Tem dias que é difícil escrever. As ideias não vêm. A gente fica meio que sem ter começo, sabe? Na verdade, começar é mais difícil que qualquer coisa. Depois de começado, o texto flui. Ainda bem que sofrer dos brancos de inspiração não é um problema só meu.
Esses dias mesmo, a Roberta Assunção, autora da newsletter Palavruda desabafou no Notes do Substack sobre estar sem inspiração para escrever sua edição da semana. Eu lhe aconselhei a escolher um objeto qualquer ou a última foto do seu rolo da câmera no celular, técnicas que aprendi com a Ana Holanda, e partir dali.
Não sei ainda se consegui ajudar a parceira de escrita, só sei que logo em seguida foi a minha vez de me ver sem ter por onde começar, quando me lembrei de um joguinho que as crianças têm: o Story Cubes.
Rory's Story Cubes são conjuntos de dadinhos utilizados para criar histórias. Cada conjunto contém nove dados, com cada dado exibindo seis ícones diferentes, totalizando 54 imagens no total. Os jogadores lançam os dados e usam as imagens resultantes para inventar narrativas épicas, educativas ou de fantasia. Super bacana para exercitar a criatividade, explorar diferentes cenários e histórias.
O que meus filos têm é do tema HERÓIS. Ok, vai ser difícil.
Lancei os dados e os ícones que saíram para mim foram:
Quase desisti, confesso, mas resolvi tentar e me aventurar numa história de herói. Saiu uma coisa meio tosca, mas as crianças adoraram. Rafael até pediu para levar para a escola e isso me fez me sentir roteirista da Marvel. Justamente por passar pelo crivo dos meus leitores mais exigentes, decidi que esta seria a história da newsletter dessa semana.
Então, aqui vai. As partes em negrito correspondem às imagens dos cubos.
O Super Psy Jumper.
Era um dia tranquilo na cidade de Cubos City.
Johnny Jackson seguia sua rotina normalmente. Acordou, tomou seu shake de proteína, vestiu a camisa do seu time do coração e seguiu para sua prática de ginástica olímpica. Atleta local consagrado, Johnny representaria a cidade de Cubos City nos jogos regionais, que estavam se aproximando. Para isso, precisava treinar suas habilidades no cavalo. A exemplo dos gregos da antiguidade, Johnny Jackson treinava ginástica não apenas para os jogos, mas também para outra defender sua cidade de outra forma: combatendo o crime.
O que ninguém sabia era que Johnny Jackson tinha poderes especiais.
Tudo começou em uma noite estrelada, no ginásio olímpico. Johnny estava lá sozinho. Havia combinado com seu técnico que treinaria seus saltos um pouco mais. Ficou com a chave, despediu-se da equipe e focou em seus treinos.
De repente, Johnny viu uma luz muito forte, vindo do lado de fora. Andando cautelosamente, passou pelas flâmulas que indicavam a saída do local e, quase sem sair de trás delas, avistou um ser alienígena em cima de uma espaçonave. Ele tinha uma forma muito parecida com a de um humano, mas suas pernas eram curtas, contrapondo-se a seus braços longos. Usava uma máscara e capa, o que fez Johnny pensar que pudesse ser algum tipo de ladrão intergaláctico.
O ser parecia perdido na Terra. Sinalizou algo ao atleta, que piscava como se tentasse acordar de um possível sonho fantástico. Johnny suava sem parar. Havia sido descoberto atrás das flâmulas. Mas, por algum motivo, ao invés de correr, Johnny saiu de seu esconderijo e aproximou-se.
Johnny e o alienígena caminharam um em direção ao outro, pé ante pé, encarando-se mutuamente, quando, em um salto, o alienígena fundiu-se ao corpo do ginasta. Tinha tanta certeza deste movimento, que parecia ter vindo ao planeta para encontrar quem o desse refúgio. Como se ambos fossem a mesma pessoa em diferentes galáxias.
A fusão gerou uma luz forte e rápida, como se uma bomba tivesse explodido ali. Uma bomba que deixou Johnny inconsciente, deitado na grama, poir alguns minutos. Ao acordar, confuso e cansado, olhou ao redor. Tudo parecia normal. Sem saber se estivera sonhando ou se o encontro com o alienígena tinha mesmo acontecido, o atleta decidiu encerrar a noite de treino e voltar para casa.
No dia seguinte, foi acordado com o rádio relógio às 6:30 da manhã, como de costume. Johnny levantou-se e passou a se arrumar ouvindo as notícias da rádio local. “Só problemas, como sempre”, pensou. Buracos nas vias expressas, congestionamentos e uma lagarta gigante na Ilha Ensolarada, que ficava a poucos quilômetros de Cubos City.
“Lagarta gigante?”
Num ímpeto, Johnny começou a pular desenfreadamente pelo quarto. Seus pulos eram altos, para além do limite humano. Sua cabeça chegava a tocar o teto e ele não conseguia parar. Seu instinto mandava-o pular. O mesmo instinto mandava-o para fora de casa, para a Ilha Ensolarada.
Logo, percebeu que seus pulos podiam ser usados como uma forma de transporte. Em pouquíssimos minutos, Johnny se viu na Ilha Ensolarada, encarando uma lagarta gigante. Um monstro que surgiu sem que ninguém soubesse como e que estava destruindo as plantações dos moradores locais.
“O que estou fazendo aqui? O que eu faço com este monstro?”, repetia a si mesmo o confuso ginasta.
Novamente, algo dentro dele parecia guiar suas ações. Johnny olhou nos olhos do monstro e começou a falar com ele telepaticamente. Disse que ali não era seu lugar e que ele deveria ir embora.
Devagar, a gigante lagarta foi se afastando, até desaparecer no mar.
Desde aquele dia, Johnny Jackson passou a ser a identidade secreta de Super Psy Jumper, o herói de Cubos City. Sempre pronto para combater forças do mal, Super Psy Jumper tem apenas um desejo para os próximos dias: que os bandidos de Cubos City não atrapalhem seus treinos para a regional de ginástica olímpica.
Não aprendi dizer adeus
Essa foi a segunda vez que escrevi sobre não ter um pingo de ideia sobre o que escrever. Saiu bem diferente da anterior. Veja só:
Mas deixo você ir
Vi na newsletter da Ana Holanda de hoje a seguinte frase:
“Mudanças causam isso na gente. Desconforto. É assim na escrita também”.
Ter que escrever sobre alienígenas e incluir aquele monte de imagens esquisitas dos Story Cubes me fizeram tremer na base. Será que sai alguma coisa daí? Por mais tosca que tenha ficado a história, saiu. Saiu e resolveu meu problema de conteúdo, além de me desafiar. E isso só aconteceu porque me coloquei em movimento. É nessa hora que a gente descobre que, mesmo desconfortável, às vezes é preciso se arriscar para conseguir fazer diferente.
Que tal rolar seus dados?
Até a próxima semana!
- Andrea
adorei a ideia dos dados. só não compraria de herói, porque sou péssimo pra esse tipo de história…
Eu simplesmente amei o texto! Achei genial a ideia 💜
Já quero comprar um trem desse ahaha