Lembra do Clubhouse? Aquela rede social de áudio, que, em 2021, prometia revolucionar todas as outras e que durou menos de um ano? Pois é, eu adorava.
Sempre que podia, entrava em uma sala chamada Café com Marketing e ela sempre me rendia algum conhecimento.
Dia desses, entrei na sala e estava lá Gilberto Ratto, diretor de marketing da CBF, falando do caso do Canarinho Pistola, mascote da seleção brasileira de futebol desde 2016.
Na verdade, a seleção brasileira já era a “Seleção Canarinho” (ou Canarinha) desde a década de 1950, quando perdeu a Copa em casa. O time precisava de um “rebranding” e parte desse movimento incluiu alterar a cor da camisa, de branco para amarelo.
Um belo dia, o radialista Geraldo Jose de Almeida, apelidou a seleção em homenagem ao canário da terra, que é todo amarelinho e pegou! Diversas versões de mascotes eram criadas pelos cartunistas da época e o animalzinho se tornou parte intrínseca da nova equipe. Estamos ainda falando dos anos 50.
Corta pra 1994, quando fomos campeões do mundo. Alegria, alegria! Em 2000, a Confederação Brasileira de Futebol (CBF) lançou oficialmente o mascote Canarinho, com bonequinhos de pelúcia à venda e tudo. Aí o Brasil ganhou novamente a Copa de 2002. Foi animal. Foram anos de glória. Mas, depois disso, foi só ladeira abaixo.
A confiança do povo brasileiro na seleção começou a minguar. Com a geração mais jovem então, foi pior. A CBF não conseguia “conversar” com a geração Z nem com as crianças. Não havia nenhuma identificação com o time do Brasil. Alguma coisa precisava ser feita.
Foi quando a Confederação decidiu voltar com o Canarinho, mas repaginado, de acordo com os humores do brasileiro na época. Convenhamos que o fim do governo Dilma, os escândalos de corrupção, o preço da gasolina e o desemprego nas alturas e o 7 a 1 pra Alemanha (principalmente isso, eu acho) estavam deixando o povo pistola. E o que é que o brasileiro faz quando fica pistola? Acertou quem respondeu "meme”. Sim, nós rimos das nossas desgraças e isso é uma das coisas que mais me encanta na nossa personalidade.
Na verdade, nessa reportagem aqui, o criador do mascote, Thiago Mendes diz que “o briefing da CBF pedia um semblante mais confiante, sagaz, de força, de vitalidade. Por isso, ele tem um peitoral mais forte”. Mas saiu “pistola", fazer o que? E deu certo!
Nessa mesma reportagem tem, inclusive, uma fala de Gilberto Ratto que ouvi também lá no Clubhouse e que faz todo sentido:
A gente fez um estudo também com a molecada. Na nossa época, você vai tirar foto com criança e a mãe até dava um tapa na cabeça para sorrir para a foto. Hoje, o moleque de 10 anos está sorrindo, mas vai tirar foto e faz cara de mau. Sem risadinha. É uma outra geração, a gente tem de entender essa geração, não é igual a nossa. A gente começou a entender isso, entender como funciona as mascotes, começa a aproximar com o torcedor e aí vai surgindo o nosso Canarinho."
O “extreme makeover”do mascote da seleção não poderia ter sido mais acertado. O novo Canarinho caiu nas graças do povo. E começou a virar meme. E os memes começaram a ser compartilhados. O resto você já sabe. Que sucesso!
E o Canarinho Pistola ganhou um WhatsApp, um canal de relacionamento com o torcedor, pra se aproximar ainda mais do público. Por lá você recebe memes, guia do Qatar, figurinhas do Canarinho, informações sobre os jogos, etc. Eu testei e já tenho as figurinhas. Hahahahaa!
E o Canarinho Pistola ganhou uma ação OOH (out of home) super legal da Vivo: um relógio que vibra a cada gol e a cada vitória da seleção.
Alguma dúvida do sucesso do Pistola? Ele é celebridade, minha gente!
O mais engraçado: o canarinho bonzinho não pegou de jeito nenhum. A CBF até tinha essa outra versão, pra usar em escolas e em ações para as crianças pequenas, mas nem com eles colou. Vejo aqui pelo Rafael, que tem 8 anos, ele gosta mesmo é do Pistola. Até a pelúcia do canarinho bonzinho encalhou nas lojas. Brasileiro é um povo debochado, não é mesmo?
Mas atenção: o apelido “Pistola” nasceu nas redes sociais. A CBF não o utiliza e instrui que veículos de comunicação façam o mesmo. Apelidos, né? Quem aí não tem um amigo de apelido esquisito que usa o nome da certidão de nascimento no trabalho e o esquisito nas redes e rodas sociais? Mesma coisa. Mesmo não adotando oficialmente o apelido, a CBF não se importa com ele. Afinal, os memes ajudam demais na divulgação e na popularização do mascote.
Mascotes nas estratégias de marketing
Os sucrilhos Kellog's tem o tigre Tony. O guaraná Dolly tem o Dollynho. O Ministério da Saúde do Governo Federal tem o Zé Gotinha. A Perdigão tem o seu galinho (que eue não sei se tem nome), o McDonalds teve, por muitos anos, o Ronald e por aí vai.
Muitas marcas usam mascotes em suas estratégias de construção de marca por diversos motivos:
Para criar aproximação com o público
Para gerar mídia espontânea
Por ajudar no reconhecimento da marca pelo público.
Para humanizar a marca.
Para amadurecer a relação com o público e torná-la mais duradoura.
Se quiser ler mais a respeito, encontrei essa reportagem (bem legal) da Exame sobre o uso de mascotes. Nela, o autor cita um livro, Mascotes: semiótica da vida imaginário, que pode ser uma boa dica para quem quer se aprofundar no assunto.
Agora, se você não quer se aprofundar sobre o assunto, mas gosta de curiosidades sobre mascotes, encontrei um vídeo sobre mascotes bem inusitados do mundo do futebol. Tem de sapato a igreja. Sim, igreja.
Seu festival particular
Imagine um festival de músicas só com os artistas que você mais ouve. Ri sozinha quando usei o Instafest para criar um cartaz do meu festival musical (andreanunesfest) a partir do que você ouço no Spotify. Elee também se conecta com o Apple Music e Last.fm.
Olha só o meu:
Mussomano é um Youtuber que meu filho adora, que faz batalhas de rap com outros youtubers e personagens de jogos. Imagina essa pessoa cantando com Oasis, palavra cantada e alguns in memorian (talvez em forma de holograma?), como Michael Jackson. E Wilson Simonal com Green Day? Fala “eclética” mascando chiclete. Essa é a definição do meu ano na retrospectiva do Spotify. Como você definiria a sua?
Hoje, só amanhã
Pois é, newsletter atrasada dessa vez. Mas caramba, não sei se estamos vivendo o fim do ano ou o fim do mundo por aqui. Mas vamos que vamos, uma coisa de cada vez.
Queria muito dividir com vocês a história do Canarinho Pistola. Revirei meus cadernos procurando as anotações que fiz naquele dia do Clubhouse, mas não achei. Tive que confiar na memória e contar com a ajuda do Google, grazadeus, para validá-la. Hehehe.
Agora bora pras oitavas de final. Estou confiante, e você?
Até semana que vem!
- Andrea