Crônica. Um gênero literário que sempre me atraiu sem que eu soubesse nomeá-lo. Eram os livros do Luis Fernando Veríssimo e da Martha Medeiros que ocupavam mais espaço na minha estante. Era nessa forma de escrita que eu registrava os dias na minha agenda. É dessa maneira que eu melhor me expresso, até hoje.
A crônica é um recorte. Um pedacinho bem pequeno do cotidiano. Um detalhe que passa despercebido aos olhos menos treinados para enxergar a poesia dos dias banais.
Já fiz crônica sobre restaurante por quilo, sobre uma viagem de uber, sobre quando encontrei minha antiga naninha na casa da minha mãe e até sobre uma cantada péssima de uma balada dos anos 2000.
Perceba que a crônica é marcada por algumas características: foco no cotidiano, brevidade e subjetividade, linguagem simples e descontraída, próxima da oralidade e, por muitas vezes traz uma reflexão crítica sobre os aspectos da vida em sociedade. Engraçado que, mesmo sendo eu uma escritora de crônicas desde que me entendo por gente, aprendi tudo isso depois de adulta. Pelo menos não me lembro de a professora de redação ter trazido todos esses elementos do gênero em alguma aula específica. Fico até em dúvida se, nos anos 90, as crônicas que escrevíamos na escola não eram chamadas simplesmente de “redação".
De qualquer modo, senti-me honrada e orgulhosa quando meu filho, de 11 anos recém completados, veio me dizer que estava estudando o gênero crônica e que gostaria de levar uma pequena zine que fiz com algumas crônicas dessa newsletter, quando completei 100 edições, para a escola.
Ele levou, leu uma crônica em voz alta e ficou muito entusiasmado com a produção textual daquele mês. Tinha várias ideias, mas, para a produção que valia nota, decidiu-se por uma que tem a irmã mais nova, Mariana, como personagem principal.
Rafael ficou tão orgulhoso de sua crônica, que falou dela por dias, de como escolheu o final, o parágrafo que tirou, a sugestão da professora, etc, etc. Quanto mais ele falava, mais curiosa eu ficava para ler.
Findando o bimestre, finalmente pôde trazer sua produção para casa. Pediu-me que lesse em voz alta para ele, para a Mariana e para o pai. Eu, orgulhosa, não apenas obedeci, como lhe prometi um holofote: ele quem assinaria a próxima edição da Andrea Me Conta.
Como promessa é dívida, segue abaixo o texto do meu pequeno cronista, do jeitinho que ele escreveu (e digitou para a mamãe não ter trabalho, excluindo ainda uma frase que, em suas palavras, “estava sobrando”).
*
Mariana e Alexa
Por Rafael Correia - 5ºA
Ai, ai como as Alexas são legais, respondem QUASE tudo certo, tocam música, são uma ótima companhia. Menos pra minha irmã.
Era um dia ensolarado, pássaros cantando, flores desabrochando, eu jogando no meu quarto com meu amigo em ligação, e minha irmã em seu quarto se maquiando.
Enfim, após 10 minutos de jogatina, percebi que Mariana decidiu escutar um álbum de música de um filme chamado WICKED.
— Alexa! Toca o álbum do Wicked!
— Tocando o álbum The Weekend.
— Não Alexa, toca o álbum do WICK-ED!
— Tocando o álbum The Weekend no Amazon Music.
Mariana até tentou desligar e ligar o aparelho para ver se melhorava. E de novo:
— Aaaleeeexaaaaa toca o álbum do Wicked!
— Tocando o álbum The Weekend.
A partir daí Mariana SURTOU. (Acho que surtou é pouco, mas deixa).
— Alexa sua BURRA, IDIOTA, FILHA D4 §07@!!!
Minha babá até tentou ajudar, mas não adiantou. Eu fechei a porta do meu quarto porque achei que ela iria me bater!
Depois de um tempo, Mariana se acalmou. E eu corri até minha mãe pra dizer o que aconteceu. E ela só respondeu:
— Por que não gravaram isso?
*
Falem a verdade: ele tem o senso de humor da mãe, não tem? 😉
Não aprendi dizer adeus
📺 Série
Eu adorei o mote da minha série vício do momento ser sobre uma divisão do MI5 (serviço de inteligência britânico) só para agentes rejeitados, que já fizeram alguma besteira prévia. Essa é Slow Horses, disponível na Apple TV+. Uma série de espionagem que equilibra o humor ácido com o drama urgente. Com Gary Oldman arrasando no papel principal.
Amei a resenha do
sobre Slow Horses. Dá uma só uma olhada aqui*
🏖️ Por aí
Ideias de dates para se fazer sozinha. Eu amo e a
também.Como não escrever sua newsletter, por
Em épocas de metanol no gin, segue lista de bons vinhos para ter em casa, da
.Veríssimo e o Twitter, uma curiosidade do nosso cronista favorito, trazida por
A
compartilha conosco seu processo de escrita do seu primeiro romance em sua newsletter paga chamada Reality Show. A próxima edição vai ser aberta ao público, então se inscreve para não perder.Um diálogo de ontem:
Mas deixo você ir
Fico por aqui, feliz da vida em exibir meu filhote pra todo mundo, mas preocupada porque criei um problema. A Mariana agora vai querer assinar alguma edição também. Aguarde, porque o eu lírico dela tem o tom da blogueiragem. Hahaha.
Sim, sou uma coruja irremediável.
Até a próxima edição!
Um beijo,
Andrea
eu ia ter vontade de jogar a alexa no chão... hahahah
Deaaaaaaaaaa, seu Rafa tem sim o mesmo senso de humor da mãe. Adorei!!! E eu ri horrores. Que bonitinhooooo.
E mais uma coisa em comum a gente tem: livros e o amor por Veríssimo e MArtha Medeiros. To chocada!!! hahahaha