Ao entrar na sala número 11 da exposição, entregaram-nos óculos especiais para que pudéssemos enxergar as ilustrações das janelas redondas que, vistas a olhos nus, pareciam vazias.
Os adultos passeavam pela sala com suas mãos para trás, parando de janela em janela para apreciar os rabiscos do cineasta homenageado. Enquanto isso, as crianças corriam de uma para a outra, voltavam, soltavam gritos entusiasmados e puxavam um ao outro para que descobrissem juntos as mesmas cores e traçados. Por vezes tiravam os óculos e convidavam os amigos a fazerem o mesmo para que pudessem perceber a mágica acontecendo diante de seus olhos.
Entre os movimentos de por e tirar, vi meu mais velho com os óculos nas mãos, passando-os bem rente à tela em branco das janelas digitais. Ao fazer isso, pequenos pedaços do desenho formavam-se somente dentro das lentes e permitiam que seus detalhes fossem descobertos aos poucos. Não demorou para que toda a criançada estivesse fazendo a mesma coisa.
Gênio, pensei. Como foi que descobriu isso?
Simples: ninguém havia lhe dito que não é assim que uma exposição é visitada. Não havia (e ainda não há) em seu repertório de vida ou boa educação, uma regra de conduta limitando seus movimentos e sua gritante curiosidade infantil. Ali, ele era uma criança sem amarras sociais, sem códigos de conduta, sendo livre para explorar sem se sentir ridículo.
Rafael viu o que os adultos não viram, pois é aprendido que as peças de uma exposição é apreciada de longe, com as mãos pra trás. Não estou dizendo que isso seja errado. Se você está visitando uma exposição de porcelanas milenares chinesas, por favor, fique com os braços pra trás e, se possível, não respire. Mas tratando-se de uma experiência sensorial e interativa, como a mostra “A Beleza Sombria dos Monstros: 13 Anos da Arte de Tim Burton” na Oca, Parque Ibirapuera, por favor, livre-se dos padrões e tire suas mãos das costas.
Falando em criatividade…
Descobri recentemente a marca de roupas Lushious, criada pela modelo Atlanta de Cadenet Taylor.
Atlanta, que também é apresentadora de um podcast sobre auto imagem, criou uma marca com peças bonitas, de qualidade e inclusiva.
Sem grandes novidades até aí, certo? Mas a criatividade vem a seguir:
1) A Lushious está revolucionando os nomes dos tamanhos das roupas. Segundo sua fundadora, as pessoas não querem (ou não devem) mais ser rotuladas como "pequenas” ou “grandes”. Na Lushious, as roupas são projetadas com o tamanho padrão em mente, mas adjetivos foram atribuídos a cada um deles. Veja:
Porque isso é tão legal: uma das coisas que as pessoas mais detestam na hora de comprar uma peça de roupa é ter que pedir seu tamanho. Pedir um “extra grande” para a vendedora ou dizer que o “pequeno” ficou muito largo pode ser embaraçoso. Quem nunca?
Ao mudar o nome, a pessoa pode chegar na loja e, ao invés de dizer “sou tamanho 2X”, ela pode dizer que é “splendid". Genial, né? É a quebra de uma barreira de compra.
2) A mesma roupa que pode ser adquirida na loja física, também pode ser encontrada em NFT. Será que isso é surfar na onda do momento ou é plantar uma sementinha em uma nova forma de varejo?
3) A marca não se classifica como “moda feminina” e sim como “femmewear”. oi? Atlanta explica que femmewear é uma categoria de vestuário inspirada na estética feminina, mas que pode ser usada por todos os gêneros. Essa é outra maneira de a Lushious ser inclusiva. Você pode ser homem, drag queen, não binário ou se encaixar entre qualquer expressão de gênero (confesso que não conheço todas), se você quer usar Lushious, essa é uma marca pra você. Inspirada no feminino, mas que não é feita somente para mulheres. Aí está uma SUPER diferença de posicionamento.
Além desses três pontos, que foram os que mais me chamaram a atenção, a marca tem quase toda a sua produção feita com materiais sustentáveis, sem comprometer a qualidade.
Agora me conta: ela não precisou ir tãããão longe para criar esses pontos de diferenciação, não é? Pegando um gancho com o texto de introdução desse e-mail, Atlanta de Cadenet Taylor tirou os óculos, as mãos das costas e olhou a exposição ao seu redor de outra maneira.
Fontes: Esse artigo e essa entrevista.
Hoje a news está mais curtinha porque meus dedos estão congelando aqui no teclado. Que frio, minha gente! Aliás, você é da turma que ama frio ou da que odeia? Pergunta polêmica, hein? Tem gente se matando no Twitter por causa das opiniões divergentes. Ah, esse nosso mundo polarizado…
Cuide-se por aí, hein?
Até a próxima!
- Andrea
(PS: para falar comigo, apenas responda esse e-mail ou escreva para andrea@ideaonline.com.br)
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