#105 - Quando Foz do Iguaçu me lembrou de NY
Calma, as cataratas não viraram Times Square
Parei diante da queda d’água e respirei fundo, absorvendo as gotas que caíam como chuva nos turistas. Teria feito uma oração ou meditação, não fosse pelos gritos das crianças e a preocupação do marido.
- A Mariana vai ficar doente, ainda temos o almoço antes do outro passeio.
Atrapalhada, mas absorta diante de uma das sete maravilhas do mundo, apenas pensei estar sendo abençoada por Deus, pela mãe natureza, pelo sol, por tudo que me rodeava.
Com o horário apertado e respeito tanto ao grupo de amigos que viajava conosco, quanto às súplicas das crianças por comida, deixei as Cataratas do Iguaçu para trás.
Não sei se consegui transmitir para as crianças o que estava acontecendo ali ou o privilégio que tínhamos em ver aquela maravilha de perto e sentir seu poder. Escutaram-me, pelo menos, antes de reclamar de fome.
Eu, por outro lado, não me esquecerei do barulho da queda, do frescor dos pingos, da alegria em ser batizada pela natureza. Aquele jorro abundante do elemento mais fundamental da vida, em sua forma avassaladora e ao mesmo tempo envolvente, gritou, a quem se prontificava a ouvir, que não somos nada nesse mundo. Nem maior, nem melhor, nem mais que ninguém. Somos todos minúsculos frente à poderosa biosfera ao nosso redor. Naquele momento, enquanto eu posava para fotos na passarela apinhada de turistas, as cataratas me deram a melhor lição que já tive sobre humildade e respeito.
E o marketing, Andrea Cristina?
Lá em foz do Iguaçu, meu filho viu as letras em um jardim, com os dizeres: “Eu ❤️Foz do Iguaçu". Observador que é, lançou:
- Mamãe, por que agora todos os lugares têm esse negócio de eu amo, coração, nome da cidade? Até Jaú tem isso!
Este é o gancho da edição de hoje para explorar a fascinante história por trás de uma das campanhas de marketing mais icônicas de todos os tempos: "I Love NY", que serve de inspiração para cidades de todo o mundo (até Jaú).
Essa campanha não é apenas um símbolo universal de Nova York, mas também um exemplo brilhante de como o marketing pode transformar a percepção de uma marca ou destino, de dentro pra fora.
O Contexto
Nos anos 1970, Nova York enfrentava um período de crise financeira e de imagem. Era uma época com altos índices de criminalidade, uma economia em declínio e uma população decrescente. Bem diferente daquela NY que personificava o sonho americano.
O caos era tanto que seus próprios moradores começaram uma campanha CONTRA a cidade, chamada "Bem-vindo à Cidade do Medo". Os meios de comunicação falavam sobre o risco de viajar no metrô e por que ninguém deveria ficar em um hotel em Nova York. Até a revista TIME publicava regularmente artigos menosprezando a cidade outrora icônica.
A cidade atingiu um ponto de inflexão. Algo para mudar seu destino. Uma nova identidade.
Foi quando os comissários do Departamento de Comércio de Nova York (DOC), John Dyson e Bill Doyle, ambos com décadas de experiência em Marketing financeiro, entraram em ação.
A Criação da Campanha
Em 1977, o Departamento de Comércio do Estado de Nova York tomou uma decisão arriscada. Aumentou o orçamento anual de turismo para 10x mais o que eles gastaram no ano anterior.
O objetivo era simples: alterar a percepção da cidade de Nova York para melhor, lançando uma das maiores campanhas turísticas estaduais da história dos Estados Unidos. A cidade precisava de um novo grito de guerra, algo com que se identificar, mas para atingir escala, eles precisavam de algo que transcendesse apenas os nova-iorquinos.
Parênteses aqui:
(Já reparou que a torcida brasileira fica gritando “lê-lelê-ô, lê-lelê-ô, lê-lelê-ô, Brasil”? Então, cá entre nós, eu DE-TES-TO esse gritinho, que não é de guerra nem aqui nem nas Olimpíadas de Paris. Sem charme, sem carisma, chata que dói, longe de ser algo que empurre atletas em direção ao pódio, como a Fiel faz com o Corinthians. Definitivamente não era isso que NY precisava. E não é isso que nossos atletas precisam. Se eu sou atleta e ouço o lê-lê-ô, acho que perco de propósito).
Fecha parêntesis.
De volta a NY, os comissários do Departamento de Comércio de Nova York (DOC), John Dyson e Bill Doyle, ambos com décadas de experiência em Marketing financeiro, entraram em ação e, em um brainstorming chegaram à ideia do I LOVE NY, por consideraram “love” uma das palavras mais fortes da propaganda (as outras, segundo eles, são “grátis", “novo” e “melhorado”).
Para executar a ideia, contrataram a agência de publicidade Wells Rich Greene, e o renomado designer gráfico Milton Glaser. Milton ficou com aquilo na cabeça até que, em um trajeto de táxi, esboçou a ideia original em um pedaço de papel. O resultado foi o icônico logotipo "I ❤️ NY". O coração, substituindo a palavra "love", e o uso da fonte American Typewriter deram ao logotipo uma simplicidade e impacto visual imediato.
A execução, por outro lado, não aconteceu imediatamente.
Por ser um marqueteiro de longa data, Bill decidiu colocar a frase em uma camiseta e usá-la durante suas férias em Barbados (destino comum entre os americanos). Lá, confirmou o sucesso. Foi parado diversas vezes por gente que queria saber onde ele havia conseguido aquela camiseta. BINGO!
O Impacto
Lançada em 1977, a campanha rapidamente se tornou um sucesso. O logotipo foi utilizado em camisetas, bonés, e diversos souvenirs, tornando-se um símbolo de orgulho não apenas para os nova-iorquinos, mas também para visitantes do mundo inteiro. O turismo aumentou e trouxe mais investimento para a cidade.
Ou seja, o “I Love NY" ajudou a redefinir a identidade de Nova York, mudando a percepção pública e contribuindo para a recuperação econômica da cidade.
Por Que Funcionou?
Simplicidade: O design simples e direto do logotipo facilitou sua memorização e reprodução.
Emoção: O uso do coração evocou uma conexão emocional instantânea.
Identidade: Capturou a essência de Nova York, celebrando seu espírito vibrante e resiliente.
O marketing interno tem grande impacto: os próprios nova-iorquinos reivindicaram o lugar de cidade do sonho americano.
Fim
Não aprendi dizer adeus
Das minhas abas para as suas:
Dois sorvetes brasileiros estão entre os mais icônicos do mundo.
Usuários pedem caderno com foto de Medina, e Tilibra comemora: “Trabalhando para seguir surfando grandes ondas”.
Olimpíadas sem carisma, newsletter da Associação dos Sem Carisma
Estou adorando acompanhar a newsletter
, da , sobre o universo dos vinhos, com várias dicas de rótulos, restaurantes e unas cositas más. Nessa edição aprendi mais uma: começar as receitas com o sofrito, ao invés do refogado de alho e óleo.Na edição passada, tivemos uma autora convidada no texto de abertura, a
, da . Veja aqui:Em troca, escrevi para a Pet Letters sobre ser mãe de pet de primeira viagem. Veja a edição aqui:
a Marina e eu somos cria da
. Conhecemo-nos em sua Comunidade de Escrita afetuosa, assim como a nova estreante do Substack, a , que assina . É uma curadoria de conteúdo sobre a escrita, coragem e intuição. Gabi escreve lindamente, vai lá ver!Pra terminar, durante minha pesquisa sobre a campanha do I Love NY, encontrei uma ilustração no The New Yorker com algumas variações:
Mas deixo você ir.
Hoje diretamente de Atibaia. Estamos aqui com amigos, curtindo um fim de semana sem crianças para comemorar o fim das férias. Hehehe.
Até semana que vem!
Um beijo,
- Andrea
obrigada pela indicação, você sabe que sem vcs não seria a mesma coisa ❤️
fiquei imaginando você olhando hipnotizada e seus filhos te puxando pela manga da blusa pra comer kkkk a mãe tá onnnn!!!