#110 - Como se esquecer de ser adulto
Às vezes, em meio às demandas e cobranças da vida adulta, a gente deseja, nem que seja por pouco tempo, voltar a uma época sem preocupações. Sem boletos. Sem marido, sem filhos, sem chefe. Sem encheção de saco, no bom português.
Como era mesmo se sentir assim, tão desobrigada?
No túnel do tempo das memórias, encontro alguns lances de uma época chamada adolescência. Eu morava com meus pais e só precisava tirar boas notas e respeitar o horário de voltar para casa. Dormia na casa das amigas de vez em quando, ia para uma excursão da escola aqui e ali. No início da faculdade só não tinha horário para voltar. Não morava com meus pais, mas eles ainda pagavam as minhas contas. Uma outra época para ser valorizada.
Entre esses lances, vieram alguns flashes de viagens. Os quartos divididos com diversas amigas. Os jogos da faculdade. As festas. Aquela galera amontoada, rindo até de madrugada, dormindo em qualquer canto.
Será que conseguiria fazer isso de novo?
Com 44 anos posso me dar certos luxos no quesito viagem. Posso viajar sozinha e curtir a minha própria companhia, ou posso ir com a família. Difícil é eu viajar com alguma amiga. Cada uma tem sua rotina e é difícil conciliar agendas e orçamentos. Excursão? Deus me livre.
A gente cresce e se isola, né? A vida adulta é uma vida mais sozinha. Mesmo quando a vida social é intensa, poucas pessoas se abrem para novos rostos adentrando seu círculo de amizade. A gente acaba se fechando em nossas bolhas e parece que tá tudo bem. E está. Até que, certo dia, você resolve furar a sua bolha.
Você compra um pacote turístico para um resort - lugar mais impessoal do mundo, segundo você mesma - divide quarto com gente que você tem zero intimidade e entra na programação coletiva.
É numa dessas que muita coisa pode acontecer, inclusive rejuvenescer uns dez anos. Talvez mais.
Foi assim comigo na semana passada. Em quatro dias de um campeonato de beach tennis em Comandatuba dividi o quarto com duas mulheres que eu já conhecia do clube que frequento. Além do quarto, dividi também a cama com uma delas. Fiquei um pouco tensa. Além de nos últimos anos só ter dividido a cama com meu marido, filhos e irmã, seríamos três mulheres com manias diferentes e rotinas de sono distintas. Tinha tudo para dar errado, para eu ficar irritada ou não dormir direito, mas eu estava determinada a furar a minha bolha. Fui aberta para o novo, o inesperado.
E assim, descobri nas minhas companheiras mulheres incríveis e companhias maravilhosas. Tivemos uma convivência muito tranquila e fiquei com dúvidas se seria assim se estivéssemos neste mesmo lugar vinte anos atrás. A maturidade também traz mais paciência, mais empatia, mais respeito. Não teve briga pelo secador ou por fios de cabelo esquecidos na pia. Mas teve conversas e risadas até a luz se apagar. E depois de apagada também.
Além delas, conheci pessoas de outras arenas, outros bairros, outras cidades. Lidamos juntas com as vitórias e derrotas nos jogos. Por ser um campeonato sem duplas fixas, fomos obrigadas a olhar nos olhos umas das outras. A confiar, escutar, aceitar. A pensar junto e discordar sem brigar. A perdoar erros e vibrar cada acerto. Uma colocou a outra pra cima quando foi necessário. Unimo-nos sem nunca termos nos conhecido.
Fora da areia compartilhamos nossas histórias. Gargalhamos juntas até a barriga doer. Trocamos causos engraçados, encontramos coincidências e cantamos Evidências.
Nesse ínterim, esqueci-me da família. Liguei em casa uma única vez. Esqueci o trabalho. Nem me passou pela cabeça que sou adulta e tenho responsabilidades. Senti-me adolescente na excursão da escola. Voltei para São Paulo com pelo menos dez anos a menos.
Você então deve estar pensando que é fácil se rejuvenescer na Bahia, acertei?
Não tiro o mérito da viagem, mas nesta última semana pude perceber a poção rejuvenescedora incluiu diversos ingredientes: o esporte, o sono reparador (sem ninguém me acordando de madrugada para dizer que fez xixi na cama), as horas que passei longe do celular, as novas experiências e a interação social leve e divertida. Muitos desses ingredientes podem fazer parte da nossa vida, sem a necessidade de sair de casa.
Em uma das manhãs da viagem, por exemplo, me peguei olhando para uma casinha de joão-de-barro com grande curiosidade, como se tivesse sete anos e não quarenta e poucos. Por um momento, aquela casinha em cima da árvore me puxou para longe. Imaginei histórias de pássaros que vão e vem. Perdi-me. Mais tarde, pensando ainda no joão-de-barro, percebi que pequenos gestos – uma risada despretensiosa, uma curiosidade qualquer – têm o poder de nos devolver algo que acreditávamos ter deixado para trás. E, por mais que o espelho insista em mostrar a realidade, há momentos em que a alma se sente leve, livre e, quem diria, rejuvenescida.
Talvez, no fundo, seja isso: ser curioso como uma criança e ávido por novas experiências e amizades como um adolescente. E deixar-se surpreender pelo simples, como quem decide, de repente, perder-se na casinha do joão-de-barro.
E o marketing Andrea Cristina?
Hoje só quero compartilhar uma campanha que fez dizer “que sensacional, queria ter criado isso”. Estou falando da ação “bonde das Mariahs” no Rock in Rio, promovida pela Havaianas.
Sabemos que Havaianas é puro suco de Brasil e que parte relevante da marca é manter essa conexão com o brasileiro.
Então, para promover os chinelos feitos em colaboração com o festival, manter a brasilidade e ligar isso à uma atração musical deste ano, a Havaianas reuniu 25 Mariah Careys para assistir o show da diva americana homônima. A campanha teve ainda a presença da influenciadora Samanta Alves, que brilhou na condução.
Não há nada mais brasileiro que Havaianas e ter nome de famoso. Ficou demais!
Não aprendi dizer adeus
🎞️ Dica de filme clichê, antigo, mas que se você não assistiu, assista: De repente 30. A cena da dança de Thriller me lembra a Bahia da semana passada. Só que a gente dançou a dança da mãozinha. Disponível no Netflix.
🚴🏼♂️ Quanto de exercício é necessário para combater os males de um dia sentado. Achei interessante esse artigo. É em inglês, mas já te dou a resposta: uma caminhada de 40 a 50 minutos.
✏️ Sabia que poesia pode mudar seu humor ou alterar sua perspectiva, mais que qualquer outro tipo de escrita? Agora existe um lugar que realmente prescreve poesia para uma boa saúde mental. The Poetry Pharmacy na Inglaterra é a primeira farmácia de poesia do mundo. Achei fofo, mas seria o suficiente?
🧳 Sites, perfis e podcasts para ajudar a organizar sua viagem. Da Gama.
👵🏼 Hoje falei sobre rejuvenescer, mas também já falei sobre envelhecer. Vale a pena ler de novo:
Agora vamos aos destaques da Newslettersfera:
A está completando 1 ano de !
A fez uma edição tão, mas tão legal sobre a 4ª parede no cinema. Adorei. Nem sabia o que isso significava, mas agora já dou de cult e digo por aí: adoram quando quebram a 4ª parede.
A fez uma análise filosófica de Emily em Paris, relacionando-a com A sociedade paliativa, do filósofo Byung-Chul Han e comparando-a a um band-aid para nossa realidade cheia de dores.
A ARRASOU nessa edição de piores músicas. Nossa. Estou com ódio até agora.
Mas deixo você ir
Com lágrimas no olhar de quem queria estar ainda na Bahia.
🎶 I don't want to stay here. I want to go back to Bahia 🎶
Um beijo e até a próxima semana.
- Andrea
quando a gente se abre para o novo, para outras experiências, coisas fantásticas podem acontecer.
Adorei! As vezes sair um pouco de com pessoas completamente diferentes faz um bem danado né?! Ta uma delicia de ler essa news!