar à noite de Natal sem adoecer, bata palmas para seu sistema imunológico mas, se por acaso cair de cama, não o menospreze. Pense que seu corpo fez isso por você, para que não precise passar a ceia separando a uva passa de tudo que for servido, nem ouvir a piada do "pavê ou pá comê". Ouça o seu corpo. Ele é seu templo. Basta vibrar positivo que tudo acontecerá da maneira que é pra ser.
Essa é mesmo a época mais maravilhosa do ano.
#gratiluz
Feliz Natal!
- Andrea