De quatro em quatro anos me faço as mesmas perguntas:
- Como alguém descobre a aptidão para esportes tipo salto com vara?
- Será que se eu tivesse sido apresentada ao badminton, à esgrima, ao salto ornamental, ao hóquei de grama ou qualquer outro esporte diferentão quando eu era pequena, poderia ter chegado à disputa de uma Olimpíada?
Não sei. A beleza desses esportes está em suas complexidades e desafios únicos, que atraem aqueles que buscam algo diferente. Nenhum esporte que conheci na infância me fez querer praticá-lo. Será que eu não buscava esse “algo diferente”? Nunca saberei. Mesmo assim, não deixo de imaginar que eu posso ter nascido predestinada a ser uma estrela de algum esporte que nunca me foi apresentado.
É bom sonhar.
É bom também se contentar com a realidade que me foi presenteada.
Nasci em Jau, interior de São Paulo e lá fiquei até me mudar para fazer a faculdade na capital. Êxodo rural que fala, né? Fiz parte.
Lá em Jau, assim como em muitos lugares, tínhamos acesso a um número limitado de esportes na escola e no clube. Futebol, tênis, vôlei, essas coisas mais populares. Minha escola era única por ter sua própria pista de atletismo, onde, em algumas aulas de educação física, pudemos experimentar o salto em distância e o arremesso de peso. Só experimentar. Não havia um movimento para formar atletas ou mesmo aprimorar a técnica de alguém que se encantasse por esses esportes ou que apresentasse aptidão nas primeiras tentativas.
Brilhou os olhos pelo salto em distância? Pulou mais longe de todo mundo?Paciência, minha filha. Hoje, como em quase todos os dias, você vai jogar vôlei. Eram incontáveis as aulas em que não fazíamos nada além de jogar vôlei. As meninas, né? Porque os meninos só jogavam futebol.
Aliás, joguei tanto vôlei que, de pior da sala, comecei a jogar direitinho, mas peguei um ranço forte do esporte, porque continuava sendo a última a ser escolhida na formação de times.
Ainda assim, me sinto sortuda por ter experimentado uma ou outra modalidade do atletismo antes da pista dar lugar a mais um prédio de salas de aula. Era preciso angariar mais alunos e o esporte nunca foi prioridade.
Já em São Paulo, convivi praticamente sem o esporte, salvo uma corrida aqui e outra acolá. Coisa de Olimpíada mesmo e deixa isso pra lá. Foi assim até termos dois filhos e nos afiliarmos a um clube com muitas modalidades esportivas. Lá pude assistir, ao vivo e a cores, uma apresentação de nado sincronizado e a competições oficiais de judô e natação pela primeira vez na vida. Levei as crianças. Que maravilha eles poderem ter contato com esportes diferentes e ampliarem seus leques. Senti-me privilegiada.
Porém, mesmo lá, um clube com um leque gigantesco de opções, ainda há MUITOS esportes olímpicos que ficam de fora, o que me leva, novamente, à primeira pergunta:
Como é que as pessoas descobrem suas aptidões a esportes aleatórios?
Veja bem, o Brasil não é lá muito referência no quesito formação de atletas. As escolas, em sua maioria, estão preocupadas em aparecer lá em cima no ranking do MEC ou em quantos alunos passam no vestibular de alguma faculdade pública. O esporte fica em segundo lugar. Ou terceiro. Ou sem nem colocação nenhuma na lista de prioridades. Eliminado por W.O.
Não dá nem para exigir muito. Grande parte das escolas mal têm uma quadrinha decentemente pintada para qualquer coisa relacionada a esportes. Muitas delas lutam para manter ao menos as salas de aula minimamente frequentáveis. Mas já pensou que, se a realidade não fosse essa? Poderíamos começar a formação esportiva junto com a formação acadêmica.
Aí, nesse mundo ideal, as faculdades poderiam oferecer bolsas para atletas ou, ao menos, uns pontos a mais no vestibular caso o jovem tenha feito parte de algum clube esportivo no colégio.
Espera aí. Não é assim que funciona nos Estados Unidos? Quem é que está liderando o quadro de medalhas nas Olimpíadas mesmo? É a China, mas os EUA estão em segundo.
Não sou baba ovo do Tio Sam, mas não dá para esconder a inveja que sinto da formação esportiva de lá. Uma inveja que escorre verde dos cantos da minha boca. Por que raios eles são assim tão bons?
Porque vem da base. E como diz o dito popular, a base deles vem forte.
Mas a gente não precisa ir até os Estados Unidos para ver como políticas públicas são importantes para o esporte. Veja a Alemanha. Um país de 80 milhões de habitantes e uma potência no esporte. Tenho certeza que existem muitos talentos não revelados aqui, um país de mais de 215 milhões de pessoas. Mas países com educação pobre, não adianta, não vai ser forte em esporte.
Eu admiro tanto os atletas brasileiros... Se ser atleta em país de primeiro mundo já é difícil pelo tanto que se abdica em nome do esporte, ser atleta aqui é um ato de coragem. Ou resistência.
Por isso, acompanhar Olimpíadas, para mim, é ter uma lição de vida, de garra, de persistência e de amor ao esporte todos os dias. Eu choro, vibro, grito, xingo (16 minutos de acréscimo no futebol feminino foi demais) e adoro essa oportunidade que o esporte me dá de me emocionar a cada conquista, mesmo que seja um quarto lugar no tênis de mesa.
Aliás, faz duas semanas que estou obcecada pelos jogos. Passo 80% do meu tempo falando sobre Olimpíadas e, nos outros 20% eu torço pra que alguém fale sobre isso para que possa falar mais.
Tenho certeza que isso vem da atleta de esporte aleatório que vive em mim. Consigo me ver dançando com a fita na ginástica rítmica e lançando dardos para bem longe. Mas não deixo de imaginar como é que raios as pessoas vão parar nesse tipo de esporte.
E o marketing, Andrea Cristina?
Na newsletter anterior, mencionei na seção “Não aprendi dizer adeus” sobre os memes com a fotão do Gabriel Medina, que parece estar emergindo da água.
Essa imagem lembrou os antigos cadernos da Tilibra, que estampavam famosos e imagens de esportes e logo os internautas começaram a pedir à fabricante de cadernos que realmente a usassem numa capa.
Eis que, no início dessa semana, a Tilibra CONFIRMOU a utilização da foto na nova coleção. Fiquei bem impressionada com a velocidade que a empresa agiu, negociando direitos de imagem com o fotógrafo e o atleta no meio de uma competição da magnitude de uma olimpíada. Mais que anunciar o caderno, os lojistas já podem fazer o pedido!
Tipo, foi muito rápido mesmo. Este é o verdadeiro marketing de ocasião, ou marketing de oportunidade. Em minha opinião, vão vender MUITO, especialmente se levarmos em conta o que disse Ravi Dhar, diretor do Center for Customer Insights da Universidade de Yale: “a ocasião influencia na decisão".
Não aprendi dizer adeus
🥇 Onde praticar esportes olímpicos de graça em São Paulo.
🥇 Newsletters olímpicas:
A
escreve na dessa semana sobre filmes com histórias de atletas.
A Letícia da news
diz que tem algo em comum com Simone Biles: ambas preferem não saltar a se machucar.O
faz uma edição da divertidíssima, representando todos nós, obcecados com as Olimpíadas e sem entender metade das regras dos esportes.
A
fez uma edição muito completa e interessante sobre as mascotes olímpicas, na edição 150 da sua newsletter . Mas deixo você ir
Com lágrimas no olhar, porque as Olimpíadas se encerraram hoje. Não sei mais o que fazer da vida. Serei obrigada a voltar a trabalhar, me exercitar e cuidar das crianças.
Te conto mais na semana que vem.
Um beijo,
- Andrea
também sempre fico me perguntando como os brasileiros descobrem alguns esportes, porque não há qualquer incentivo para a grande maioria deles. nas olimpíadas, fala-se muito em estímulos e exemplos, mas depois o tempo vai passando e a discussão arrefece sem que nada seja efetivamente feito. vamos esquecendo dos atletas (mesmo os medalhistas) até nos surpreendermos de novo com eles quatro anos depois. as únicas exceções são os de esportes mais populares, como o futebol e o vôlei. com uma população do tamanho que tem, o brasil certamente tem tudo para ser uma potência olímpica, mas é preciso formação de base, já que um atleta de alto nível não se forma do dia pra noite.
Agora que acabou, eu nem sei mais o que fazer 🙁, depressão pós olimpíadas ahaha
Muito bom!