Lembra daquele reality show, troca de esposas? Não foi inspirado nele, estou usando-o só como contexto (tosco) porque essa casa aqui recebeu hoje uma autora convidada mais que especial.
Conheci a na comunidade de escrita afetuosa da Ana Holanda e logo nos conectamos. Pensamos muito parecido a respeito da escrita, fui uma das incentivadoras da sua newsletter, e sou uma admiradora da força e coragem que ela tem em mudar o foco da sua vida e correr atrás de um sonho antigo.
É justamente sobre isso que ela escreve aqui: a nossa capacidade de ser plural.
Com vocês, Marina.
No meu primeiro dia de aula do ensino médio, a professora de redação entrou na sala e deu o recado: “se você estava acostumado a ir bem em redação, se prepare. A partir de agora, sua nota vai cair”. Fiquei arrasada. Redação era a única disciplina que eu era boa de verdade. Ela não poderia estar falando sério, né?
Só que estava, sim. A dureza da dissertação pré-vestibular passou por cima da poesia, da ficção e das minhas notas. A escrita criativa teve que dar licença para assuntos mais urgentes: física, química, matemática. Simulados, provas e recuperações. Para passar na Fuvest eu não precisava escrever romances e contos. Eu precisava aprender exatas. Assim, o hábito da escrita foi enterrado cada vez mais fundo dentro de mim.
O início da minha vida profissional foi um rio no qual segui a deriva. Me ensinaram que era certo fazer tal faculdade, aquela pós-graduação, obter um título de mestre. Segui o fluxo obedientemente. Até que, um dia, perto dos meus 30 anos, percebi que estava prestes a me afogar. Agarrei na margem. Passei um bom tempo tomando fôlego até assumir o problema que, naquela altura, já estava escancarado. Eu não estava fazendo o que amava. E isso me deixava completamente infeliz.
Eu havia caído na comum armadilha do piloto automático, como a maioria de nós. Vivemos como zumbis inconscientes, desconectados do nosso propósito. Não temos tempo de olhar para dentro. Estamos preocupados demais com o que os outros vão pensar e com o que o mundo espera de nós. Tentamos desesperadamente provar alguma coisa sem sequer saber, de fato, o que é.
Fazemos isso porque é fácil viver assim. Como seres preguiçosos que somos, buscamos sempre o caminho mais cômodo. Vamos ser sinceros: a estrada do autoconhecimento é longa e espinhosa. Precisa ter muita força de vontade para erguer as mangas, calçar as botas e se aventurar dentro de si até chegar nos pântanos profundos, enlameados, repletos de cobras (e de outras criaturas que nem foram identificadas). Só que é dentro dessa lama que também estão enterrados os baús com os nossos tesouros mais preciosos, só esperando para serem descobertos.
Pode ser que, no auge dos meus 15 anos, eu não tivesse maturidade para fazer essa viagem. Mas, anos depois, criei coragem. Consegui abaixar o volume estridente do ego para ouvir o sussurro do coração. O único mapa capaz de mostrar aonde estavam meus talentos, paixões e habilidades. E quer saber? São coisas legais demais para serem rotuladas pelo nome de uma profissão.
Eu, Marina, sou escritora, médica veterinária, dona de casa, pianista, fotógrafa profissional de Iphone, cantora de chuveiro, PhD em desenhos da Disney e defensora de histórias que aquecem corações. A Andrea, dona dessa News, é publicitária, escritora, marqueteira do agronegócio, sapateadora, aspirante a atleta de fim de semana, mãe de humanos e, mais recentemente, de um cachorro.
E você?
Te convido a destrancar a porta que leva para dentro e enfiar as botas na lama. Nunca é tarde demais para se reinventar, testar, arriscar, errar, se apaixonar e começar tudo outra vez. Colocar o pé na estrada para fazer um reencontro com a pessoa mais importante da sua vida: você.
E o marketing, Andrea Cristina?
Ouvi a expressão “lifelong learning”, ou “aprendizado contínuo” em 1998, no colégio. O professor de história levara para a aula um artigo de Gilberto Dimenstein, que começava com a história de um senhor de mais de 80 anos que havia decidido aprender espanhol.
Na época achei interessante, mas dei a isso a importância que uma adolescente de 17 anos dá às coisas. Ou seja, quase nenhuma.
Mas aquilo ficou na minha cabeça, tanto que me lembro da cena até os dias atuais, que têm o lifelong learning na ponta de língua (e nos posts do LinkedIn) de muita gente.
Mesmo virando uma expressão carne de vaca, o aprendizado contínuo nunca fez tanto sentido. A medicina avança a passos largos e, consequentemente, nossa expectativa aumenta. Isso significa que viveremos MUITO, se Deus quiser.
Aí a gente para e pensa: eu vou querer ser apenas uma coisa a minha vida inteira? Fazer os mesmos exercícios? Praticar os mesmos esportes? Ter os mesmos hobbies? Eu não quero. A vida é muito longa para a gente ser uma coisa só.
E o que isso tem a ver com o marketing?
Bom, analisando campanhas publicitárias e posicionamentos de marca, a gente consegue identificar que muuuuuuuitas delas vendem emoções que levam o consumidor a uma mudança. A querer mais. A buscar ser melhor. A mudar de profissão. A realizar sonhos, independente da sua idade.
Não estou falando de marcas que vendem a todo custo a ilusão imagem de que podemos ser sempre mais bonitos, mais inteligentes, mais isso e mais aquilo, outras mexem com nossos desejos mais profundos de tentar algo novo.
A Nike, por exemplo, não vende equipamentos esportivos, vende MOTIVAÇÃO. Just do it. Apenas faça. Calce um tênis e corra. Atinja seus objetivos. Conquiste a vida que você deseja. Nunca é tarde para começar algo novo. Por isso eu amo a campanha de 2021, que tem como tema VAI NO NOVO:
O Duolingo também sabe trabalhar o aprendizado contínuo. Nunca é tarde para aprender outro idioma e eles mostram que isso pode ser fácil e divertido, em qualquer idade.
Escolas profissionalizantes têm os melhores exemplos de vender o conceito lifelong learning. A StartSe faz isso muito bem:
Fiz a ponte entre publicidade e a busca pelo aprendizado contínuo não para dizer que esse é apenas um mote de vendas, mas também para dar continuidade e reforçar o texto da Marina, sobre sermos mais de uma coisa ou outra, ou nos definirmos por uma profissão que decidimos seguir aos 17 anos, ou nos limitarmos a crenças antigas de que já somos velhos para tentar algo novo.
Não aprendi dizer adeus
Antes de mais nada, meu texto na Pet Letters é sobre ser mãe de pet de primeira viagem. O Toddy está aqui em casa há pouco mais de 1 mês e já mudou muita coisa por aqui. Vai lá ver que, além do texto, tem fotos do catioro fofíneo.
E já que falamos sobre pluralidade e o aprendizado contínuo, hoje te indico:
➡️ Este artigo da Gama: “O que querem os avós?”, sobre os dilemas daqueles que não querem apenas cuidar dos netos.
➡️ Nano MBAs das melhores marcas do mundo. Aulas de criatividade que prometem ser transformadoras.
➡️ 11 dicas para quem tem ou deseja ter uma newsletter, do Rodrigo Casarin.
➡️ Essa edição da Bits to Brands, da Beatriz Guarezi, com 5 jeitos não óbvios de aprender branding.
➡️ A edição dessa semana da Cyne News, da Cynthia Esteves, que indica filmes sobre escritores, suas dores e desafios. Perfeitos para minha fase escritora da vida.
➡️ Já que falamos de Nike e as Olimpíadas começaram ontem, preciso colocar aqui a campanha da marca para os jogos de 2024, com o tema “Sou uma má pessoa?”
Mas deixo você ir
Com uma frase de uma pessoa conhecida:
"Quanto mais aprendo, mais percebo o quanto não sei." - Albert Einstein
Este é um dos grandes paradoxos da vida. Quanto mais você aprende, mais você é exposto ao imenso desconhecido. Isso deve ser fortalecedor, não assustador.
Abrace sua própria ignorância. Abrace o lifelong learning.
Um beijo e até a próxima!
- Andrea e Marina
Adorei o texto da Marina e as dicas estão ótimas.
Peraí, como assim você é Pianista dona Marina?! E eu toquei piano por muuito tempo 💜
Muito boa news, e amei a troca que vocês fizeram. Me vi todinha nesse texto!