“Andrea, vi que você conhece a Lia. O filho dela está na classe do meu na escola".
“Conheço sim! Ela era da minha turma na faculdade"
“Ah, sério? Achei que vocês tinham se conhecido mais recentemente".
Aquilo me atingiu como um raio. Pra mim, que tenho amigos do tempo do colégio, as amizades da faculdade são recentes, mas, se olharmos bem direitinho, faz 20 anos que eu me formei.
Vinte anos.
Levei o mesmo susto quando a filha adolescente de um amigo se referiu a algo como “isso é tão anos 2.000".
Soco no estômago. Os anos 2.000 foram ontem!
O tempo passa, o tempo voa, como diria a campanha do Banco Bamerindus (coloquei o link para referenciar quem não tem esse contexto. Ou seja, xóvens).
Meus filhos às vezes me pedem pra contar histórias do meu tempo.
“Do. Meu. Tempo.".
Caraca, “do meu tempo” é algo que meus pais me falavam quando eu era criança e eu os achava velhos por viverem em tempos tão diferentes dos meu. Hoje eu posso dizer que tenho o “meu tempo”, que é diferente do tempo dos meus filhos. É um pouco chocante perceber que não somos do mesmo “tempo”. Ou será que sou a única que se choca com isso?
Será que é por ter um tempo que foi meu e não é mais que eu me sinto extremamente nostálgica com tudo o que consumo relacionado aos anos 80 e 90?
Existe um estudo sobre o efeito nostalgia nas artes, que diz que há uma razão pela qual a cultura da década de 1980 está experimentando um ressurgimento agora (com músicas remixadas por artistas pop da atualidade, remake de filmes, e, é claro, o fenômeno Stranger Things). Assim como há uma razão pela qual estamos nos primeiros dias de mais acúmulo de nostalgia dos anos 90.
Este estudo fala sobre um padrão que tem consequência na criação e na conceituação de cultura. Traduzindo do artigo, “o padrão é este: a cultura pop está sempre obcecada por um pêndulo de nostalgia que regularmente ressurge coisas de 30 anos atrás".
Como assim?
O texto explica e faz total sentido. Imagine que você é uma criança que viveu nos anos 80. Aí você cresce e vai criar conteúdo. Quais são as suas referências mais enraizadas?
Mais do texto:
“Há uma série de razões pelas quais o pêndulo da nostalgia aparece, mas o fator determinante parece ser que leva cerca de 30 anos para uma massa crítica de pessoas que eram consumidores de cultura quando eram jovens se tornarem criadores de cultura na idade adulta”.
Não disse que faz total sentido?
Além disso, olha só que vantagem, depois de cerca de 30 anos, você tem um mercado real de pessoas com renda disponível que são nostálgicas por suas infâncias (o seu tempo) e, a partir desse sentimento, você constrói o seu mercado consumidor.
E aqui vou eu falar sobre o fenômeno da nostalgia na propaganda, nos filmes e nas artes de novo. Existem diversas teorias para o sucesso do fator nostalgia, mas eu pessoalmente acredito que esteja relacionado com o sentimento de segurança. Quando algo me remete ao “meu tempo”, me faz sentir confortável e segura, enquanto os tempos atuais, tão complexos e dinâmicos, me deixam um pouco confusa e vulnerável.
A vulnerabilidade é causada não apenas pelas novas tecnologias que têm ciclos cada vez mais curtos, mas também pelas mudanças comportamentais. Como é ser jovem hoje em dia? Como se comunicar com os jovens atualmente? É por isso que existe tanta gente da área de comunicação falando sobre como falar com a geração Z. Aliás, faça esse exercício:,coloque no Google: “Como falar com a geração Z” e veja a quantidade de artigos que aparecem.
Minha mãe sempre disse a mim e a minha irmã: “vocês nunca me deixem ficar ridícula". Mamãe há anos já tinha consciência de que o que ela sabia sobre moda, penteados e costumes mudaria com o tempo e nos fez prometer que a atualizaríamos sempre, para que ela se sentisse mais segura e confortável nos novos tempos.
Eu olho para meus filhos e penso a mesma coisa, eles vão me manter atualizada e, quando me dou conta, eles já me atualizam. Já sei o que é “noob”, por exemplo. Você sabe o que os jovens querem dizer com “isso é muito noob"? Pois eu sei.
Foram 20 anos desde a época da minha formatura, mas parece que foi ontem. Talvez pelo fato de não ter atingido o pêndulo dos 30 anos (ainda não me sinto tão nostálgica), ou talvez porque - e eu prefiro essa versão - que a impressão de que o tempo não passou é comum entre aqueles com o espírito jovem, como o meu. Só não consigo mais ficar acordada até de madrugada e ir em baladas sem cadeira para me sentar. A lombar dói, sabe?
Seleção de links da semana
1. Este aqui tem tudo a ver com o tema de hoje
Cultura do conforto: por que sempre retornamos aos nossos programas de TV favoritos?
No texto, a autora diz algo como (tradução livre): “Estamos vivendo em tempos incertos, com guerras e lixo poluindo o meio ambiente e mudando o clima. Você não precisa ser um cientista comportamental para descobrir que, quando o terreno parece instável e imprevisível, há um desejo de estabilidade ou repetição”.
É em inglês, mas você sabe, clicando com o botão direito e em “traduzir” você consegue ler o artigo em português. É só clicar AQUI.
2. Conheça o Museu do Fracasso
Achei demais esse Museu do Fracasso, que expõe diversas investidas de start-ups e grandes marcas que deram errado. Algumas MUITO errado, como o videogame da Apple, que eu nem sabia que um dia isso existiu.
Neste post, que foi onde eu descobri o museu do fracasso, o autor conta algumas dessas histórias em exibição no museu e fala o que deu errado nos lançamentos em marquetês. Adorei. (em inglês)
3. Por que a Monalisa é tão famosa?
INTERESSANTÍSSIMO esse post. Você sabia que a popularidade da Mona Lisa é um fenômeno recente? Da Vinci começou o retrato em 1503, mas sua reputação como “a pintura mais famosa do mundo” só aconteceu realmente no século passado.
São mais de 400 anos de anonimato até virar celebridade. Como foi que isso aconteceu? Trung Phan, o autor desse post conta a história desde o começo.
Aposto que nem a Cacá, minha amiga que é especialista em arte, sabia da história completa. (em inglês)
4. Um texto incrível sobre o blefe
Pra terminar, explico algo do “meu tempo”:
Um beijo e até a próxima semana!
- Andrea