Jau, 17 de julho de 1994.
Estávamos na sala de casa. Meu pai, exaltado, tentava se conter nos palavrões, pois estávamos com visita. Foi difícil, pois foram 120 minutos de tensão e um zero a zero, que levava a final da Copa do Mundo à decisão nos pênaltis.
Minha mãe correu para o escritório. Ela nunca gostou de pênaltis e prefere não vê-los, embora o escritório dos meus pais fosse colado à sala de televisão e a decisão da partida fosse impossível de ser ignorada, seja pelo alto volume da TV, quanto por nossos gritos febris.
As duas primeiras cobranças trouxeram uma enorme exaltação. A primeira nos deixou sonhar com o tetracampeonato quando o jogador italiano chutou a bola por cima do gol. Fogos lá fora contavam com o ovo antes da galinha botar. Em seguida, seu goleiro nos trouxe de volta à realidade ao defender o primeiro chute brasileiro. Silêncio na vizinhança. Estava tudo igual novamente.
Antes de cada cobrança brasileira meus pais (inclusive minha mãe, lá do escritório) gritavam: “descruzem as pernas, descruzem os braços, os dedos, descruzem tudo, que o Brasil vai marcar". Sei lá, não me perguntem, superstição, sabe como é…
Na vez dos italianos, ouvia minha mãe do cômodo ao lado, entoando um “erra, erra, erra, erra, erra", como um mantra.
Até que aconteceu. O talismã italiano, Roberto Baggio, o último a cobrar a penalidade máxima, manda a bola para a arquibancada.
Tenho muito vívida em minha mente a imagem de Baggio, com as mãos na cintura, olhando para o gol, incrédulo, enquanto Galvão Bueno gritava “é tetra! É tretra!".
Abraços, alegria, lágrimas nos olhos, hino nacional, sorrisos, fogos, buzinas. O Brazil era tetracampeão mundial de futebol. Saímos para as ruas para ver a festa no centro da cidade e carregamos junto nossa visita, um argentino, amigo do meu pai, que teve a infelicidade de vivenciar, em solo brasileiro, seu arqui-inimigo se consagrar campeão do mundo. Sim, tivemos este gostinho. Foi mal aí, Ricardo.
E assim, eu criava a minha primeira memória de uma Copa do Mundo. Assim, eu começava a ansiar pela próxima disputa, pelo hino nacional tocado no início de cada partida, pelas ruas todas pintadas de verde e amarelo, pelo patriotismo que se exacerba nessa época. Na Copa nos lembramos de como é bom ser brasileiro.
Por mim, haveria Copa do Mundo todos os anos. Sabemos que não é assim que funciona, mas, para nossa alegria, tem Copa na semana que vem e eu já estou com todos os santos em volta da TV, fazendo promessa e gelando a cerveja. Dessa vez o hexa vem. Vai Brasil!
O melhor que não levou
Qual é o melhor time que nunca ganhou a Copa do Mundo? O colunista da ESPN, Gabriel Marcotti diz, em sua coluna no site da emissora, estar assistindo muitos vídeos no YouTube, para se preparar para a a Copa no Catar. Segundo ele, parece haver consenso de que a seleção brasileira de 1982 é a melhor seleção a nunca vencer a Copa do Mundo.
Repleta de talentos, a seleção de 82 era tão dedicada a jogar bonito, que o belo jogo acabou lhes custando o torneio. Tanto que, na partida contra a Itália, que os eliminou do torneio, Zico, arrasado, disse: “Este é o dia que o futebol morreu". De certa forma, ele estava certo. O futebol que se joga hoje é bem diferente daquele de 40 anos atrás.
Veja um compilado de momentos incríveis da seleção de 82 no vídeo abaixo:
Agora, um pouco de marketing
Porque nem só de saudosismo vive essa publicação, não é mesmo?
Eu recebo muitas newsletters americanas sobre campanhas publicitárias e marketing e elas, diferentemente das brasileiras, como a Mundo do Marketing, por exemplo, não tem absolutamente NADA sobre as campanhas para a Copa do Mundo.
Sei que o futebol não é um esporte popular no país, mas, caraca, é o maior evento de futebol do mundo, com várias estratégias de marcas envolvidas e milhões (ou bilhões) de dólares investidos. Como é que o mercado publicitário americano ignora isso?
De qualquer forma, o esporte tem crescido no país. Até arrisco dizer que na próxima Copa teremos um cenário diferente na América do Norte. Mas nem todos estão indiferentes ao torneio. Esta semana recebi a newsletter da AdWeek com alguns conteúdos sobre a Copa. Entre eles, uma campanha muito legal da série da Apple TV+, Ted Lasso.
Ted Lasso é o nome do protagonista de uma série homônima do streaming da Apple, que traz um treinador de futebol americano, contratado para treinar um time de futebol inglês da segunda divisão. Já assisti e recomendo, é muito boa.
Talvez sem surpresa, Ted Lasso, ou melhor, o ator Jason Sudeikis, é uma presença recorrente em um ano em que marcas e ligas buscam estimular o crescente interesse americano no esporte - Ele está também em uma campanha do McDonalds, um dos patrocinadores do mundial, para os Estados Unidos, que mostra que existem duas coisas que podem unir as pessoas ao redor do mundo: o amor pelo futebol e por McDonalds.
Já a campanha da Apple TV+ consiste em outdoors com palavras de incentivo de Ted Lasso (bem no estilo Ted Lasso de falar) a jogadores e técnicos da seleção americana em suas cidades natais. Veja algumas delas abaixo. Se já viu a série, vai amar!
Na minha opinião, a campanha é simples, mas super criativa. Uma maneira divertida de aproveitar o momento Copa do Mundo para colocar a série em evidência.
Tá gostando da news? Compartilhe para que ela chegue a mais gente. Vou amar! :)
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A campanha da Adidas mostra o jeito de torcer do brasileiro e eu estou in love. Adoro essa alegria e irreverência do nosso povo.
Nem tudo são flores. A escolha do Catar foi beeeeem polêmica. Veja aqui o porquê.
Com tanta polêmica em torno da sede dessa Copa, a cerveja BrewDog se posicionou fortemente contra. Em sua campanha, a empresa se diz orgulhosa de ser anti-patrocinadora da Copa e sua mensagem central diz: “Primeiro a Rússia, depois o Catar, mal posso esperar pela Coréia do Norte". Eita!
Vi na newsletter da Bia Guarezi (que é sobre a Copa também, por que será?) que a Pantone, por sua vez, driblou a proibição da bandeira LGBTQIA+ no Catar com uma bandeira branca e os códigos dos pantones das cores que compõem a bandeira original. Não sei no que isso vai dar, mas adorei.
Quer mais polêmica? Assista o documentário sobre corrupção na Fifa do Netflix. Assisti só o primeiro episódio e parei. Não quero estragar meu humor pra Copa. O negócio foi feio. Chama-se Esquemas da Fifa.
Deixei o melhor pro final
Não consigo parar de ver esse vídeo:
Boa Copa pra você!
Vai Brasil e até a próxima!
- Andrea