Como foi difícil começar a escrever esta semana.
Pensei em falar sobre um podcast que ouvi, mas deixei na pauta para uma próxima. Pensei em falar sobre segundas chances para marcas, artistas e escritores, mas também engavetei. Por fim, estava quase escrevendo sobre o Halloween, mas não saiu nada.
Não há nada de errado com os temas, eles só eram os assuntos certos na hora errada. Não era nada com eles, era comigo. Terminamos.
Escrever pra mim é gutural. Eu preciso me colocar no texto, sentir as palavras, rir sozinha ou chorar um pouco, mas nenhum dos assuntos que queria escrever conseguiram me conquistar. Não era amor, era cilada.
E a cilada que me encontrei foi uma ressaca braba pós-eleições. Cheguei a desinstalar o aplicativo do Instagram, pra me desintoxicar, até me lembrar de que preciso dele para trabalhar. Agora, de volta ao meu celular, ele está se mostrando pra mim novamente. “Apresentamos os stories". Tá bom, querido. Já estivemos juntos, mas você sequer se lembra de mim.
Voltando à ressaca, que dureza que é não conseguir curá-la com Gatorade e Engov.
Foram dias difíceis, você há de convir. Muita violência física e verbal destilada sem cuidado por ambos os lados. Candidatos demonizados por suas oposições. Clima de que teríamos um apocalipse independente do resultado. E ainda, depois da apuração, o que é que nós vemos? Lulistas atacando Bolsonaristas e vice-e-versa. Parece que nada mudou. A mesma violência de antes, a mesma tensão, as mesmas indiretas. Um lado não se conforma e o outro lado não se conforma com a inconformação alheia.
Parei de seguir todos que estavam faltando com respeito ou se mostrando superiores por pensar de um modo x ou y, embora não culpe ninguém pelos comportamentos lamentáveis. A culpa está na própria política suja e imoral do país, nas campanhas publicitárias de ódio feitas pelos marqueteiros políticos, tanto de esquerda quanto de direita, pelo clima de nós e eles que foi criado no Brasil desde mil novecentos e bolinha.
Não sei se sou muito sensível, mas o clima está pesado.
Muito li sobre o amor vencer o ódio, mas enquanto não nos respeitarmos como seres humanos, continua sendo cilada, cilada, cilada.
Aversão à perda
Já parou pra pensar que nós valorizamos mais as nossas perdas que nossos ganhos?
Neste artigo sobre ganhos e perdas e o peso que damos a ambos, o autor define a aversão à perdas da seguinte maneira (tradução livre):
A aversão à perda é um viés cognitivo, que explica por que os indivíduos sentem a dor da perda duas vezes mais intensamente do que o prazer equivalente ao ganho. Como resultado disso, os indivíduos tendem a tentar evitar perdas de todas as formas possíveis.
“Evitar perdas de todas formas possíveis". Faz sentido.
Comecemos pelas coisas que acontecem diariamente nas nossas vidas. Parece que a gente dá muito mais importância ao que deu errado que ao que deu certo. Repare nas conversas com seus amigos. É muita reclamação pra pouca exaltação.
Eu poderia ficar falando aqui que isso tem a ver com a nossa cultura religiosa, com o pecado original, com a valorização da humildade frente à exaltação, mas isso iria muito longe. Vamos ficar no superficial: reclamamos mais que exaltamos.
Quando se termina um relacionamento então, parece que a gente só tem olhos para o que perdeu e não para o que ganhou se livrando do traste. Deixa isso de lado também.
O legal sobre conhecer sobre a aversão à perdas é poder usar isso para persuadir as pessoas. Hehehe (risada maligna). Não pense que sou uma bruxa, a gente vê isso todos os dias em campanhas de marketing. Olha só este print de tela da Amazon:
Percebe que o destaque maior é para o desconto? A Amazon não enfatiza o preço mais antigo e mais alto. Em vez disso, nossa atenção primeiro vai para o quanto podemos economizar - aversão à perda no seu melhor.
Se você vender um serviço, pode mostrar como ele ajuda a evitar circunstâncias indesejáveis. Veja o que um serviço de personal training em casa (ou online) pode dizer:
Usando para o bem:
Sabe sacolinhas de mercado? Elas são bem ruins para o meio ambiente, você já deve ter ouvido falar disso, mas sabe qual foi a maneira mais eficiente de diminuir seu uso? Cobrando por elas. Custa 10 centavos, mas ninguém quer perder.
Último exemplo:
Você assina um canal de streaming e tem um mês gratuito, pra ver se gosta. Você até gosta, não ama, mas gosta. Tipo Globoplay. É ruim, sempre trava, mas tem uns conteúdos ok. Eu até viveria sem, mas essa desgraça já entrou na minha vida e eu não consigo cancelar. No fundo, estou evitando a fadiga a perda que vou sentir quando desistir dela. É uma decisão emocionalmente desafiadora.
Meme do dia
Não pensem que só porque eu estou com ressaca de eleição que eu sou santa.
Eu sei…
Mais uma newsletter de desabafo relacionada à “fadiga da eleição” - acho que isso vai virar tese psicológica - mas, como disse, não consegui me colocar em outro tema.
Além disso, aproveitei o momento em que muito se fala sobre ganhar e perder para colocar aqui um pouco sobre a aversão à perda. O tema é bem mais complexo e profundo, mas acho que já deu pra ter uma ideia de como ele funciona na prática, não deu?
Espero que tenha gostado. Até a próxima!
- Andrea
terrível mesmo, as brigas e desavenças seguem, e pior ainda, à toa, os políticos seguem a vida e os tolos aqui se matando