#12 - O primeiro evento
E mais um pouco de coisas nostálgicas que a gente ama, como Pantanal.
Os dentes estavam apertados quando encarei a tela do computador mais um vez. Atualizei a página. Nada de novo. Fui verificar a entrega e abertura do último e-mail que enviara há menos de um hora. Voltei à página que estava anteriormente e a atualizei mais uma vez. Uma nova inscrição. Uma. Una. One.
O evento, que há mais de vinte anos recebe cerca de 600 pessoas estava organizado para 300. Era o primeiro que organizávamos depois do longo inverno do distanciamento social. Naquele exato momento tínhamos 74 inscrições. Míseras 74 inscrições. Mexi o pescoço de um lado para o outro para tentar aliviar a tensão. Estralou como chocolate crocante. Olhei o calendário. Faltavam dez dias para a realização.
Os dias seguintes se passavam da mesma maneira. De hora em hora, assim como o resultado da TeleSena, eu entrava na página de inscrições e apertava o botão de recarregar a página. As vendas de ingresso seguiam no marasmo enquanto eu respirava com ajuda de aparelhos.
Repassei todas as ações de comunicação. Onde foi que eu errei? E cheguei a acreditar que isso só podia ser castigo dos gurus do marketing do Instagram pelo pouco caso com que trato suas fórmulas de copywriting.
Até que, faltando quatro dias para o evento, a torneira se abriu. As inscrições não mais pingavam, elas escorriam. Na véspera, fechamos em 370 inscritos. No dia, chegamos a quase 400. Uma estréia pós pandêmica sensacional.
Mas o que foi que levou as pessoas a esperar tanto?
Na verdade, sempre foi assim, mas nunca havíamos nos importado tanto, pois conhecíamos os hábitos de compra do nosso público. Tínhamos sempre certeza do desenho que o gráfico de vendas teria. Porém, dessa vez a sensação era de primeira vez em um novo mercado. Em um novo normal. Como se comportariam as pessoas agora?
Exatamente. Da. Mesma. Maneira. Pelo menos no que diz respeito à compra de inscrições em eventos técnicos do agronegócio. Será que estamos mesmo vivendo um novo normal ou o normal está acontecendo de novo?
De qualquer maneira, o evento tinha uma energia diferente. Uma energia boa, quase palpável. Eu quase podia tocar a alegria das pessoas, sabe? Sentia que todo mundo estava muito feliz por estar lá, por poder participar novamente do evento, por encontrar as pessoas… Felizes por viver novamente!
Sabe quando a gente pensa no passado e tudo parece ser melhor do que realmente era? Então, parecia 2019, mas melhor.
Esse foi o sentimento que me inspirou a escrever essa news. Hoje vamos falar exclusivamente de um assunto que já apareceu em algumas pinceladas por aqui: nostalgia.
De novo, Andrea? Sim, mas com outras reflexões.
Veja o que temos:
Não podemos escapar da nostalgia
As músicas antigas estão matando as novas? Spoiler: sim!
O que os remakes de filmes e séries nos diz sobre nostalgia?
O que a nostalgia causa ao cérebro (vídeo)
Links nostálgicos
Não podemos escapar da nostalgia
“We can't scape nostalgia” (não podemos escapar da nostalgia) foi o título de um artigo incrível de uma plataforma de escrita chamada Catapult.
A autora começa contando sobre um festival de bandas que fizeram sucesso nos anos 90 e 2.000, o When We Were Young Festival, que vai acontecer este ano em Las Vegas. O que chamou sua atenção foi a velocidade com que os ingressos se esgotaram, o que fez com que a organização abrisse uma nova data. Depois mais uma. Tudo indica que vai ser um enorme sucesso.
Diante disso, ela começa a discorrer sobre a nostalgia e seu poder de influência sobre as pessoas. Quero dar destaque para duas partes aqui (tradução livre):
“A lembrança excessivamente afetuosa pode levar a representações rasas e míopes da história que são facilmente mercantilizadas. (…)
» É verdade, gente! A gente se lembra das coisas da maneira que a gente ACHA que elas aconteceram. Uma juventude dura, por exemplo, por muitas vezes é lembrada como uma época maravilhosa por ser excessivamente romantizada. Por isso, desconfie de que diz “eu era feliz e não sabia". Muitas vezes a pessoa nem era assim tão feliz assim, mas supervaloriza o passado. Já passou, né?
A autora continua:
“A nostalgia explora nossas memórias, histórias conflitantes e desejos, conectando experiências individuais a narrativas mais amplas. Essa relação única entre memórias e registro público tem potencial transformador.
Por exemplo: pessoas que têm interesses em comum (Fábio Jr., Fusca, Beatles, etc) se unem e formam uma comunidade (hello Orkut!). Saber explorar as características em comum das comunidades e identificar padrões de comportamento facilita o caminho das marcas para os corações desse público.
As músicas antigas estão matando as novas?
Esse é o título de outro artigo EXCELENTE (“Is Old Music Killing New Music?”) sobre o consumo de música nos EUA. Nele, o autor coloca um dato impressionante: de acordo com a MRC Data, as músicas antigas já representam 70% do mercado musical dos EUA.
SETENTA POR CENTO!
Ele explora alguns motivos pra isso, passando da baixa audiência da TV, a perda de relevância do Grammy's, a falta de hits, a própria maneira de promoção das novas músicas, o risco de o artista ser processado por copywriting, que é maior hoje em dia que antigamente. E, como se não bastasse, com a tecnologia os artistas já mortos estão voltando de forma virtual, como holografia. Não tá fácil pros novos artistas.
Mas é impossível não pensar na força da nostalgia nessa situação. Afinal, as pessoas buscam o que já conhecem porque traz a elas conforto e segurança. E música, meus amigos, também serve pra isso.
Faça o teste: coloque no Spotify uma playlist do tipo “novidades para você”, escute por 30 minutos e depois coloque uma playlist do seu artista favorito. Como você se sente em cada uma?
Estreando… A novela dos anos 80!
Já percebeu que tem remake atrás de remake na TV e no streaming? Veja:
A HBO Max tem uma nova série de Gossip Girl e a série derivada de Sex and The City, And Just Like That.
No Hulu tem How I Met Your Father, uma série derivada de How I met Your Mother.
A Disney fez live-action dos filmes A Bela e a Fera, O Rei Leão e logo sai A Pequena Sereia.
O serviço de streaming Peacock, que ainda não está no Brasil lançou o remake de Punky, a Levada da Breca e a série Bell-Air, derivada de The Fresh Prince of Bell-Air (Um maluco no pedaço).
Na Globo temos a novela PANTANAL. Aliás, essa semana Maria Marruá virou onça para proteger Juma, sua filha. Icônico!
» Por que a TV e os serviços de streaming estão buscando fazer séries e filmes que são remakes ou que derivam de outros que fizeram sucesso no passado?
Acabou a criatividade?
Bom, não é bem por aí. Pense no Netflix. Tem um mundo de opções pra gente assistir, não tem? Às vezes me pego rolando tela abaixo e lendo sinopses por mais de meia hora, antes de apertar o play. Pudera, as opções são infinitas e o ser humano não lida bem com muitas opções de escolha. Muitas vezes ter muitas opções de escolha causa insegurança e ansiedade.
E a nostalgia serve também para nos dar segurança e nos colocar numa zona de conforto, lembra? É mais fácil então, pro nosso cérebro, escolher um título que a gente conheça.
Outro ponto: os serviços de streaming precisam de audiência e, se o lançamento dos remakes for bem feitinho, ele pode atrair grandes audiências. Eu já quero ver Punky A Levada da Breca. Cadê você, Peacock?
Para os anunciantes isso é melhor ainda, pois eles precisam de grandes audiências e, no mundo de hoje, anunciar em grande escala é cada vez mais difícil, pois o público está muito pulverizado.
É claro que a marca e a mensagem devem estar alinhados com o conteúdo do programa, tanto para chegar aos olhos do consumidores como seus executivos de marketing querem, quanto para não soar falso e diminuir a audiência do streaming.
Pergunta de milhões: Um remake é garantia de grande audiência? Não, afinal, nada do que foi será de novo do jeito que já foi um dia. Mas pelo menos gera um belo burburinho em torno do canal.
O que a nostalgia faz com nosso cérebro?
É o que nos responde esse vídeo (em inglês):
Links nostálgicos:
Texto da GAMA sobre o sempre nostálgico e sempre atual Ray-Ban Aviator
Sasha em um ensaio de fotos iguais às da Xuxa dos anos 80.
Você já ouviu falar em newstalgia? Esse artigo do Update or Die te explica.
A moda atual é inspirada nos anos 2.000. Mônica Salgado listou algumas das tendências neste post aqui. Em uma palavra: socorro!
Por que Pantanal teve o maior marketing de uma novela da Globo? Veja aqui.
E essa embalagem de café que é inspirada em uma fita VHS?
Meme da semana.
Isso lembrou-me Didi Mocó. Que nostálgico!
Achei que conseguiria fazer uma edição mais enxuta, mas não deu. Risos.
Você acha que essa news poderia ser mais curta? Se sim, me fala, tá?
Espero que tenha gostado dessa edição.
Nos vemos na próxima!
Um abraço,
- Andrea
(PS: para falar comigo, apenas responda esse e-mail ou escreva para andrea@ideaonline.com.br)
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👩🏻💻 curadoria e textos por Andrea Nunes, empreendedora, marketeira, curiosa e aspirante a escritora.