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Errei no presente de dia dos pais do marido. Às vezes acontece. Paciência. Sobrou pra mim a tarefa da troca.
Cheguei na loja de artigos esportivos, encontrei o item que ele queria e ainda me sobrava um saldo que, segundo a vendedora, devia ser abatido naquela mesma ocasião, pois não era possível armazenar o crédito.
“Vou então aproveitar a liquidação e pegar uma legging pra mim". Quem nunca?
Porém, todas as peças que eu escolhia não estavam em promoção, até que, cansada, pedi para a atendente me ajudar, apontando-me os itens com valor reduzido. Eu queria uma peça básica, sem muita estampa e ela começou a me mostrar as opções.
“Esta entrou na promoção, mas não é básica, você não vai conseguir usar. Esta aqui também, mas precisa amar essa cor. Você ama? Então não. Esta também entrou, mas vermelha assim ninguém quer".
Eu fui me divertindo com suas apresentações. Você pode até estar pensando que ela queria que eu escolhesse uma peça com valor cheio, mas preciso acreditar que ela estava sendo sincera, até porque eu concordei com todas as suas colocações.
Até que, em meio a tanta opção que não era bem opção, surge uma calça do jeito que eu queria, em liquidação, pra honrar o crédito que não poderia ficar “pendurado".
Coisa parecida aconteceu comigo em uma loja da Apple, nos Estados Unidos. Eu queria uma boa caixa de som e, quando vi uma linda-maravilhosa-vintage, perguntei ao vendedor se ela era boa. Ele não sabia, mas disse que poderíamos testá-la e começou a abrir a embalagem LACRADA.
Não era boa. Não fiz a compra. Ele não se abateu, agradeceu e disse que estava à disposição.
Acho que não preciso nem dizer que a conduta desses dois vendedores me conquistou. Uma sinceridade que não foi, nem de longe, um “sincericídio”.
Foi-se o tempo que você provava uma roupa e, mesmo que estivesse péssima no seu corpo ou que a cor não lhe caísse bem, a vendedora dizia que você estava arrasando. Quer dizer, é claro que isso ainda existe, mas está perdendo espaço, pois um consumidor enganado não volta nunca mais.
Na news de hoje falamos sobre sinceridade. Enjoy!
Sinceridade vendedora
(Post inspirado pelo e-mail Marketing Millenials de 24 de julho de 2022, que me trouxe esse case belíssimo)
Aí você vê o anúncio da Patagonia no The New York Times, que diz: NÃO COMPRE ESSA JAQUETA.
Você lê ou não lê o resto?
Acho que fica, no mínimo, com a pulga atrás da orelha. Que raios! Por que uma empresa gasta dinheiro com espaço publicitário para falar para as pessoas não comprarem seus produtos?
No texto, a empresa diz que é época de Black Friday, uma época conhecidamente por seus gastos excessivos e - vamos concordar? - muitas vezes desnecessários.
Embora a gente (eu) adore uma comprinha, o consumo exagerado leva a um desequilíbrio ambiental, uma vez que a manufatura de produtos utiliza-se de recursos naturais, cada vez mais escassos.
No texto do anúncio, a Patagonia diz o tanto de água que a fabricação da jaqueta utiliza. Mas também diz que ela é feita de poliéster reciclado, que dura muito e é por isso que ela é uma best seller da marca. Mas, para não desperdiçar recursos naturais do planeta, não compre se você não estiver precisando (parece escrito pelo meu pai).
Para tudo. Os caras foram MUITO feras nesse anúncio.
Dá até pra enumerar os acertos:
Acertaram no título. Como falamos, quem é que não continua lendo depois de um título desses? Um dos papas da publicidade, David Ogilvy dizia que quando você escreve o título do seu anúncio, você gasta 80% do seu investimento, uma vez que cinco vezes mais pessoas lêem o título do que o corpo de um anúncio. Ou seja, se o título capturar a atenção do consumidor, o resto do anúncio será lido. Se não, é bem pouco provável.
Os valores da marca estão explícitos sem precisar dizer que “nós valorizamos mais o meio ambiente que nossos lucros". Isso é o que o leitor entende quando começa a ler sobre o desperdício e sobre os efeitos negativos do consumismo para o meio ambiente.
O call-to-action não é o “compre agora”. É “junte-se às nossas causas”.
*Call-to-action (CTA) é uma chamada para a ação, ou seja, é um comando que indica o que o consumidor precisa fazer ao ler um e-mail, um anúncio, visitar um website etc. As ações podem ser diversas, como inscrever-se numa newsletter, marcar uma reunião, baixar um material, entrar em contato, comprar, entre outras.
Embora a Patagonia tenha como objetivo fazer o consumidor pensar melhor antes de comprar, as vendas aumentaram em 30%. Irônico, né? Mas o que é imensurável mesmo é o quanto eles ganharam em branding. Quem é que não admira uma empresa dessas?
Quando o branding não é sincero
Quem se lembra do tão celebrado desfile anual das Angels da Victoria's Secret?
As modelos, já magérrimas, faziam dietas espartanas e muitas vezes recorriam a medicamentos para estar na forma perfeita para a lingerie diminuta e as grandes asas da passarela. Nem preciso dizer que seus corpos eram (e ainda são) praticamente inatingíveis por boa parte da população e a falta de representatividade era praticamente parte da marca.
Bom, o mundo mudou. Os consumidores começaram a reclamar pela falta de diversidade e as próprias “angels” acusaram de tóxico o ambiente de trabalho. A empresa começou a perder vendas e fechar lojas. Pudera, a Victoria Secrets nasceu para o público masculino e, mesmo quando resolveu vender para mulheres, manteve uma comunicação totalmente voltada para as fantasias masculinas.
Para buscar uma nova imagem, a empresa aumentou a oferta de tamanhos de seus produtos e trouxe novas embaixadoras para a marca, dessa vez com modelos plus size, atletas e mulheres de diferentes etnias.
Houve também muitos pedidos de desculpas online, como este abaixo.
O último ano, inclusive, foi inteiro de pedidos de desculpas, uma tentaiva de mudar a imagem da marca. Porém, uma matéria recente do Wall Street Journal mostrou que “muitos clientes não perceberam que a empresa fez alguma mudança.”
Intrigada com isso, a jornalista de moda Amy Odell foi até uma loja para fazer uma pesquisa de campo para sua (maravilhosa) newsletter Back Row. Chegando lá, deu de cara com isso:
Começou mal. Além da comunicação ser praticamente a mesma de antigamente (modelo linda, magra, sexy), a loja era EXATAMENTE a mesma, com os mesmos elementos, as mesmas cores, mudando apenas uma ou outra comunicação nas TVs e nos cartazes das araras. Até o cheiro da loja e os modelos das lingeries são os mesmos, a diferença é que eles agora vêm em tamanhos maiores. Ou seja, tudo lembra a VS de antigamente.
Que reposicionamento de marca é esse, gente?
Quando a gente quer mudar a percepção de valor que uma marca transmite, temos que fazer uma mudança radical. Normalmente mudam-se as cores, as fontes utilizadas, o conceito da comunicação, os estilos dos produtos, as lojas, enfim, tudo, porque todos os elementos ligados à marca ajudam a contar sua história.
Não vou me alongar aqui, vale a pena ler a análise da Amy, mas o que parece, pra quem está vendo de fora, é que a mudança do posicionamento da marca não é genuíno. Ao contrário, parece falso e, as poucas mudanças que a empresa fez, soa como se fosse somente para manter o protocolo.
Ou seja, a principal mudança que a empresa deveria ter feito, que é na sua alma, nos seus princípios, valores e cultura, permanece inalterada.
Pelo menos é essa a história que ela está nos contando.
É vida real que você quer?
Tive que usar o subtítulo deste post do Update or Die, porque eu simplesmente amei os Fockups, que são “mockups da vida real”.
Antes de tudo, deixe-me esclarecer pra você o que é um mockup.
Quando você cria uma arte digital e quer mostrar para seu cliente como ela ficaria no mundo físico, você “aplica” essa arte em um mockup, para simular a cor, tamanho, proporções, dentre outras características do projeto.
Por exemplo, se fiz essa arte aqui embaixo:
E quero usá-la em canecas promocionais, o fornecedor das canecas vai fazer um mockup mais ou menos assim para eu aprovar o projeto:
Podemos ter mockups de várias coisas:
Mas os mockups são representações perfeitas, né?
Você já viu como fica um cartaz na vida real? Uma bandeirola ao vento? Ou onde as pessoas acabam vendo os conteúdos das redes sociais?
Já que hoje estamos falando de sinceridade, nada mais justo que incluir aqui os “Fockups”.
Você pode baixá-los para aplicar em seus próximos projetos AQUI.
Não é post patrocinado, mas poderia ser.
Responda com sinceridade
Sem essa de blend isso, aroma aquilo. Por que é que a você toma café, mesmo?
Se você tiver alguma história de marca sincerona, me conta que eu adoro saber!
Nos vemos na próxima semana!
- Andrea