Quem disse que eu consigo dormir?
O coração não para.
Ao voltar para o hotel depois do show super intimista (para apenas 300 pessoas), de Bon Jovi, minha banda favorita desde os 13 anos, estou em êxtase.
Nunca tive uma experiência dessas antes. Nunca pensei que teria.
As pessoas costumam ganhar ingressos para show, camarotes descolados, festas fechadas, mas eu não. Quem sou eu? Uma garota do interior de São Paulo, que foi para a capital para estudar e por lá ficou. Não estudei nas melhores escolas do país para ter os contatos certos. Não sou diretora de empresa que patrocina grandes espetáculos ou artistas. Não sou influenciadora de nada e ninguém precisa puxar meu saco para conseguir alguma coisa ou pelo menos ficar bem na fita. Não ganho nem injeção na testa. E olha só onde estava.
Mesmo assim, estou me sentindo incompleta.
“Ele nunca vai saber da minha existência, Paulo”, choramingo para o marido.
Conformada, tomo banho, coloco meu pijama e me deito. O dia foi intenso. Passei metade dele com a barriga doendo, sem conseguir continuar uma simples conversa, me perdendo nos pensamentos turvos e ansiosos do que viria.
Paulo ronca ao meu lado e eu não consigo dormir. Não pelo ronco, mas pelo coração disparado.
Pego o celular para me distrair e entra uma ligação. É a segunda vez que ela me liga. Da primeira vez, caiu no modo não perturbe. Agora, com o celular em mãos, a ligação entrou.
“Amiga, tudo indica que o Jon vem pra cá. O segurança dele está aqui e o fotógrafo também. Se for alarme falso, você me desculpe".
É Edna quem está falando. Nós nos conhecemos na retirada dos kits de boas vindas da Runaway Tour, empresa que organiza esse tipo de evento, que coloca a banda tão próxima dos fãs. Edna mora em Nova Jersey e já esteve na presença no meu ídolo máximo algumas vezes. Ou melhor dizendo, já o perseguiu por aí. Edna se compadeceu por mim. Por eu nunca ter estado com ele. Nunca ter trocado uma só palavra com Jon. Como se fosse fácil, né?
“Estou indo”.
Pulo da cama. Paulo acorda com o meu movimento e pula também.
Eu, que antes estava bem arrumada, com babyliss no cabelo e maquiagem bem feita, me enfiei num par de jeans, coloquei uma camiseta da banda por cima e, com o cabelo ainda amarrado num coque mixuruca, desci os 800 metros até o JBJ, bar de Jon Bon Jovi na cidade de Nashville, com o coração doendo, como se tivesse levado um tiro. Shot through the heart, and you're to blame. Entendi a letra da música só agora.
Foram menos de 10 minutos entre a ligação e a porta do bar. Curiosamente não pediram meu ID. Eu entro só com a credencial da Runaway, olho para o palco e Phil X, guitarrista da banda, está lá.
“Ah, é o Phil", comentei com o Paulo. Não desmerecendo o cara, até porque ele é um artista incrível, mas eu já o havia visto tocar na festa de sexta-feira e, convenhamos, minha expectativa era outra. Mas já que estávamos lá, resolvemos tomar uma cerveja e comecei a andar em direção ao bar.
Mal sabia eu que, enquanto eu entrava pela porta da frente do JBJ, Jon Bon Jovi entrava pela porta dos fundos. Enquanto eu me dirigia para o bar, ele seguia para o mesmo caminho. Eu sozinha. Ele arrastando uma multidão que já o aguardara na entrada.
Curiosamente, não percebi a muvuca. Apenas avistei sua cabeleira branca de longe e gritei para o Paulo: “Bon Jovi". “Calma, Andrea”, disse a voz de quem não acreditou que eu pudesse estar certa de quem estava lá.
Corro para o bar. Me coloco em uma posição central. A multidão ainda não invadira todo o espaço. Estou em vantagem. Ele entra atrás do balcão e eu não acredito. Jon Bon Jovi ali, na minha frente, tão próximo a mim. Separados por um balcão de bar.
Ele anda na minha direção. Olha e sorri para os fãs. Acena. Ouve dezenas de “I love you” histéricos. Está acostumado a isso. Eu não estou mas, mesmo assim, decido que seria naquele momento que ele saberia da minha existência. Não posso chorar. Não posso nem ao menos desmaiar. Tenho medo de que, se eu piscar, perco o momento. Ou pior, acordo.
Já ensaiei esse momento mil vezes na cabeça. É agora Andrea. Ele está chegando perto. Eu grito: “Jon, thank you for your music”.
Ele chega mais perto. Olha para mim. Pega na minha mão. Encara meus olhos com seus olhos azuis. Eles são reais. Eles estão olhando para os meus. Não são os olhos que encaram uma câmera, fazendo tipo, para a capa de uma revista qualquer dos anos 90. Não são os olhos que eu olhava nos pôsteres do meu quarto. São olhos de uma pessoa em carne e osso, na minha frente. Pela primeira vez os encontrei, mas eram tão conhecidos, que penso que já os havia encontrado antes.
“Thank you for your music", repito, um pouco mais baixo. Olhando fundo para ele. Debruçada no balcão do bar para que ele pudesse me ouvir. Ele me olha, coloca a sua outra mão junto à minha, sorri, faz uma reverência a mim e sai batendo palmas.
“Obrigada pela sua música".
Uma amiga disse isso ao seu ídolo e me inspirou. Dentre tantos I love you, um artista quer mesmo é receber elogios à sua arte. Desde que soube de sua história, ensaio essa frase mentalmente. “É isso que vou falar para Jon Bon Jovi no dia que o encontrar".
E eu sabia que esse dia chegaria.
(…)
Depois, ele ainda serviu vinho de sua vinícola para todos ali no bar. Brindou comigo. E, em um determinado momento, enquanto dezenas de celulares tremiam ao nosso redor em busca da foto perfeita, desliguei o meu.
Fiquei apenas observando.
Ele percebeu. Eu era a única sem uma câmera apontada para ele.
Lançou-me um meio sorriso debochado, como quem diz “olha essa galera”. Retribuí o sorriso sem mostrar os dentes, ergui os ombros numa expressão divertida de quem responde apenas um “pois é” e, por um instante fui, cúmplice daquele rockstar.
Parça dele.
Acima da multidão.
Não aprendi dizer adeus
Meu marido pegou, ao longe, esse momento glorioso:
E o fotógrafo oficial da banda me pegou no fundo aqui dessa foto:
Além disso, a queridíssima Juliana, que estava ao meu lado, pediu uma selfie e olha só eu lá, junto dela, meio que de papagaio de pirata:
Ao final, voltando para o hotel, meu marido me perguntou se eu iria numa próxima Runaway Tour. Eu eu disse que não sabia. Foi tudo tão incrível, que fiquei satisfeita. Mas deixa eles lançarem a próxima que eu te conto. Hehehe.
Mas vamos acordar, né Andrea Cristina?
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Na semana que vem eu volto!
Obrigada por ler até aqui.
Um beijo,
Andrea
Como dizem lá em Brasília, caraca véi! Que momento mágico, Andrea. Eu passaria uns 15 dias pra voltar ao normal...rsrs
PQP!!!!! Pode falar palavrão? 🫣
Juro que andei os 800m ansiosa do seu lado e, qdo ele segurou sua mão, meu coração deu aquela pausa de emoção.
Não foi um sonho, porque nem em sonho você conseguiu imaginar um encontro tão perfeito com gestos de cumplicidade.
Aiii to tão feliz com a sua história, parece até que fui eu quem o encontrou!! (Universo, tô pronta)