A vegetação densa do pântano escondia o dia ensolarado. Entre os juncos e raízes submersas, uma cobra movia-se silenciosamente. Sua pele escamosa refletia os poucos raios de sol que conseguiam penetrar a copa das árvores. Seus movimentos eram fluidos, mas seus olhos estavam fixos em um sapo distraídos, empoleirado em uma folha de vitória-régia.
O pobre sapo, alheio ao perigo iminente, inchava sua garganta com um coaxar baixo e tristonho. Parecia prever seu fim. Cantava sua canção de despedida enquanto a cobra se aproxima com precisão letal. Silêncio.
De repente, em um movimento rápido e decidido, a cobra dá o bote. O sapo, com suas pernas preparadas para o salto que nunca deu, sente as presas afiadas de sua predadora e, em poucos segundos, seu corpo liso e desfalecido é engolido pela cobra, que se esvai satisfeita pelo silêncio mortal do pântano.
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Assim como a cobra, também são predadores dos sapos alguns pássaros como garças e cegonhas, guaxinins, lontras e certos peixes predadores, como percas e bagres.
Humanos, por sua vez, preferem as pernas do anfíbio, que são limpas e marinadas antes de serem fritas, grelhadas, assadas ou cozidas em sopas e ensopados. Na França, são famosas as “cuisses de grenouille”, prato com insígnia de iguaria clássica da culinária local.
Porém, nenhum livro de biologia ou gastronomia traz uma receita para os sapos que engolimos, dia após dia, sem tempero ou cozimento.
Engolir sapos. A tal situação desagradável que precisamos tolerar vez ou outra. Pode ser um e-mail passivo-agressivo do chefe, uma exigência sem cabimento de um cliente, um palpite sobre como você cria filhos vindo de uma conhecida que não é mãe. Você sabe do que estou falando.
São sapos e mais sapos engolidos para que se evite discussões, saias justas, brigas e a paz reine absoluta.
Porém, sapos, em sua maioria, têm um sabor amargo. Prendem-se na garganta. Quase nos sufocam. Por isso, aprendemos que é necessário reagir. Confrontá-los. Encará-los de frente, para que eles não nos sufoquem. “Não leve desaforo para casa” é ainda uma frase muito comum em muitos lares deste mundo.
Mas, já parou para pensar que, se sempre enfrentarmos todos os sapos, a vida vira um campo de batalha?
E aí, qual a solução? Sufocar ou guerrear?
Já tive as duas fases. Até hoje, existem dias que parto para a guerra. Existem outros que durmo com a boca amarga. Mas o tempo e a maturidade nos ensinam a escolher alguns sapos para engolir e outros para confrontar.
Aprendi que tem sapo que a gente engole que não é indigesto.
São concessões que a gente faz e que não nos custam nada. Não vão mudar a hora do Brasil, como diria minha mãe. Um pequeno sacrifício em prol de um bem maior. São sapos que, se engolirmos, não vão nos sufocar. Ao contrário, vão nos ensinar lições sobre flexibilidade, paciência e resiliência, enquanto nos mostram que nem todo obstáculo é puramente negativo.
Não estou dizendo que não devemos nos posicionar diante tudo, apenas que, em muitas situações, dá pra ser sim como a cobra, que engole um sapo inteiro e ainda descansa feliz no pântano fresquinho.
E o marketing, Andrea Cristina?
Na Polônia tem muita gente que não vai mais precisar engolir sapos amargos com conversas desconfortáveis.
Isso porque a IKEA Polônia publicou um Dicionário da Boa Linguagem. Trata-se de um guia que promove uma linguagem inclusiva, confrontando a retórica prejudicial e excludente na comunicação cotidiana.
O dicionário foi criado com sete ONGs, como parte da campanha #ChangingTheNarrative da IKEA. Cada seção deste material é dedicada à linguagem relacionada com diferentes grupos vulneráveis à discriminação: pessoas com deficiência, a comunidade LGBTQIA+, minorias étnicas, refugiados, e até idosos.
De acordo com o Trend Watching: “O Dicionário da Boa Linguagem foi projetado para ser acessível e de fácil compreensão. Cada capítulo lista quais palavras são desencorajadas e por quê, juntamente com alternativas sugeridas". A intenção é que, com ele (um e-book de download gratuito), as pessoas reflitam antes de magoar involuntariamente alguém, além de incorporarem as novas palavras e expressões em suas conversas cotidianas.
Achei TÃO bacana essa ação… Hoje em dia, em que as marcas parecem ter como jargão o “quem não lacra não lucra”, a IKEA nos mostra como usar realmente a empatia para EDUCAR a população ao invés de apenas militar para parecer bacana na mídia.
O que você achou?
Não aprendi dizer adeus
Já que falamos de sapo, uma das principais atrações do Magic Kingdom, o Splash Mountain, foi renovada, ganhando a temática do filme "A Princesa e o Sapo". Clica no link pra ver que linda que ficou.
Direto da biologia: pesquisadores brasileiros podem ter descoberto a única espécie de anfíbio capaz de realizar polinização.
O Tweet, ou melhor, o Xuíte do dia.
Mas deixo você ir
Mas não sem antes te dizer que, na semana que vem, eu e a Marina Cyrino, autora da newsletter Pet Letters, vamos trocar posts. Eu serei autora de um texto da Pet e ela vai assinar um texto aqui na Me Conta.
Assim vocês não se cansam de mim, néam?
Um beijo e até a próxima semana!
- Andrea
acho que engolir sapo faz parte da nossa dieta de crescimento pessoal. como você falou, a gente precisa aprender a identificar as batalhas pelas quais vale a pena lutar. do contrário, tudo vira uma grande e cansativa guerra que não leva a lugar nenhum. fácil não é, mas viver não é para amadores.
E adorei ver a menção da splash mountain. Ficou linda mesmo (mas confesso que estou com dificuldades de desapegar da original 💔)